quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Ricardo Coutinho: tal qual O Príncipe, de Maquiavel

Estamos com pouco mais de trinta dias de mandato do governador Ricardo Coutinho e esse tempo não é suficiente para se avaliar um governo que pretende comandar a Paraíba por cerca de 1.500 dias. Mas se 30 dias significam pouco tempo diante do mandato total do governador, significaram uma eternidade, por exemplo, para os prestadores de serviço, que esperaram ansiosamente para ver o extrato bancário no início de fevereiro.

De qualquer forma, se 30 dias não são suficientes para avaliar um governo, são mais que suficientes para que se avalie, pelo menos, as tendências deste. E essas tendências, aqui na Paraíba, não foram tão boas. Se não, vejamos:

- Os policiais, que esperavam ver o aumento aprovado no final do ano passado nos contracheques de janeiro, não o viram e ainda tiveram o dissabor de ver declarações do governador de que não vai pagar o reajuste nos próximos meses;

- Este fato gerou uma grande insatisfação na tropa, que, até, já ameaça uma greve geral na corporação, o que pode ensejar problemas pela frente;

- Os prestadores de serviço, que começaram o ano supondo permanecer no cargo, passaram a conviver com o fantasma da demissão. Restou a expectativa individual de que cada um fosse esquecido pelo governo e, ao fim, figurasse na Folha de Pagamento. Triste engano;

- Os que têm gratificações no Estado – e aí não quero entrar no mérito destas gratificações, se foram conquistadas por mérito ou não – começaram o ano com expectativa similar à dos prestadores de serviço. Depois, com o anúncio do corte, ficaram na expectativa de ser esquecidos também. Idem, triste engano;

- Os servidores que pertencem a prefeituras e outros órgãos, colocados à disposição do Estado – muitos deles, inclusive, passaram a campanha estampando um girassol no peito e um ‘mamulengo 40’, como diria o colega jornalista Paulo Roberto, no vidro do carro – foram devolvidos em uma só canetada, logo no dia 1.º de janeiro, sem tempo para uma mínima preparação (gente com cerca de 20 anos morando em outra cidade teve que fazer o caminho de volta de um dia para o outro);

- A devolução dos servidores, por tabela, provocou problemas em vários setores da administração, sobretudo na Saúde e na Educação. Escolas ficaram comprometidas por falta de pessoal, a exemplo da Escola de Áudio Comunicação Demóstenes Cunha Lima, em Campina Grande; e dos Homocentros e Hemonúcleos do Estado;

- A Paraíba viu, talvez, a maior reviravolta nos meios de comunicação que já se pôde observar, com demissão e afastamento de jornalistas de órgãos, substituição em outros e mudanças de postura;

- Os paraibanos viram um duro aumento em todos os índices de violência – só para citar alguns, eis os dados da Associação Brasileira de Consultores Profissionais referentes ao mês de janeiro, na Paraíba: 10 bancos assaltados com uso de bombas, num aumento de 280% em relação ao mesmo mês do ano passado; 19 roubos do tipo "saidinha de banco", um aumento de 78% em relação a janeiro de 2010; 66 assassinatos, com aumento de 48% em relação ao mesmo período; 380 roubos e furtos, num aumento de 192%; 14 sequestros-relâmpago (88% a mais que em janeiro passado) e 65 assaltos às agências dos Correios e a outros estabelecimentos, 120% a mais que no ano anterior;

- A decretação do fim dos apoios para eventos turísticos em todo o Estado gerou uma ameaça para vários deles, com destaque para o Folia de Rua, com o desfile do Bloco Muriçocas do Miramar; o Maior São João do Mundo, o Encontro Para a Nova Consciência, o Encontro Para a Consciência Cristã (o maior encontro evangélico do Nordeste), dentre outros;

- A criação de mais imposto (como a tal Taxa de Inspeção Veicular que deverá ser paga, anualmente, a partir de agora, no momento do emplacamento dos veículos) e o aumento de tarifas como a de água, da Cagepa, por exemplo;

- E muito mais...

Porém, o mais extraordinário é que, se o governo não está bem avaliado nestes primeiros trinta dias, o governador passa ao largo disso tudo. E sabem por quê? Porque, na mídia, não há queixas em demasia. E estas queixas não ocorrem porque os prejudicados ainda sonham em reverter as situações. É aquela velha história: ‘vou ficar calado pra ver se, comigo, a coisa muda’.

Não sei até quando essa ‘blindagem branca’ vai continuar mantendo a imagem do governador intacta. Só sei que Ricardo não deve abusar do tempo, mesmo imaginando, eu, ter Ricardo adotado a máxima extraída do livro ‘O Príncipe’, escrito por Nicolau Maquiavel em 1513 e publicado quase 20 anos depois mas, até hoje, tão atual. Veja:

“Por isso é de notar-se que, ao ocupar um Estado, deve o conquistador exercer todas aquelas ofensas que se lhe tornem necessárias, fazendo-as todas a um tempo só para não precisar renová-las a cada dia e poder, assim, dar segurança aos homens e conquistá-los com benefícios (...) Portanto, as ofensas devem ser feitas todas de uma só vez, a fim de que, pouco degustadas, ofendam menos, ao passo que os benefícios devem ser feitos aos poucos, para que sejam melhor apreciados (...) Faça o mal de uma vez e o bem aos poucos. O conquistador deve examinar todas as ofensas que precisa fazer, para perpetuá-las todas de uma só vez e não ter que renová-las todos os dias. Não as repetindo, pode incutir confiança nos homens e ganhar seu apoio através de benefícios”.

Mas será que ainda existe mal a ser feito, além do que já foi engendrado no mês de janeiro? Queira Deus que não...
Fonte:Pbagora

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