terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Amado ou temido?

Para o Príncipe, título do mais famoso livro de Nicolau Maquiavel, “é melhor ser amado ou ser temido”?

Esta é uma das mais conhecidas indagações de Maquiavel, a qual ele responde: "...bem, a primeira alternativa é a ideal, sobretudo quando está associado ao respeito por parte dos súditos. Mas ser temido é mais seguro, ainda mais um príncipe novo, que não pode seguir todos os preceitos a que são obrigados os homens considerados de bem. Deve-se saber enveredar pela trilha do mal, se isso lhe for conveniente, ainda que sem esquecer de manter as aparências. Existem crueldades bem praticadas...”

Mas por pensar assim, Maquiavel foi acusado de ingenuidade política ao exprimir suas idéias de forma tão clara, numa circunstância em que o feitiço acabou virando contra o feiticeiro e manchando sua reputação.

Uma coisa importante de Maquiavel seria uma conduta moderada e racional do ponto de vista da adequação entre fins (objetivos) a atingir e os meios para tal.

Para a conquista e preservação do poder, o Príncipe precisa de um conjunto de meios: a esperteza da raposa para evitar os laços; a força do leão para amedrontar os ursos; o talento para a dissimulação, a piedade convenientemente dosada; e, o domínio da arte da guerra e as grandes obras que dão popularidade.

É por isso que muitos mortais enchem a boca e dizem em alto e bom som: “sou maquiavélico”, todavia, de maneira bronca, pejorativa, xucra, e, quiçá, ingênua.

No entanto, para quem está na política, é preciso saber disso tudo, claramente, pois, ampliar o poder político decisório é algo natural no político e no seu grupo político, porém, para ser mais que respeitado na vida política e social, ser franco é ser diplomata, ou seja, saber dizer o não ou o sim na hora “H”, sem ser desagradável ou mesquinho, o que garante credibilidade e legitimidade ao postulante da coisa pública.

Nesse jogo político duro entre aqueles que renegam o lucro, mas que querem preservar seus interesses privados, há que se buscar um novo maquiavelismo político, um novo político que em tese já existia na literatura maquiavélica, apenas estava repousando, que é o exemplo da virtude, da educação, das boas leis, da escolha dos seus "conselheiros" e da segurança aos anseios mais universais como a propriedade, a liberdade de expressão e o reforço à democracia. Tudo isto mantido dentro da maior eficácia da ação do “governante”, que para o mesmo ganhar a guerra, ainda, é uma estratégia eficaz para calar as críticas.

O novo Príncipe terá que impor sua vontade no interior de uma relação social contra todas as resistências. A diferença do antigo para o novo é que o primeiro usava da força para conseguir seus objetivos; já o segundo se expressa de diversas maneiras, onde a corrupção é a mais utilizada para os mais despreparados de formação.

Tchá por Deus, vive de chá co bolo de "Rei" só in festa de Santo é poco demás...

Aos "Príncipes Brasileiros" urge a atuação política no sentido da conscientização de que quem muda uma Nação são as elites livres e responsáveis. Livres de ideologias terceiro-mundistas e responsáveis pela “saúde” do povo.



*ERNANI LÚCIO PINTO DE SOUZA é economista do escritório de economia Paradigma Estudos e Pesquisas, associado da Aprocecon, vice-conselheiro do Corecon-MT e técnico licenciado da UFMT.

*EDSON LUIS LINO JORGE DA SILVA é economista, técnico da UFMT e Ms. em Administração Pública pela UFSC



Fonte:Diariodecuiaba

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Os livros que marcaram a vida de Fernando Capez

"É preciso ter um mundo interior. Não adianta ter dinheiro se você vai aos lugares e não consegue entender nada do que está se passando. É preciso ter cultura e entender o contexto.” O mundo interior a que se refere o deputado Fernando Capez é alimentado por livros e mais livros, muitos deles relacionados à história, assunto pelo qual ele se diz fascinado. Isso porque o ajuda a compreender a mundo a sua volta e os mundos aos quais ele não participou.
O atual deputado estadual Fernando Capez (PSDB), iniciou sua carreira como promotor de Justiça. Ele atuou também como professor durante 18 anos no Complexo Jurídico Damásio de Jesus e na Escola Superior do Ministério Público de São Paulo. Tem 24 livros publicados, principalmente na área de Direito Penal e Processo Penal.

Primeiros livros
Aqueles livros enormes, conhecidos como enciclopédias, que estão caindo em desuso e geralmente só eram abertos para pesquisar trabalhos escolares, eram objetos de desejo de Capez quando criança. “Esse foi meu primeiro contato com a leitura: os livros de história do colégio, o estudo de uma coleção que meu pai comprou nos anos 70, que era o Conhecer. Eu lia muito enciclopédias. Tinha a opção de ler um romance e um livro de história com dados”.
Os livros para Capez eram como um portal para mundos distantes, outros tempos e cenários. Foi por meio da obra O Príncipe, de Nicolau Maquiavel, que ele pôde ir à Florença de sua imaginação. “Eu queria voltar para Florença do final do século XV, quando praticamente começou o Renascimento, com Lorenzo de Médici e todos aqueles artistas. Naquele ambiente de Leonardo da Vinci e, posteriormente, Michelangelo. O livro dele representava tudo isso”, diz.
Enxergando a obra dentro do contexto de pesquisa e de estudo de história, o deputado teve uma opinião diferente do senso comum sobre Maquiavel. Capez o entendeu como alguém que quis escrever um livro para dar conselhos de sobrevivência a um príncipe.

