terça-feira, 2 de novembro de 2010

Na campanha de Dilma, a dura prova das ruas

Claudio Leal Agora que Dilma Rousseff (PT) venceu a eleição com 56,05% dos votos dos brasileiros, vale retornar aos suores, sufocos e histórias da campanha da primeira mulher eleita para a presidência da República.

Na sua estreia eleitoral, Dilma atravessou o Brasil no rastro da popularidade do padrinho político, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um dos protagonistas - ao lado dos candidatos - da sucessão que levou o PT ao seu terceiro mandato no Palácio do Planalto.

Na campanha em que Deus e o Diabo, além do papa Bento 16, embrenharam-se no debate político, Dilma passa a cumprir um itinerário pessoal, mas vinculado ao legado político de Lula.

No retrovisor, a dureza das ruas, de Joinville a Garanhuns, no embate com José Serra (PSDB).

Batismo gaúcho Na "Esquina Democrática", em Porto Alegre, Dilma estreia a campanha nas ruas, no início da tarde de 6 de julho.

Protagoniza o primeiro comício.

"Estou extremamente emocionada de começar minha caminhada na Esquina Democrática, onde assisti ao povo gaúcho lutando pela democracia em nosso País!".

O microfone falha.
"Bateria!", gritam.
Uma pilha providencial amplifica, de novo, a sua voz.
"Vou viajar o Brasil inteiro e tinha que começar por aqui, o Estado que me acolheu.Quando do regime de opressão no País, eu vim para cá...Aqui eu formei minha família, aqui nasceu minha filha e vai nascer meu neto, em setembro...", acelera a cadência.
A segunda pilha descarrega.
"Vamos torcer pra não acabar a pilha até eu terminar...", clama.
"Quero ser presidente do Brasil para que ele cresça...".
Nem um minuto, e a terceira bateria reduz a voz da candidata.
"Ah, não!", protesta a petista.
"Acharam que podia durar mais um pouquinho, aí a gente não acha a pilha que está inteira", esclarece Dilma à Esquina.
E recomeça: "Nós somos um povo e um País que olham com autoestima...Não dependemos mais do Fundo Monetário Internacional!".
A pilha descarrega pela quarta vez.

"Do jeito que a coisa vai, a gente vai segurar essa fala com vocês, porque a pilha está falhando", resigna-se.
Um militante lamenta: "é f...comparar com o Lula!".
Lula, o criador O presidente Lula, em 13 de julho, na convenção nacional do PT: "Vai ficar um vazio nessa cédula e para que esse vazio seja preenchido eu mudei de nome e vou colocar Dilma lá na cédula".

13 de setembro, Joinville (SC): "Quando Luiz Henrique foi eleito governador de Santa Catarina, eu achei que fosse pra mudar, mas ele trouxe de volta o DEM, que nós precisamos extirpar da política brasileira".

Campinas, 18 de setembro, depois da capa da revista Veja sobre Erenice Guerra: "Vamos derrotar jornais e revistas que se comportam como partidos políticos, alguns jornais e revistas que têm candidato e não têm coragem de dizer que têm candidato".

No comício de Ananindeua, Pará, em 14 de outubro: "...eu tenho acompanhado o tipo de acusações que fazem a essa mulher.As acusações que fazem a ela, é uma parte da elite que fazia essas acusações a Ulysses Guimarães em 1974, quando ele foi candidato contra Geisel, contra Tancredo Neves no Colégio Eleitoral (...) Faziam essas acusações a mim, em 1989, faziam em 94, faziam em 2002, faziam em 2006! Aí eu pensei: 'agora acabou, não sou candidato, não vão fazer mais'.Mas estão fazendo contigo o que fizeram com Getúlio, com Juscelino, com João Goulart!..Eles estão transferindo pra você o ódio que acumularam contra mim".

