terça-feira, 30 de março de 2010

Fichamento Da Obra “O Príncipe” De Maquiavel

Capítulo I
Classifica-se o Estado em dois tipos: repúblicas e principados.
Os principados podem ser hereditários ou fundados recentemente, que podem ser de todo novos ou anexações.
A república não é objeto de discussão na obra.

Capítulo II

Destaca-se a menor dificuldade em manter Estados herdados, visto que os súditos estão acostumados à família reinante.
Maior dificuldade se encontra em manter monarquias novas. Deve-se evitar, neste caso, transgredir os costumes tradicionais e saber adaptar-se a circunstâncias imprevistas.

Capítulo III

Fala-se da dificuldade em manter os Estados novos, visto a facilidade com que os homens mudam de governantes, e, a esperança de melhoria acaba os levando a levantar em armas contra os atuais.
Para que se estabeleça num Estado novo, deve-se observar alguns pontos.
Primeiramente, é necessário o apoio dos habitantes do território para poder dominá-lo.
Note-se que um território nunca volta a ser perdido com a mesma facilidade. A rebelião pode até trazer resultados positivos como o fortalecimento de sua posição.
De preferência o soberano deve estar presente, pois desta maneira os distúrbios são rapidamente percebidos e corrigidos.

Capítulo IV

Destaca-se que não haverá rebelião se a linha política for mantida.
No que diz respeito a conquistas, o Estado dirigido por um único soberano é difícil de conquistar e fácil de manter. Já o Estado governado por muitas pessoas é fácil de conquistar e difícil de conservar.
No primeiro tipo citado, para conquistar o Estado, basta aniquilar o príncipe e sua família, ao passo que no outro não basta apenas estes, mas também os nobres.

Capítulo V

Segundo o autor ao conquistar um Estado regido por leis próprias, há três modos de mantê-lo: arruiná-lo, habitá-lo, ou permitir que continuem vivendo com suas próprias leis, mas pagando tributos e organizando um governo composto por pessoas amigas.
No entanto, o método mais seguro é a destruição, pois os habitantes sempre terão motivos para lutar em nome da liberdade.

Capítulo VI

Aqueles que se tornam príncipe por seu valor conquistam seus domínios com maior dificuldade, todavia os mantêm mais facilmente; as dificuldades, então, surgiriam na introdução de inovações. No caso de introduzir inovações, porém, é mais seguro e prudente que as faça por meios próprios, pois aqueles que dependem da ajuda de outrem sempre falham, não chegando a lugar algum. Introduzidas as mudanças, as dificuldades residirão, agora, em mantê-las.

Capítulo VII

Os que se tornam príncipes tão-somente pela sorte têm dificuldade para manter o poder, embora tenham-no conseguido sem grandes dificuldades. A manutenção do poder ficará na dependência da mesma sorte que o levou a ele.
Evidentemente que os Estados criados subitamente não têm raízes sólidas, de modo que são facilmente derrubados, a menos que o príncipe tenha virtudes. A solução é preparar os alicerces do poder antes de alcançá-lo, pois depois representará grande esforço e perigo.

Capítulo VIII

Pode-se chegar ao poder a partir ou a favor de atos criminosos. No entanto, deve-se tomar cuidado, pois atos criminosos podem conduzir ao poder e não à glória. A crueldade pode ser usada de duas formas: na primeira, usa-se bem quando utilizada toda sorte de crueldade de uma só vez, para garantir o poder e para que as pessoas se satisfaçam com as inovações; de outra maneira, utiliza-se mal quando no começo é pouca, mas aumenta com o tempo.

Capítulo IX

Governo civil vem a ser aquele em que o cidadão se torna soberano por favor de seus concidadãos; neste caso não dependerá apenas do valor ou da sorte, mas da astúcia afortunada. Este governo é instituído pelo povo ou pela aristocracia, sendo que aqueles que são ajudados pelos ricos têm maior dificuldade, uma vez que estes ficam ao lado de quem oferecer maiores vantagens, não sendo de todo fiéis.

É mais difícil satisfazer a nobreza através da conduta justa, sem causar prejuízo aos outros, uma vez que esta só quer oprimir, ao passo que o povo somente deseja evitar a opressão. Por isso é mais prudente confiar no povo neste caso; no entanto, nesta hipótese, deve-se manter a estima do povo, o que se faz unicamente protegendo e não oprimindo.

