O italiano Nicolau Maquiavel, em O príncipe, uma de suas mais conhecidas obras, basicamente um manual de como um chefe público deve se portar, disse que para permanecer no poder, o líder deve estar disposto a desrespeitar qualquer consideração moral, recorrer inteiramente à força, ao poder, manipular e até mentir. Foi mais longe, afirmou que é mais fácil fazer as pessoas acreditarem numa grande mentira dita muitas vezes, do que numa pequena verdade poucas vezes ditas.
No Brasil, muitas autoridades públicas parecem seguir à risca as receitas do autor do manual, ao ponto de não burlar uma vírgula, a não ser que seja para seu próprio favorecimento.
Neste paraíso das autoridades que mentem e não aceitam críticas, responder à interrogação de um agente policial, durante uma abordagem de rotina, parece ser mais desrespeitoso que não ficar quieto (sob uma chuva de chutes nas canelas, tapas na cara e pauladas de cassetetes nas costas), é considerado um verdadeiro desacato à autoridade, como se todas elas, as autoridades, fossem honestíssimas, ao ponto de não se corromperem por nada. Discordar da ideia de um funcionário público em seu pleno exercício da função, então, poderá levar o cidadão à prisão, mas o atendimento malfeito por muitos servidores públicos chega a ser uma verdadeira falta de consideração para com o cidadão que, obrigatoriamente, procura o serviço e pagam os salários dos agentes do Estado.
No Brasil, onde é proibido proibir, discordar de uma autoridade, ainda que ela esteja equivocada, é permanentemente proibido e aqueles que se atreverem a criticar um ato, mesmo que errado e irresponsavelmente cometido por um indivíduo que praticou alguma ilegalidade poderão ser taxados de ilegais.
Ora, ainda não faz muitos dias que a opinião sobre a queda de uma passarela causada por um caminhão-caçamba que deixou cinco mortos na Linha Amarela, na altura de Pilares, no Rio de Janeiro, de Rachel Sheherazade, jornalista que vem ganhando destaque e respeito, repercute Brasil adentro.
A opinião da âncora do “SBT Brasil” foi recebida positivamente pelos milhares de brasileiros comuns que ainda acreditam no poder da mudança, gerando comentários nas ruas, nas aglomerações, nas redes sociais e em muitos veículos de comunicação, mas quem não gostou do comentário mesmo foram muitas autoridades públicas, ou privadas atreladas às tretas públicas, incluindo as três esferas do poder. É, parece que aqui no país do carnaval é preciso policiar a generalização e ninguém pode dizer que no Brasil “Está tudo errado!", como disse a jornalista Rachel Sheherazade.
Vamos corrigir isso, então? Nada está errado? Estão corretas todas as autoridades deste país, mesmo quando muitas buscam se esquivar de suas próprias culpas? Aliás, neste país dos contrastes, nesta terra das desigualdades sociais, no país da mentira e da malandragem errado está a jornalista por falar a verdade? Errado está este colunista ao pensar que Nicolau Maquiavel é italiano quando é brasileiro? Errado está o pobre, por ter nascido pobre? Errado, enfim, estão todos aqueles que buscam trilhar seus caminhos galgados na verdade?
Nada disso, apague todo o parágrafo acima porque a verdade pode até tardar, mas ela não falha. Quando a verdade chega a mentira some e a verdade cabe em todos os lugares e é para ser exercida, custe o que custar e doa a quem doer.
A verdade é que nesta Nação onde as autoridades, muitas vezes, negligenciam resultados com intuito de favorecer aquele que possuir maior poder aquisitivo, muita coisa precisa ser mudada.
(Gilson Vasco, escritor)
Fonte:DM.Com
Nenhum comentário:
Postar um comentário