PUBLICADO EM 10/11/13 - 03h00
A palavra “maquiavelismo” passou a ser sinônimo de amoralidade na disputa do poder embora Nicolau Maquiavel tenha se guardado de fazer apologia dos métodos que adquiriram fama com a sua obra literária. O diplomata florentino pesquisou profundamente os textos de historiadores romanos, como Tito Lívio e Caio Suetônio Tranqüilo, à procura das condutas e dos meios que levaram os imperadores romanos à conquista de um poder inigualável.
Maquiavel retrata fielmente fatos e circunstâncias de uma época pré-cristã, ainda não alcançada pela revolução moral do Novo Testamento. Portanto, quem perde de vista o contexto histórico dos fatos que ele narra passa a confundi-lo com um demônio, arauto do mal e dos sete pecados capitais. Ledo engano ou, pior, injustiça.
Maquiavel revela friamente os métodos que, num primeiro momento, expandiram o Império Romano, mas que o condenaram, em seguida, à ruína. Tem também o mérito de colocar a nu a infelicidade pessoal que cercava a vida dos poderosos de Roma – condenados a se prostituir, a trair, a mentir, a suprimir parentes e amigos, a viver assombrados por traições e vingança para manter, a qualquer preço, o poder.
O termo “maquiavelismo” por justiça deveria ser substituído por “cesarianismo” ou mais corretamente por “amoralismo”, à luz do ensinamento cristão. Se analisarmos a época dos Césares à luz da doutrina brâmane, aparecerá a deusa Kali, esposa de Shiva, entidade divina encarregada da destruição daquilo que já não tem sentido e precisa dar lugar a algo melhor. Uma força permanente da natureza que possibilita à flor de lótus crescer no meio do lamaçal e à semente encontrar alimento no organismo em decomposição.
Os doze Césares cumpriram com o papel de conduzir e acelerar o fim de uma era, trazendo à tona muito de bom e tudo de ruim que a humanidade tinha à disposição naquela época. Todavia, os imperadores merecem uma enorme consideração pela capacidade de ordenar o Estado, com sistemas que continuam universalmente atuais.
O cientista florentino, por sua vez, morreu no ostracismo e na pobreza por ter revelado os sentimentos abjetos que mais serviram na conquista do poder. Mas Maquiavel teve o mérito incontestável de escancarar o lado obscuro dos governantes, levando-o ao conhecimento de quem quisesse neutralizá-lo.
Pois bem, as crônicas de Suetônio chegaram às livrarias em versão portuguesa, facilitando aos interessados a compreensão do Império Romano, do próprio Maquiavel e até para medir os avanços que a moralidade registrou (na realidade, poucos) desde quando César tombou no senado lamentando: “Até tu, Brutus...”.
E até nós, desembarcando da leitura de Suetônio, sentiremos pulsando nas veias a herança dos imperadores. Vale a pena ler.
Fonte: Otempo
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