A memória Junho de 2010.
O senador Osmar Dias (PDT) não sabia se iria para Serra ou para Dilma.
Nada definido sobre sua candidatura ao governo do Estado.
Serra lhe esquentava as orelhas todos os dias.
Dilma, nem ligava.
Até que a ex-ministra resolveu acarinhar o pedetista.
- Alô, Omar? - Meu nome é Osmar! O toque Através da porta envidraçada do salão "New Look Hair", a cabeleireira Rosângela de Jesus Santana observa a candidata Dilma pela primeira vez, do outro lado da rua, na União dos Moradores de Paraisópolis, São Paulo, em 14 de setembro de 2010.
- Não me lembro como ela era antes, mas o cabelo está bonito.

Acaso cruzasse a rua Ernest Renan, Rosângela indicaria "umas mechas para clarear um pouco" o cabelo da petista.No salão da favela paulistana, uma fatia do Brasil da última década, nas franjas do rico Morumbi, em São Paulo.Eleitora do PT, a cabeleireira contratou duas funcionárias e consegue faturar R$5.000 por mês.Na visita de Dilma, revolvem os recalques, as carências e as ternuras. - Serra não é tão falado quanto a Dilma.Serra nunca veio aqui, só Alckmin e Kassab...Ah, se Lula pudesse se eleger de novo! Pena que não pode. Encarapitada no cercado de alumínio, em frente ao "New Look", uma moradora anuncia: - Olha, Dilma pegou no neném da Rose! Custódia (PE), 13 de outubro de 2009 Um recuo nordestino.

A dois dias do início da caravana de Lula e Dilma pelo Rio São Francisco, numa visita às obras de transposição das águas, a pernambucana Maria de Fátima, beneficiária do Bolsa Família e mãe de dois "Josés", avisa que "ama Lula demais".

Em breve, a obra do projeto federal a obrigará sair da casa alugada.
Ganhará outra.
Fátima votará no nome indicado por Lula.
- O povo aí já está dizendo que vai votar na esposa dele (Dilma)...
Em 15 de outubro, Dilma pousa em Barra (BA), ainda com os incisivos de dentucinha.
Sem mirar as câmeras, ela acompanha o séquito de Lula em silêncio.

Poucos reconhecem a fisionomia da "a esposa" do cara. A menina Vitória Uma das aparições míticas da campanha petista, a "menina Vitória" virou uma personagem recorrente nos discursos de Dilma, sem que se conheça seu rosto ou sobrenome.A petiz teria abordado Dilma num aeroporto: "Mulher pode ser presidente da República?".

Para conquistar o voto feminino e reverter a rejeição a uma mulher na presidência, a história da criança começou a frequentar dezenas de discursos e entrevistas da candidata, a ponto de fatigar os jornalistas que cobriram suas viagens pelo País.

Em 17 de agosto, no ato com trabalhadoras de seis centrais sindicais, a candidata repetiu, com detalhes, o encontro: - Eu estava num lugar público e se aproximou de mim uma moça, trazendo uma menininha de uns nove anos, e disse: "Ela quer perguntar pra você uma coisa".

Eu falei: "O que você quer perguntar pra mim?".

Ela disse: "Quero saber se mulher pode".

Eu virei pra mãe, até errei, devia ter falado pra ela, perguntei pra mãe: "Pode o quê?".

Aí a mãe disse: "Ela quer saber se mulher pode ser presidente da República" (a plateia grita: pooooooooodeeeeeeee!) Aí eu disse pra ela: "Mulher pode ser presidente da República!" E a mãe me disse que ela se chamava "Vitória"...

Aí eu pensei: quando eu tinha a idade da menina, mulher não sonhava em ser presidente da República...

Mulher, na minha geração, por exemplo, não sei na de vocês que são mais novas, na minha época eu queria ser bailarina, trapezista ou do Corpo de Bombeiros...

As três coisas que eu queria ser.