Capítulo X

Ao examinar as qualidades e avaliar a força dos Estados, deve-se considerar se os príncipes podem se manter no poder por si mesmos ou se só podem se manter no poder com auxílio alheio.
Note-se que o príncipe que é senhor de uma cidade poderosa, e não se faz odiar, não poderá ser atacado; e mesmo se o for, o assaltante não sairia glorioso, mesmo porque um príncipe corajoso e poderoso saberá sobrepor-se a tais dificuldades.

Capítulo XI

Os Estados eclesiásticos são aqueles conquistados por mérito ou sorte, mas não precisa de nenhum destes para mantê-lo, visto que são sustentados por antigos costumes religiosos. Somente estes Estados são seguros e felizes.

Capítulo XII

A base principal de todos os Estados devem ser as boas leis e os bons exércitos.
As tropas mercenárias, neste contexto, não oferecem posição firme e segura, pois os soldados são desunidos, ambiciosos, indisciplinados e infiéis.

Portanto, só os príncipes e as repúblicas armadas, em que respectivamente o príncipe pessoalmente ou um cidadão da república comandam as forças armadas, obtêm grandes progressos, pois as forças mercenárias só sabem causar danos.

Capítulo XIII

As tropas auxiliares podem ser em si mesmas eficazes, mas são sempre perigosas para os que dela se valem. Isto ocorre porque, apesar de unidas, são obedientes a outrem, por isso não proporcionam conquistas.
Assim, é preferível perder com tropas próprias a vencer com tropas alheias.

Capítulo XIV

A guerra deve ser o objetivo ou o pensamento principal do príncipe, pois através dela um príncipe pode perder sua posição de soberano e também ela torna possível a homens comuns galgar a posição de soberanos.
Estar desarmado, assim, significa perder a consideração, principalmente por parte dos soldados. Mesmo em tempos de paz não deve se afastar dos exercícios bélicos.

Capítulo XV

O príncipe deve se ater ao que se faz e não ao que deveria ter sido feito. Ainda, usar a bondade apenas quando e se necessário. Deve também ter prudência necessária para evitar escândalo provocado por vícios que poderiam abalar seu reinado e saber quais os que trazem como resultado o aumento da segurança e o bem-estar.

Capítulo XVI

A liberalidade, quando praticada de modo a ser vista por todos, prejudica o príncipe.
Quem quiser ganhar reputação de liberalidade, despenderá de muita riqueza; no entanto, não deverá esbanjar de seus próprios recursos, pois isso trará prejuízo, o que não acontecerá se esbanjar a riqueza dos outros. Deve cuidar, ainda, para não ser tido como miserável.

Note-se que para os que já são príncipes a liberalidade pode ser prejudicial, ao passo que para os que ainda não são e para os que vivem de roubo, ela se faz necessária.

Capítulo XVII

É preferível ser considerado clemente a ser considerado cruel, porém a reputação de cruel não deve incomodar se o objetivo for manter o povo unido e leal. Os mais novos no poder devem ter reputação de cruel, visto que os novos Estados oferecem muitos perigos.
Não se deve ter medo, deve ter prudência, equilíbrio e humanidade, porém na opção entre ser amado e temido, o príncipe deve optar por ser temido; fazer-se temer, porém sem ganhar o ódio. Deve-se ainda manter tropas unidas e dispostas com fama de crueldade.

Capítulo XVIII

Os príncipes que não respeitam a palavra podem superar os que respeitam; assim, o príncipe não deve agir de boa-fé se isso for contra seus interesses, por isso além de forte deve ser astuto. Não se faz necessário que o príncipe tenha qualidades, mas deve aparentar ter, principalmente a aparência de religiosidade. O príncipe deve evitar se desviar do bem e praticar o mal se necessário.

Capítulo XIX

O príncipe deve evitar ser odiado e desprezado. O que mais faz o príncipe ser odiado é a usurpação dos bens e mulheres do súdito. Um homem esquece mais rápido uma morte do que a perda de um bem.
Deve-se acautelar quanto aos súditos e as potências estrangeiras. A situação interna permanecerá tranqüila se não for perturbada por conspirações e um dos mais poderosos remédios contra as conspirações é não ser odiado pela massa popular; o conspirador acredita sempre que a morte do soberano satisfará o povo.

