segunda-feira, 29 de março de 2010

Seráa?

Roberto Garcia Simões

Para tentar captar o momento estadual, resgatei frases sobre política e de políticos. Para Charles Maurras, "Em política tudo é permitido, exceto deixar-se surpreender".
Será? Compõe o estilo Paulo Hartung preceder o anúncio solene de uma decisão político-eleitoral por um clima de suspense. Esse clima fertiliza bochichos e sinais confusos - que o mantém em evidência. Depois, confirma-se a expectativa mais esperada.

Os indicativos antecipados do dia 19 denotavam um ato de despedida: fotos na escadaria do palácio e um livro com o "balanço" do governo 2003-2010. Ambos, típicos de final de mandato. Mas, no discurso, o governador PH mudou o desfecho costumeiro de seus suspenses. Afirmou: "Permaneço ...", traduzido como "Fico".

Será alterada a disputa para o Senado? A resposta não pode ser precipitada. O governador PH desfez um suspense - e gerou dúvidas. Antecipou a sua decisão em mais de duas semanas. Esse tempo político é uma "eternidade". O próprio governador disse que trataria da eleição na "hora certa". A primeira "hora certa" será 2 de abril.

Para ACM, "A política é feita do possível, e o possível se examina na hora"; o respeitado Mário Covas "Disse não ontem, digo não hoje. O que vou dizer amanhã, só vou (sic) pensar amanhã".

Na história política, definições impactantes de lideranças despertaram apelos, mensagens, movimentos mais ou menos "espontâneos". Com Vargas, foi o "queremismo". De sinal trocado, ainda no dia 19, divulgou-se que uma caravana da direção nacional do PMDB virá ao ES em prol da candidatura PH. Será algo isolado? O doutor Ulysses reforça, assim, especulações: "Em política, até a raiva é combinada". Surgirão outras iniciativas com propósito idêntico? Decisão "madura" se diferencia da irreversível.
Será que o político PH ficará sensibilizado até 2 de abril? JK deu uma senha: "Volto atrás sim, com o erro não há compromisso". Ou o Barão de Itararé tem razão: "O mistério de hoje pode ser o ministério de amanhã".

O que influenciou, "nos últimos dias", o "fico"? Não é convincente o "compromisso das urnas"; o mandato de senador ficou pela metade. Influenciou, sim, a repercussão das "masmorras". Será possível minorar o desgaste? Até o dia 2 de abril ou até dezembro? PH é cioso da sua biografia e da imagem do seu governo. Também pesou o risco eleitoral do candidato do palácio ao palácio. Para reduzi-lo, perseverar na autoritária candidatura quase-única e eliminar o segundo turno? Ficar sem mandato e garantir o sucessor? No discurso, o vice Ferraço foi prestigiado: "Está preparado para assumir qualquer função...". Qualquer?

Reaberto o jogo político, na véspera, valorizou-se o passe de Sérgio Vidigal-PDT. Um time adversário (?) que tem o titular competitivo poderia ficar reforçado com essa adesão? Depois, João Coser-PT rumou para o vestiário. Reunião de "exigências"? O PT ficou com a conta das "masmorras"? Como retornará ao gramado? PT e PSB se reaproximarão? O campeonato será longo: 5 de julho, último dia para o registro de candidatos.

A "ampla aliança" está disputando fatias do poder, em busca do time "único", visando a suprimir o suspense desejável: a disputa de projetos nas urnas. Será mais um traço do modelo capixaba de democracia? Maquiavel sintetiza: "Um príncipe nunca precisa de razões legítimas para quebrar suas promessas".

Roberto Garcia Simões, professor da Ufes, escreve nesta coluna às terças-feiras.E-mail: robertog@npd.ufes.br

Fonte:Gazeta.online

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