sexta-feira, 1 de julho de 2016

Maquiavel e a manutenção de uma hegemonia esportiva

Texto: Tiago Guioti

Quanto mais espetacularizados, massificados, mobilizadores de grandes grupos sociais e angariadores de grandes investimentos os esportes são, há a necessidade de se obter uma hegemonia esportiva. Isso vale para os atletas, equipes, comissões técnicas, dirigentes e inclusive para os meios de comunicação. Entretanto, mais difícil do que alcançar a hegemonia esportiva é mantê-la e por isso, me pauto em Maquiavel e seus fundamentos sobre Virtú Fortuna para discorrer desse processo dentro do âmbito esportivo.

Maquiavel disserta sobre Virtú e Fortuna na sua obra “O Príncipe” no qual é considerada uma manual de manutenção do poder para monarcas do século XVI. Porém, assim como “O capital” de Marx, essa obra pode ser considera muito contemporânea pois houve e há muitas similaridades entre os governantes atuais e os príncipes antigos na forma de governar seus reinos, sociedades e Estados-nação.

Desta forma, para se manter no poder, os governantes necessitam de um conjunto de qualidades e possibilidades, seja elas quais forem (boas ou más ações), cuja a aquisição o governante passa achar necessária, a fim de manter seu Estado e realizar grandes feitos. Ou seja, a pessoa que governa necessita de Virtú para vencer as incertezas e imprevisibilidades que cercam e ameaçam o seu governo, no qual essa força incerta, que pode ser natural ou humana, é caracterizada como Fortuna (destino). Assim, o dualismo entre Virtú e Fortunaé tido como uma questão de legitimidade e manutenção do poder, ao passo que quanto maior a Virtú (qualidade em manter o poder) menor ou maior controle sobre a Fortuna (imprevisibilidades que ameaçam essa manutenção).  

Levando essa ideia de manutenção do poder por Maquiavel ao esporte, vemos que a busca do poder, que neste caso é a conquista de títulos, campeonatos e etc. se revela muito mais frequente do que a manutenção do mesmo, pelo fato de tanto que o esporte é cercado por imprevisibilidades (Fortuna) e por ser, às vezes, uma roda da sorte. E é menos frequente a manutenção de uma hegemonia esportiva, que neste caso é a conquista de uma série de títulos em um determinado período, dado a dificuldade que se é de controlar os aspectos imprevisíveis do jogo (condições climáticas, local, torcida, fatores psicológicos e sociais, influência da arbitragem, adversidades inesperadas como falhas momentâneas e tantas outras) mesmo para aqueles que possuem qualidades técnicas, táticas, físicas e psicossociais (Virtú) para controlar o destino.


Temos como exemplo de manutenção de hegemonia: o Santos de Pelé; a Itália da década de 1930; o Brasil no final da década de 50 à década de 70; o Barcelona de Messi; o Palmeiras da década de 90; Boca Juniors no começo dos anos 2000; Lakers e Celtics na NBA; Chicago Bulls de Jordan; o Flamengo na NBB; Tiger Woods no golf; Federer no tênis; Schumacher na F1; Boston Red Sox no beisebol; Nova Zelândia no rugby; Brasil no vôlei de quadra e areia; Michael Phelps na natação; Usain Bolt no atletismo; Cuba no boxe; Índia no críquete; Alguns países africanos em provas de longas distância no atletismo; China no badminton.


Assim, fica claro que alguns atletas, times e nações se utilizam de suas Virtús para tentar controlar a Fortuna promovida pelo esporte a fim de manter uma hegemonia esportiva da mesma forma como é evidenciado em relação aos monarcas do século XVI, governantes e ditadores do século XX e líderes mundiais no século XXI de acordo com Maquiavel. 

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