A importância do que a Vitória me perguntou é porque, de agora em diante, as meninas desse País, as Marias, as Vitórias, as Joanas, as Anas, vão poder, sim, ser presidentes da República!" Os talheres da mídia Depois de discursar no fórum "A construção da 5ª maior economia do mundo", da revista Exame, em 31 de maio, Dilma divide talheres com o economista e presidente da RGE Monitor, Nouriel Roubini, o empresário Eike Batista (da holding EBX), o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, o presidente executivo do Grupo Abril, Giancarlo Civita, Maria Antonia Civita, o empreiteiro Marcelo Bahia Odebrecht e o presidente da Unilever Brasil, o holandês Kees Kruythoff.

Vinho chileno Viña Tarapacá, safra 2008, e filet mignon recheado com cogumelos ao creme de funghi.

Fraterna conversa com a família Civita, proprietária da revista de maior circulação do País, a Veja.

Na oração da sobremesa, Giancarlo Civita lê o discurso do presidente do conselho da Abril, Roberto Civita, ausente do encontro.

Palavras indigestas para a ex-ministra da Casa Civil: críticas à "legislação trabalhista inacreditável", à "estrutura tributária barroca" e à "burocracia que sufoca o empreendedor".

Recolhidos os pratos, o bilionário Eike Bastista elogia, eikeanamente, a sucessora de Lula: "Ela tem uma vontade cívica admirável de consertar o Brasil".

Em 10 de julho, outro chão de palácio, o da viúva do magnata da Rede Globo, Roberto Marinho.

Lily a recebe para um almoço elaborado pelo chef francês Claude Troisgros, na mansão do Cosme Velho, Rio de Janeiro.

"Se recebi Fidel Castro, por que não o PT?", questionou Lily, 89 anos, certamente pensando nos flamingos rosas presenteados pelo líder comunista cubano.

Fogo de Bengala Rumo a um comício, Lula e Dilma embarcam numa van branca, cercada pela histeria dos admiradores do presidente, na porta do Hotel Jandaia, em Campo Grande (MS), em 24 de agosto.

Pela janela do carro, Lula respira e desmente as saudades do clima de campanha: - Eu, saudade? Mas vou ter campanha de dois em dois anos! Na avenida Fernando Corrêa da Costa, reclama dos mirrados fogos de artifício: - Tac, Tac, Tac! Isso é pra candidato em final de mandato.

Lulinha merece mais...

Tac! Tac! Tac! Deus que me livre! O príncipe No teatro Cultura Artística, 9 de agosto, em São Paulo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso dá uma conferência sobre Maquiavel.

Na surdina, para não prejudicar a campanha do correligionário José Serra, o príncipe dos sociólogos revida os ataques de Lula, que prometeu ensiná-lo a ser ex-presidente, a partir de 2011.

- Não vou dizer como ele tem conduzido as eleições.

Mas não fiz como ele faz.

Ao se transformar em militante, está abusando, passa dos limites.

O limite é a lei.

A toda hora o presidente está sendo multado.

Bem, FHC comenta a hipótese de tomar umas aulas com o ex-metalúrgicos: - Tô louco pra aprender.

Ele disse que o ex-presidente não deve falar nada, só elogiar.

Os ex-presidentes, a não ser o Itamar, só falam bem dele.

E retornou às punhaladas dos Médici.

A vaidade Em 17 de maio, nos estúdios do SBT em São Paulo, o apresentador Ratinho questiona Dilma: "E esse cabelo que tá bonito mas não era tão bonito assim?".

A estreia do penteado, num programa popular, clareava a aliança da candidata com Celso Kamura, o cabeleireiro de celebridades da TV, "esteta" e "japonês chato" na definição de Ratinho. O convite para integrar a campanha partiu do marqueteiro João Santana Filho, amigo de Kamura desde a candidatura de Marta Suplicy à prefeitura paulistana, em 2008.Dilma, como se diz, "amou" o novo visual."Dei uma iluminada", contou o cabeleireiro, que embarcaria na ponte aérea São Paulo-Brasília, para preservar os fios crispados da petista.

Além de ajeitar o penteado, Kamura iniciou um trabalho de maquiagem, estudou os melhores pós, tentou amaciar a dura fisionomia da ex-ministra e evitar os estragos do suor.

