terça-feira, 27 de junho de 2017

A jornada de Dallagnol entre Joseph Campbell e Maquiavel, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Por Fábio de Oliveira Ribeiro

Há alguns meses teci alguns comentários sobre o Morodämmerung, no texto O crepúsculo do deus da Lava Jato. Hoje farei algumas considerações sobre o crepúsculo de outro inimigo mortal do PT.
Quando declarou guerra a Lula, Deltan Dallagnol foi apresentado ao respeitável público como um moço religioso, abnegado, honesto e totalmente comprometido com a cruzada contra a corrupção. As entrevistas e fotos dele inundaram a internet. Impossível esquecer a imagem dele ajoelhado sendo ungido por pastores evangélicos como se fosse um hospitalário que colocaria a vida em risco para garantir a rota entre a Europa e Jerusalém conquistada aos mouros.
É evidente que o procurador da Lava Jato deixou de ser apenas um servidor público como outro qualquer. A imprensa o transformou num personagem grandioso e passou a reforçar esta imagem. Em pouco tempo a carreira profissional de Deltan Dallagnol submergiu e deu lugar à uma verdadeira trajetória do herói concebida sob a inspiração da obra de Joseph Campbell:
Todavia, o procurador da Lava Jato apenas se tornou um verdadeiro pop-star quando apresentou o powerpoint demonstrando que Lula era o líder máximo de uma organização criminosa. Foi nesta oportunidade que ele disse a frase famosa que começou a destruir sua imagem. Perguntado sobre como havia chegado à conclusão de que o ex-presidente petista era o capo di tutti capi Dellagnol disse:
“Não temos provas, mas convicção…”
A corrupção dos princípios constitucionais de Direito Penal pelo procurador, porém, não foi notada pela imprensa. O acusado não era um dos mascotes amestrados dos barões da mídia. José Dirceu foi condenado porque não provou sua inocência (voto de Luiz Fux), Lula foi denunciado porque a convicção do procurador servia como indício da prova do crime, da autoria e da motivação.
Imediatamente os juristas brasileiros começaram a questionar as estranhas teorias de Dallagnol. Mas a imagem dele não sofreu um grande dano, pois a grande imprensa seguiu reforçando a imagem positiva que criou para ele. Seguro de si, o procurador começou a cometer erros.
O primeiro foi adquirir imóveis utilizando um programa social destinado à população de baixa renda. Dallagnol ganha quase 100 mil reais por mês e não é exatamente um pobrezinho que precisa de subsídio estatal para comprar a primeira casa própria. O segundo erro dele foi bem mais grave do ponto de vista iconográfico. No dia da audiência de interrogatório de Lula por Sérgio Moro, o hospitalário do MPF tirou folga e deixou a espada pendurada na parede. A ausência dele foi interpretada como covardia profissional imperdoável.
E então uma bomba explodiu no colo do procurador mutilando definitivamente sua imagem de bom moço. É fato, Dellagnol está utilizando seu cargo e as informações privilegiadas sobre a Lava Jata que detém para dar palestras em troca de dinheiro. No início do processo as motivações dele pareciam ser apenas religiosas, políticas e ideológicas. No final, o que impele o acusador de Lula é apenas a ganância pelo vil metal.
A saga do procurador da Lava Jato começou como uma jornada do herói descrita por Joseph Campbell e tudo indica que ela terminará como uma paródia da obra de Maquiavel.
O quanto os homens podem facilmente corromper-se
O decenvirato nos fornece um exemplo da facilidade com que os homens se deixam corromper; da presteza com que o seu caráter se transforma, ainda quando naturalmente bom e cultivado pela educação.
Basta considerar como os jovens que Ápio escolhera para acompanhá-lo logo se familiarizaram com a tirania, deixando-se seduzir em troca de umas poucas vantagens. Basta ver Quinto Fábio, membro do segundo decenvirato, homem famoso pela virtude, mas a quem a ambição cegou, sendo seduzido pela perversidade de Ápio e desprezando a virtude para mergulhar no vício, tornando-se em tudo um émulo deste.
São fatos, que examinados maduramente, darão mais motivos ainda aos legisladores da república e dos reinos para impor um freio às paixões dos homens, tirando-lhes a esperança de poder errar impunemente.” (Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio, Nicolau Maquiavel, editora UNB, Brasilia, 5a.edição, 2008, p. 139)
Além de corromper os princípios constitucionais de Direito Penal ao acusar e humilhar publicamente Lula sem provas, Dallagnol fez a mesma coisa que os corruptos fazem: ele usou o cargo que ocupa para obter vantagens pessoais. O ciclo dele está completo e a imprensa certamente irá descartá-lo. A queda do procurador da Lava Jato é inevitável. Quando for suspenso ou perder o cargo ele poderá finalmente se dedicar mais ao estudo da bééééblia. Mas se ele resolver estudar Direito Constitucional e Maquiavel tanto melhor.