Legado pessoal
Outro livro que despertou o interesse do deputado foi a biografia deThomas Morus, condenado à decapitação pelo rei Henrique VIII por se recusar a reconhecer a Igreja Anglicana. “É o drama de um homem, a família mandando cartas pedindo para ele se retratar e ele com medo de, ao se retratar, negar a Deus e perder o direito à vida eterna. Então, ele preferiu morrer. Há um conflito entre a convicção de um homem e a sua conveniência.”
Durante a época de faculdade, como não poderia deixar de ser, os livros jurídicos foram os protagonistas das estantes de Capez. Na ocasião, quatro autores chamaram a sua atenção. São eles: Nelson Hungria, Magalhães Noronha, Basileu Garcia e Aníbal Bruno. Mais tarde, a obra do professor Damásio de Jesus também foi importante para seu mergulho em Direito Penal.
Para o deputado, o Direito e a história andam de mãos dadas. “Com o estudo da História, você contextualiza o Direito dentro do período histórico em que ele foi concebido. Uma tese era defendida de acordo com o sistema político vigente.”
Norteado por esse pensamento, Capez teve contato com uma publicação que considerou muito importante e decisiva para sua formação. Leu em espanhol a Teoria de la Accion Finalista, do Hans Welzel. Trata-se de uma obra que noticia o sistema jurídico da Alemanha durante os anos de nazismo e na qual o autor estabelece uma relação entre o regime político e o sistema jurídico. Ele diz: “Você só consegue entender o direito nazista se compreender o regime totalitário”.
O livro traz como exemplo Hans Frank, ministro da Justiça do Reich alemão em 1943, “que permitiu que as mulheres estrangeiras praticassem aborto e mantinha como crime o aborto praticado pelas alemãs porque só se protegia a vida dos bebês alemães. Não se protegia a vida intra-uterina dos futuros bebês estrangeiros”.

Livros jurídicos
O interesse do deputado pelos livros vai muito além do papel de leitor. Com mais de uma dezena obras de Direito sob sua autoria no mercado, ele guarda com especial carinho a lembrança de suas primeiras publicações. Na época, foram taxadas como “loucura e ousadia” e atualmente são parte de seu estilo como escritor. “Eu sacrificava a erudição em benefício da comunicação.” Os resultados foram quadros sinóticos explicativos ao final de cada livro, ou charges, muitas vezes cômicas, para ilustrar os temas mais difíceis. 
Ao ser perguntado sobre os livros de sua autoria que mais gosta, ele cita o volume I da coleção Curso de Direito Penal e o Curso de Processo Penal. O autor conta que “Processo Penal” foi escrito no início de 96. A obra foi publicada em novembro de 97. “Já o “Penal Geral” eu comecei a escrever em 1990 e publiquei em 2000. As aulas foram virando o livro”, diz Capez.
Há também uma apostila de Direito Constitucional escrita por Capez há 20 anos, que figura no hall de seus xodós. “Na época era vendida como xerox (a pessoa comprava apostila com folha de sulfite). Para as pessoas não tirarem xerox, eu fazia com letrinha azul bem clarinha e difícil de ler”, diz. Essa “apostilinha despretensiosa” vai virar um curso de Direito Constitucional simplificado, que deve ser lançado no ano que vem.
Li e recomendo
Ultimamente, o deputado Capez andou se debruçando sobre o livro do professor Zygmunt Bauman, chamado Tempos Líquidos, que traz uma abordagem da sociedade moderna sob o prisma de que ela não é mais sólida, pois muda a todo tempo. “Tal como um líquido jogado sobre uma superfície, ela vai se mexendo. Então, fica difícil você ter uma compreensão duradoura de qualquer fenômeno porque tudo muda muito rapidamente”, afirma ele.
Bauman faz uma análise do mundo globalizado, da tendência principalmente nas grandes cidades, das pessoas se isolarem em universos exclusivos e deixarem de desfrutar os ambientes comuns, públicos. “As pessoas passam a viver em condomínios fechados e não visitam mais as praças públicas e não frequentam os parques. Existem os excluídos, aqueles que jamais terão acesso a estes ambientes fechados e eles neste ambiente também são excluídos porque jamais se colocam nos ambientes públicos.”
A obra faz um paralelo entre este fenômeno e o que está acontecendo nos países desenvolvidos. “Da mesma maneira que não está dando certo nos países desenvolvidos isolar o resto do mundo, não dará certo para essas sociedades fazerem esses microorganismos sociais. Então ele diz, numa conclusão, que jamais uma criança poderá dormir tranquila nos Estados Unidos ou na Europa Ocidental enquanto uma criança estiver vivendo sem dignidade no Afeganistão, no Iraque ou na África.”