Um dia, ele achou que a relação caminhava bem e enviou dois assistentes para retocar a madame.

Dilma não quis.

Celso Kamura recebeu um telefonema urgente: - Bicha, ela quer você! A soberba "Todos nós vamos ficar emocionados quando o presidente Lula estiver descendo aquela rampa (do Palácio do Planalto).E ele estará passando para mim, para disputar a eleição, uma grande responsabilidade.Não é só governar, mas cuidar do povo que ele ama.Neste dia, a única coisa que vai me consolar é que, pela primeira vez, uma mulher estará subindo a rampa".

Dilma Roussef em Cuiabá, 25 de agosto.

A mãe Numa turnê de cabo eleitoral de Dilma, em Curitiba, o presidente Lula recebe um bilhetinho da plateia da Federação das Indústrias do Estado do Paraná, em 30 de julho.

Incomoda-se com a pergunta sobre as chances de uma mulher ser presidente da República.

"Vamos parar com esse negócio de não votar porque é mulher.Pare de ser besta, foi ela que lhe pariu", discursa, conquistando os engravatados.

No auge, cria um slogan: "Dê uma chance a sua mãe!".

Erenice Na crise mais grave da campanha petista, balança a substituta da candidata no governo Lula.

Dilma comenta denúncias de lobby contra a ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, e seus filhos, publicadas na revista Veja.

"Até hoje ela tem a minha confiança" .(na saída do hospital Sírio-Libanês, após visita ao vice-presidente José Alencar, 11 de setembro)."Não dou combustível a isso".

(em Paraisópolis, São Paulo, 12 de setembro).

Após o pedido de demissão de Erenice, a candidata reage: "Jamais permiti, jamais abriguei práticas ilegais nas minhas proximidades.Não faria isso também na minha campanha...Não faço pré-julgamento de ninguém.A ministra Erenice trabalhou comigo e, enquanto trabalhou comigo, demonstrou muita capacidade".

(Campinas, 18 de setembro).

"As pessoas erram e a Erenice errou" .(Debate na Rede TV!, em 17 de outubro). A frustração Noite de 3 de outubro, no hotel Golden Tulip: a frustração na fisionomia de Dilma.Olheiras esboçadas.Apesar dos 47 milhões de votos, a eleição escorre para o segundo turno. No palco, olhares de velório trocados entre o presidente do PT, José Eduardo Dutra, o vice Michel Temer (PMDB), o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o ex-ministro Antonio Palocci, o deputado federal José Eduardo Cardozo, o coordenador de comunicação, Rui Falcão, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e a assessora Clara Ant. "Vou encarar este segundo turno com muita garra e com energia", declarou Dilma, em contraste com o abatimento.

A fitinha do Bonfim A produtora Flora Gil, mulher do compositor e ex-ministro da Cultura Gilberto Gil, conheceu Dilma nos tempos em que ela ocupava o ministério das Minas e Energia.

Flora aproximou-se da ministra nos encontros na Granja do Torto, em Brasília, na rodinha das mulheres dos políticos - de Patrícia Pillar (esposa de Ciro Gomes) a Fátima Mendonça (casada com Jaques Wagner).

Passadas algumas estações, as duas se reencontraram em Paris.

E veio um sortilégio baiano.

Flora amarrou uma fitinha do Bonfim verde no pulso de Dilma.

"Ela só vai partir quando você for presidente", prenunciou.

A fita partiu quando Dilma já era candidata, sob as bênçãos de Lula.

"Com o Senhor do Bonfim, não há quem discuta.Você vai ser presidente", reforçou Flora.

Em 3 de outubro, depois de saber que a disputa com Serra iria para o segundo turno, Dilma telefonou para Flora e Gil.

Adesivo nos sapatos Em Brasília, no dia 5 de outubro, Lula toma café da manhã com governadores e senadores eleitos.