Fonte:JornadaGG

terça-feira, 20 de junho de 2017

Para escritor, Dilma teria destino diferente se tivesse seguido lições de Maquiavel

No recém-lançado 'A Queda de Dilma', lances políticos que levaram à queda de petista são esmiuçados e comparados aos mandamentos de 'O Príncipe'


Se a presidente cassada Dilma Rousseff tivesse se aprofundado na leitura de um dos clássicos da teória política, o destino dela poderia ter sido sensivelmente diferente. Pelo menos essa é a tese do jornalista Ricardo Westin, autor do recém lançado "A Queda de Dilma" (Ed. Universo dos Livros).


No livro, o jornalista explica que, ao desprezar as lições políticas de Maquiavel, Dilma Rousseff cavou a sua própria derrocada política. Os lances políticos que levaram à queda da petista são esmiuçados e, ao mesmo tempo, comparados aos mandamentos contidos em "O Príncipe".
“O destino de Dilma poderia ter sido menos duro se ela simplesmente tivesse folheado um livro antigo que já passou pelas mãos dos líderes políticos mais influentes do mundo no decorrer dos últimos 500 anos: O Príncipe, o manual do poder escrito em 1513 pelo brilhante pensador político Nicolau Maquiavel”, explica Westin.

segunda-feira, 8 de maio de 2017

História Hoje: Nascia há 548 anos Maquiavel, o filósofo que ensinou a governantes a arte do poder

"Quando você tiver de fazer algum mal a alguém, faça-o todo de uma só vez. A dor será intensa, mas apenas uma. Já o bem, faça-o em parcelas. O favorecido ficará alegre e grato a você várias vezes".

Há 548 anos, o mundo receberia de braços abertos e veria crescer e se desenvolver o pensamento maquiavélico. Niccolò di Bernardo dei Machiavelli. Esse era o nome de batismo de Nicolau Maquiavel, escritor, diplomata e político italiano, que nasceu no dia 3 de maio de 1469, em Florença.

Por volta de 1500, Maquiavel escreveu O Príncipe, um título aparentemente romântico para uma espécie de tratado sobre a arte de governar.


Pesquisa, texto e edição: Patrícia Leite
Voz de Maquiavel: Gabriel Pinheiro
Sonoplastia: Messias Melo

História Hoje: Programete sobre fatos históricos relacionados a cada dia do ano. É publicado de segunda a sexta-feira. Acesse aqui as edições anteriores.


segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Existe uma banalização da justiça contra os poderosos?

Os novos e os antigos poderosos dos Executivos e Legislativos não se cansam de reclamar - os órgãos de fiscalização, notadamente os promotores públicos, estariam exagerando no cumprimento de suas funções. E estão. Emitem ofícios, abrem processos, debatem na imprensa, processam e, especialmente, prendem aqueles que, até há pouco, agiam e se sentiam "donos do poder". O tempo dos ultrapoderosos do Executivo passou...
As novas atribuições dos promotores pertenciam aos delegados de polícia e aos membros dos legislativos. Foram tão somente ampliadas e modernizadas. A polícia civil se encarregava da prisão dos poderosos. Aos vereadores, deputados e senadores era atribuído o poder de fiscalizar os membros das prefeituras, governos estaduais e federal. Era. Na prática, isso deixou de existir.
Perderam os poderes porque não os praticaram. Pior. Muitos, deles, se locupletaram.
Partidarizaram, esqueceram de prestar serviço para a sociedade e foram fazer genuflexões aos poderosos. Os promotores, jovens em sua maioria, ocuparam os espaços, ocuparam um vácuo que existia desde dezenas de anos. Talvez, desde sempre. Delegados e parlamentares perderam seus poderes. Provavelmente, para sempre. Enquanto corporações, estão diminuídos em suas ações. Também não gozam de credibilidade ou respeito.
Mas, afinal, existe uma banalização dos promotores de justiça contra os poderosos? A resposta é que existem exageros, no meio de acertos. São decorrentes de atos de afirmação, de gerir o que é novo. Ainda estão aprendendo e medindo suas forças reais. "Espicham" as leis para ver até onde é possível chegar. Também há o erro, esperado para quem estuda, dos exageros midiáticos. Não podem ver uma câmera de televisão ou um repórter sem emitir opiniões ou proferir sentenças, usurpando o papel dos juízes. São apenas 3 ou 4 anos de verdadeiro poder. Muito pouco tempo para eles, e parcela ponderável da população, estabelecerem os reais limites de seus poderes.
Terão de aprender a usar a arma que a sociedade lhes legou, sem perder a bala, sem desperdiçar o cacife de credibilidade que lhes foi legado. Terão de aprender a não apresentar denúncias vazias ou raquíticas. Não podem banalizar. Também não podem denunciar gregos e deixar incólumes troianos. Terão de entender que os poderosos hoje tremem com suas ações. E respeitar esse temor reverencial. Não podem desejar a extinção do poder executivo. Atualmente, uma parcela de loucura, ou de desconhecimento, acomete aqueles que ousam aceitar um cargo de secretário municipal. 
A continuar, abandonarão os cargos, pedirão demissão. As notícias que chegam dos bastidores da administração municipal dizem que quase todos estão vivendo sob a égide do temor, alguns do terror. Há poucos dias chegaram ao porto do poder, preparam as malas para o retorno a seus lares.

