quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Teste da janela

Anúncio publicitário "Teste da Janela", do sabão em pó Omo, em 1975: nenhum poder está disposto a ficar exposto ao sol
Anúncio publicitário “Teste da Janela”, do sabão em pó Omo, em 1975: nenhum poder está disposto a ficar exposto ao sol

Cinco séculos antes do surgimento da rede mundial de computadores, Nicolau Maquiavel já sabia que o segredo é um ingrediente essencial do poder. “O imperador é um homem de segredos”, escreveu o florentino em O Príncipe. “Ele não comunica seus desígnios a ninguém, nem colhe opiniões sobre eles”. Desde os tempos de Maquiavel, Estados e segredos cresceram e se multiplicaram, mas continuaram indissociáveis. Nações ergueram gigantescos aparelhos destinados a descobrir e guardar informações sigilosas. Essa tendência culminou nos Estados-policiais surgidos no século 20.

Se um Estado democrático não se apoia centralmente no aparato de inteligência, nem por isso depende menos do segredo. Essa tendência se choca, porém, com a expansão das máquinas administrativas. No ano passado, os Estados Unidos aprovaram 798.618 requisições de acesso de servidores públicos e terceirizados a informações confidenciais, incluindo 287.142 no nível de “altamente secreto”.

O advento da internet deu aos “portadores de segredos” e ao público uma plataforma comum, com a qual Maquiavel sequer sonhou. Esse não é, porém, o único fator a prenunciar o fim da era do segredo. Há 15 anos, vazadores de documentos poderiam simplesmente ser processados e julgados por espionagem, prevaricação ou traição. Hoje, a existência de um ambiente digital global faz com que muitos se vejam como cidadãos de uma comunidade digital global, cujas aspirações de acesso à informação seriam tão ou mais legítimas do que a ideia de pertencimento a um Estado-nação.
Fonte:clirp


quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Maquiavel até hoje influencia, mas nunca foi maquiavélico

“Niccollò Machiavelli morreu ontem, deixando-nos na mais profunda miséria”, escreveram ao papa Leão X os filhos do autor de "O Príncipe", que há 500 anos influencia a torto e a direito
por Mauro Santayana publicado 14/09/2013 14:05, última modificação 14/09/2013 13:15
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Deem uma alavanca a um homem e ele moverá o mundo, dizia Arquimedes. Deem a ele uma caneta, e ele mudará o mundo. Ao longo do tempo, houve homens que escreveram em defesa de seus ideais e suas convicções, outros que o fizeram para que não lhes quebrassem os dedos e outros, ainda, para arrumar um dinheirinho a fim de cuidar de sua sobrevivência e de sua família, alugando sua pena a senhores a quem outros alugavam a espada.
A história, no entanto, não pergunta as motivações de quem escreve um livro ou conta uma estória. Ela absorve os livros, e é mudada por eles. O número de pessoas que já morreram em defesa da Bíblia deve ultrapassar o número de letras do livro mais famoso do mundo, e, embora não se possa medir cientificamente a influência da Odisseia na descoberta da América, sabemos que as aventuras de Ulisses povoaram os corações e mentes de muitos dos marujos portugueses e espanhóis que participaram da Grande Travessia, e que Homero poderia ter cantado suas glórias, ou estado entre seus repórteres e cronistas, como Pero Vaz de Caminha e Luís de Camões.
Este mês o mundo está comemorando 500 anos de um grande livro e os cinco séculos que nos separam da época de um escriba singular, que nem sempre assinaria embaixo do que escreveu e acabou virando adjetivo.
Se você, prezado leitor, já foi chamado de astuto, manipulador, maquiavélico, já sabe mais ou menos de quem estamos falando. Embora o termo maquiavélico lembre o vocábulo “maquiar”, ele vem de Nicolau Maquiavel e de seu livro O Príncipe, que escreveu para Lourenço de Médicis, em uma época em que ter amigos poderosos garantia a sobrevivência de artistas, sábios e escritores, e lhes protegia os dentes e o pescoço.
Não vamos nos deter no próprio livro. O escrito é revolucionário para aqueles tempos e mudou radicalmente a forma de ver e de fazer política nos séculos seguintes, influenciando a torto e a direito, à esquerda e à direita, ditadores e libertários, fascistas e nazistas, estrategistas e publicitários. Todavia, como uma obra de encomenda, não corresponde precisamente às ideias do autor, expressas em outras que poucos conhecem e sobreviveram a O Príncipe, como prédios mais baixos se escondem do olhar de quem chega a uma cidade com um grande edifício a marcar seu horizonte.
Mesmo assim, se toda a Renascença fosse uma galeria, poderíamos dizer que O Príncipe, para a filosofia política, corresponderia a um Davi de Michelangelo – não necessariamente a uma Pietá –, ou a uma Santa Ceia de Da Vinci, ou ao que representou, para a astronomia, o aprimoramento do telescópio por Galileu. O importante a dizer é que Nicolau Maquiavel não era maquiavélico, no sentido que se criou para falar de sua obra ou da filosofia contida em seu livro mais conhecido.
Em O Príncipe, Maquiavel examina a conduta de César Bórgia, duque da Emiglia Romanna, filho natural do papa Alexandre VI.
Nicolau Maquiavel foi chanceler, ou seja, administrador do Estado florentino, durante a maior parte de sua vida e amigo de Giovanni de Médicis, um papa com nome de Leão, que não perdoava ninguém, nem mesmo no sentido bíblico. Tendo caído em desgraça, por ter jogado mal, para sobreviver Maquiavel foi obrigado a cuidar de encargo modesto, o de negociador, em nome de empresários de Florença, com os devedores de Pisa.
Apesar de tudo isso, do convívio com os poderosos e de relativa fama em seu tempo, Maquiavel morreu pobre e sem ter ideia de como seu livro O Príncipe e A Arte da Guerra influenciaria o futuro. “Niccollò Machiavelli morreu ontem, deixando-nos na mais profunda miséria”, escreveram os filhos de Maquiavel ao papa Leão X.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Maquiavel para todos os tempos

Vinício Carrilho Martinez (Dr.)
Completamos, em 2013, quinhentos anos da publicação do livro O Príncipe, do pensador e diplomata florentino Nicolau Maquiavel.
Em cinco séculos, Maquiavel foi descrito como amante da paz e da harmonia ou como patriota apaixonado. Do mesmo modo há a análise de um Maquiavel frio e calculista, um engenheiro do poder ou tecnocrata político, mas ainda poderia simplesmente ter enveredado pelo irreal ou, então, ser um grande visionário. Ainda assim seria um grande espelho de sua época para descrever os eventos políticos como outros não teriam sido capazes: um observador do cotidiano, um cronista do empirismo, da prática política.
            Maquiavel seria um homem voltado à razão, a uma prática do poder que suportasse o Estado Moderno nascente. Em suma, o maior teórico da Razão de Estado: “Para Fichte ele é um homem com profundo insight pelas reais forças histórias (ou supra-históricas) que moldam os homens e transformam sua moralidade — em particular, um homem que rejeitava os princípios cristãos em favor dos da razão, da unidade política e da centralização” (Berlin, 2003, p. 22).
            Por isso, não deixa de soar estranha a opinião de que Maquiavel só falasse dos homens de seu tempo, e mais, só para os italianos. Ao contrário, mais parece que queria indicar as bases permanentes da Ciência Política. De outro modo, poderia ser definido como um obcecado pelo passado remoto, pelos clássicos, com o que seu método de análise estaria fora de curso. Para Bacon, entretanto, foi um iluminador da realidade, sem fantasias ou dever-ser — o pai daStaatsräsonRazão de Estado
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