Com votação recorde na conquista do Senado no Ceará, o peemedebista Eunício Oliveira diagnostica o segundo turno para o presidente: - O senhor criou uma cultura de que o eleitor pega num candidato, de que o presidente do Brasil precisa ser tocado.

Dilma tem que sair do estúdio.

Se estúdio ganhasse eleição, Fátima Bernardes era a presidente! Me perdoe.

Quero muito bem ao (José Eduardo) Cardozo, mas ele está desestimulado com a vida pública.

Palocci é uma figura ótima pra sentar com o empresariado, ajudar o PT no setor financeiro, mas pra isso aí...

Dutra, o senhor sabe como ele é.

Dilma tem que ir pra rua, pegar uma carreata com bêbado puxando as calças dela, pregando adesivo no sapato! Na manhã de ouvidor-geral, Lula diz a Eunício: - Já falei isso com João Santana.

Havia essa euforia com as pesquisas, mas eu sempre tive minhas preocupações com o segundo turno...

Na carreira Aconselhada por Lula, Dilma abandona o uso de púlpito (ou "paliteiro") nas coletivas à imprensa.

Esse apetrecho, no qual os repórteres penduram microfones e gravadores, lhe conferia uma pompa de presidente, antes mesmo de ser banhada nas urnas.

Por outra imposição do padrinho político, Dilma extinguiu os cercados metálicos, que a resguardavam do contato com jornalistas e eleitores.

No segundo turno, vieram os suores, os empurrões e as cotoveladas.

O fim do glamour presidencial irritou os assessores da candidata, acostumados ao represamento da imprensa.

Em 7 de outubro, para contornar os boatos religiosos, Dilma visita a capela de Nossa Senhora de Fátima, no Mercado Central de Belo Horizonte (MG).

Quer ser fotografada com a imagem de Jesus Cristo.

E organiza a coletiva dentro da capela.

Tropeços, confusão, gritos de militantes: "Dilma, esqueça a TV, o povo quer lhe ver!".

Era a prova das ruas, outra vez.

Uma derradeira pergunta sobre aborto, e o ex-prefeito de Beagá Fernando Pimentel, amigo de décadas da petista, tenta encerrar a entrevista.

- Por favor, me deixe, eu quero responder - cortou-o Dilma.

Conduzida pela azáfama, a candidata diria, baixinho, aos jornalistas: - Pela volta do paliteiro...

A corte do PMDB A prorrogação das eleições para o segundo turno fortaleceu o PMDB no comando da campanha de Dilma.

De cedo, o partido aliado teria voz no conselho político, com Henrique Eduardo Alves, Eunício Oliveira e Moreira Franco.

As disputas estaduais afastaram os dois primeiros das reuniões de segunda-feira.

E os peemedebistas se queixaram que a influência de Moreira Franco, nas decisões de cúpula, estava aquém da importância do PMDB.

Com a frustração de 3 de outubro, Michel Temer reforçou sua presença ao lado de Dilma e ganhou espaço no programa eleitoral na TV.

Mas, para afiar os dentes, precisaria conter os currais do partido.

Secundado por Eunício e Henrique Alves, partiu para o enquadramento de peemedebistas rebeldes.

No Rio Grande do Norte, o senador Garibaldi Alves se aliou à candidata vitoriosa ao governo do Estado, Rosalba Ciarlini, e ao colega José Agripino Maia, ambos do DEM.

Ouviria dos companheiros, depois de garantir a reeleição: "Agora, você vai votar contra o Michel?".

Resposta: no dia 4 de outubro, Garibaldi aterrissou em Brasília e declarou apoio a Dilma.

Temer administrou defecções do PMDB no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, no Mato Grosso do Sul e no Pará (conteve Jader Barbalho).

Bem, havia Geddel Vieira Lima, o derrotado candidato ao governo da Bahia, escanteado publicamente por Dilma.

"Eu tenho basicamente, agora neste exato instante, apoio claro ao governador Jaques Wagner.O Geddel nós apoiamos, mas não está bem situado.Eu apoio, sobretudo o Jaques Wagner", declarara a petista em 21 de setembro, depois de gravar um programa eleitoral em Salvador.