O novo Maquiavel e as antigas Leis do Poder
Em sua posse com prefeito de São Paulo, João Dória, citou um autor norte americano, cujo livro de estréia, "As 48 Leis do Poder", vem sendo comparada a "O Príncipe", obra póstuma de Nicolau Maquiavel, clássico da ciência política. O livro do norte americano vem sendo considerado a "Nova Bíblia dos Políticos". É um best-seller sobre poder, estratégia e sedução. A lei mais polêmica: "destrua seus inimigos completamente", é uma das causadoras do sucesso desse livro, que vem sendo lido e usado não só por políticos, mas também por empresários e administradores. Mas também há o "Mantenha as mãos limpas". Em verdade é uma releitura de Maquiavel, uma modernização do antigo pensamento sobre o poder. Vamos a elas:

1. Não ofusque o brilho do mestre.
2. Não confie demais nos amigos, aprenda a usar os inimigos.
3. Oculte as suas intenções.
4. Diga sempre menos do que o necessário.
5. Muito depende da reputação, dê a própria vida para defende-la.
6. Chame atenção a qualquer preço.
7. Faça os outros trabalharem por você, mas sempre fique com o crédito.
8. Faça as pessoas virem até você, use uma isca, se for preciso.
9. Vença por suas atitudes, não discuta.
10. O contágio: evite o infeliz e azarado.
11. Aprenda a manter as pessoas dependentes de você.
12. Use a honestidade e generosidade seletiva para desarmar a sua vítima.
13. Ao pedir ajuda, apele para o egoísmo das pessoas, jamais para a sua misericórdia ou gratidão.
14. Banque o amigo, aja como espião.
15. Aniquile totalmente o inimigo.
16. Use a ausência para aumentar o respeito e a honra.
17. Mantenha os outros em um estado latente de terror, cultive uma atmosfera de imprevisibilidade.
18. Não construa fortalezas para se proteger, o isolamento é perigoso.
19. Saiba com quem está lidando, não ofenda a pessoa errada.
20. Não se comprometa com ninguém.
21. Faça-se de otário para pegar os otários, pareça mais bobo do que o normal.
22. Use a tática da rendição: transforme a fraqueza em poder.
23. Concentre as suas forças.
24. Represente o cortesão perfeito.
25. Recrie-se.
26. Mantenha as mãos limpas.
27. Jogue com a necessidade que as pessoas tem de acreditar em alguma coisa para criar um séquito de devotos.
28. Seja ousado.
29. Planeje até o fim.
30. Faça suas conquistas parecerem fáceis.
31. Controle as opções: quem dá as cartas é você.
32. Desperte a fantasia das pessoas.
33. Descubra o ponto fraco de cada um.
34. Seja aristocrático ao seu próprio modo, aja como um rei para ser tratado como tal.
35. Domine a arte de saber o tempo certo.
36. Despreze o que não puder ter: ignorar é a melhor vingança.
37. Crie espetáculos atraentes.
38. Pense como quiser, mas comporte-se como os outros.
39. Agite as águas para atrair os peixes.
40. Despreze o que vier de graça.
41. Evite seguir as pegadas de um grande homem.
42. Ataque o pastor e as ovelhas se dispersam.
43. Conquiste corações e mentes.
44. Desarme e enfureça com o efeito espelho.
45. Apregoe a necessidade de mudança, mas não mude muita coisa ao mesmo tempo.
46. Não pareça perfeito demais.
47. Não ultrapasse a meta estabelecida; na vitória, aprenda a parar.
48. Evite ter uma forma definida.
Grandes escritores não morrem, presidentes são listas
Quem hoje lembra o nome do rei da França na época de Moliére? Quem era o presidente dos Estados Unidos durante a vida de Edgard Allan Poe? Quem sabe o nome do czar da Rússia enquanto vivia Dostoievski? Dostoievski ou Tolstoi são hoje mais famosos e mais presentes que Alexandre ou Nicolau número tal. Por acaso você se lembra quem era o Presidente do Brasil quando morreu Machado de Assis? Reis e presidentes são apenas listas. Poderes efêmeros e com prazo de validade em cima do código de barras. Os grandes escritores e pensadores não morrem.