terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O criador e a criatura

Quem leu meu artigo "A Vassoura de Dilma", de três semanas atrás, não foi surpreendido pelas análises da semana passada, elogiando o desempenho da presidente. O que surpreende é que muitos petistas estejam magoados com os chamados formadores de opinião que estão aprovando o estilo Dilma de governar. A questão é que é inevitável a comparação entre a criatura e o criador. Em bases não populistas, de seriedade política, a criatura sai ganhando até agora. A comparação não é maldosa. Sempre se compara o sucessor com o antecessor, como os petistas tanto fizeram em relação a Lula e FHC.
No aniversário do PT, Lula foi acometido de uma catarse, um desabafo: "Se a grande ofensa e a grande desconstrução do governo Lula que eles querem fazer é falar bem da Dilma, eu morrerei tranquilamente feliz. Morrerei tranquilamente porque era esse o nosso objetivo, era eleger alguém que pudesse fazer mais e melhor. Porque se fosse pra fazer o mesmo eu teria pleiteado o terceiro mandato", disse o ex. Imaginem se seria fácil rasgar a Constituição e pleitear terceiro mandato. Além disso, ninguém sugeriu que falar bem de Dilma fosse para desconstruir Lula. Passou recibo.
Ele estava bem zangado: "O que a gente percebe é que essa gente metida a ser informadora de opinião pública não entende nada de psicologia. Porque a minha relação política com a Dilma é indissociável, nos bons e nos maus momentos." Parece que a psicologia está em revelar algum tipo de ciúme do criador em relação à criatura. Enfim, vá lá; tomara que não seja nada disso, porque seria uma loucura o PT faltar a Dilma o necessário apoio para que ela faça o que é preciso fazer, como cortar a gastança e desagradar o fisiologismo do aliado PMDB.
O que pode preocupar os brasileiros é que o PT, acostumado a gestos populistas e bravatas, esteja sentindo falta do Ibope dos anos passados e queira pressionar a presidente para a volta da demagogia gastadora e geradora de bons índices de aprovação. Dilma certamente leu Maquiavel (sim, a presidente lê) e sabe do conselho de fazer todo o mal de uma vez e logo no início do governo. E Lula bem que poderia focar-se no mérito dele de ter descoberto Dilma e ter elegido Dilma. E passar a aplaudir os acertos de Dilma junto com "essa gente metida a informadora de opinião pública".

Alexandre Garcia é jornalista em Brasília e escreve em A Gazeta às terças-feiras. E-mail: alexgar@terra.com.br
 

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