A facada lhe custaria a desmobilização de prefeitos peemedebistas na Bahia.

Em 4 de outubro, Temer chamou o correligionário para um jantar em sua casa, em Brasília.

No encontro, Moreira Franco, Eunício e Henrique Alves.

O apelo: esqueça a briga com Dilma e vote em Michel.

- Geddel, você é da nossa turma! Fez seu salamaleque lá Bahia, perdeu...

E agora você vai votar contra o Michel? Dois dias depois, Geddel informava aos jornalistas: - Está tudo superado.

As dores Ato dos artistas e intelectuais pró-Dilma, no Teatro Casa Grande, em 19 de outubro, no Rio de Janeiro.

Dilma senta-se ao lado do teólogo Leonardo Boff.

- Você tem um rosto descansado...

- Ah, Boff, estou naquela fase em que o cansaço não faz mais diferença.

Mas eu estou muito, muito cansada.

Isso aqui recompensa...

- confessa.

O teólogo arrisca: - ...Uma energia.

O último comício: 26 de outubro Em Vitória da Conquista (BA), o governador reeleito da Bahia, Jaques Wagner (PT), é informado de que Dilma atrasará em três horas o comício na terceira maior cidade baiana, uma das duas em que Serra venceu no primeiro turno.

Depois de Fortaleza, no Ceará, Dilma fazia uma carreata na pernambucana Caruaru, numa romaria pelo Nordeste.

Às 19h, um assessor sugere: "o senhor pode ir descansar no hotel, governador".

"Descansar? E o que eu faço com esse povo aí?", reagiu o petista.

Crianças já se dependuravam em árvores, à espera da sucessora de Lula.

Durante duas horas, Wagner discursou, cumpriu o papel de apresentador e puxou o clássico "Lula lá", recriado pelo músico Wagner Tiso para Dilma.

"Dilma lá, é a gente junto, Dilma lá, valeu a espera...".

Na memória do povo, a melodia das três derrotas de Lula.

"Ela parece uma noiva que está atrasada e chega por último", gozou Wagner.

"Ó Dilma aqui!".

Como num lance de circo de interior, Dilma pula das costas do governador.

Vermelha e lépida, na carreira.

A vitória Os gritos de assessores vibram no hotel Naoum com a confirmação da vitória de Dilma, na noite de domingo, 31 de outubro.

O jingle da candidata invade a sala da imprensa, os fotógrafos correm para registrar o primeiro pronunciamento oficial.

Às 21h53, secundada por José Dirceu e Antonio Palocci, Dilma entra no auditório, empurrada pelos ministros de Lula e embalada pelo samba da campanha: "meu Brasil tá querendo Dilma...meu Brasil tá querendo continuar...".

Os aliados entoam o Hino Nacional (entre abraços e apertos de mão, ela apenas balbucia o ouviram-do-Ipiranga).

Depois de mais de cem dias de refregas eleitorais, assume-se presidente eleita e inicia o discurso com a promessa de erradicar a miséria.

Palocci lhe passa um bilhete: Serra telefonou.

Os cumprimentos tardios vieram justamente enquanto o País a assistia na TV e na internet.

Ela devolve o pedacinho de papel.

Jorram as palavras e, no agradecimento ao presidente Lula, o primeiro (e raro) momento de choro desde que sagrou-se como sucessora.

"Sei que a distância de um cargo nada significa para um homem de tamanha grandeza e generosidade", emocionou-se.

À meia-noite, Dilma deixa o Palácio da Alvorada.

Lá dentro, ouviu do presidente Lula: "Você foi uma guerreira e vai fazer um grande governo".

Sozinha no fundo do carro, acuada por cinegrafistas, ela insinua uma descida, para acolher os militantes.

Logo recua, ao ver seu carro amassar um outro que entrava no Alvorada.

Vidros fechados, ela parte, enfim, para alguma solidão.

Fonte:Terra

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