Assim, o príncipe, embora não possa evitar de ser odiado por algumas pessoas, deve buscar em primeiro lugar evitar o ódio das massas e se não conseguir, evitar o ódio dos poderosos.

Capítulo XX

O príncipe não pode desarmar seus súditos, pelo contrário, estando eles desarmados, deve armá-los, pois esses braços armados pertencerão ao monarca. Além do mais, desarmar os súditos pode ofendê-los. O desarmamento deve ocorrer apenas no caso de anexação.
Note-se que quando o inimigo se aproxima, a fração mais fraca aderirá a ele. Superar oposições e inimizades gera e incrementa a grandeza.

O autor destaca que o príncipe que temer aos seus súditos deve construir fortalezas, no entanto, mais vale a amizade e a estima dos cidadãos, que fortalezas.

Capítulo XXI

O príncipe deve ser estimado, dar grandes exemplos e prometer grandes empreendimentos. Deve procurar em todas as suas ações conquistar fama, grandeza e excelência, ser amigo ou inimigo declarado, evitando a neutralidade. Devem, também, demonstrar apreço pelas virtudes, dar oportunidade aos mais capazes e honrar os excelentes em cada arte, além de incentivar os cidadãos a praticar pacificamente sua atividade.

Capítulo XXII

A escolha dos ministros por parte do príncipe é de grande importância. Deve escolher homens eficientes e fiéis, que compreendam as coisas por si só. Evitar os ministros ruins, ou seja, aqueles que se preocupam mais consigo mesmo.

Capítulo XXIII

Deve-se evitar aduladores. Os conselheiros escolhidos devem ser sábios que dizem com plena liberdade a verdade, quando forem e sobre o que forem consultados; os aduladores fazem com que o príncipe aja precipitadamente. Note-se que o príncipe que não é sábio por si só, não poderá ser bem aconselhado.

Capítulo XXIV

Os príncipes novos têm sua conduta observada muito mais que um antigo; por isso devem fortalecer o Estado com boas leis, boas armas e bons exemplos, além de serem simpáticos ao povo e garantir-se contra os nobres.
Destaque-se que só são boas, seguras e duráveis aquelas defesas que dependem exclusivamente de nós, e do nosso próprio valor.

Capítulo XXV

Não se deve deixar que o acaso decida; basear-se apenas na sorte pode trazer a ruína quando esta mudar.
Deve-se agir de acordo com as circunstâncias. Cada época e cada lugar requerem um caminho diferente a seguir para alcançar determinados objetivos; assim, mudança de circunstâncias e tempos requer uma adequação para não trazer a ruína.

Capítulo XXVI

Por fim, não há nada melhor do que erguer-se das ruínas para mostrar sua força e seu valor.


SANDRA VAZ DE LIMA - Perfil do Autor:
Nascida no município de Telêmaco Borba -Paraná. Graduada em Letras/ Inglês. Especialista em Educação Especial e Psicopedagogia Clinica/institucional. Atua na área de Educação Especial e Educação Infantil.

Fonte:Artigonal

segunda-feira, 29 de março de 2010

Seráa?

Roberto Garcia Simões

Para tentar captar o momento estadual, resgatei frases sobre política e de políticos. Para Charles Maurras, "Em política tudo é permitido, exceto deixar-se surpreender".
Será? Compõe o estilo Paulo Hartung preceder o anúncio solene de uma decisão político-eleitoral por um clima de suspense. Esse clima fertiliza bochichos e sinais confusos - que o mantém em evidência. Depois, confirma-se a expectativa mais esperada.

Os indicativos antecipados do dia 19 denotavam um ato de despedida: fotos na escadaria do palácio e um livro com o "balanço" do governo 2003-2010. Ambos, típicos de final de mandato. Mas, no discurso, o governador PH mudou o desfecho costumeiro de seus suspenses. Afirmou: "Permaneço ...", traduzido como "Fico".

Será alterada a disputa para o Senado? A resposta não pode ser precipitada. O governador PH desfez um suspense - e gerou dúvidas. Antecipou a sua decisão em mais de duas semanas. Esse tempo político é uma "eternidade". O próprio governador disse que trataria da eleição na "hora certa". A primeira "hora certa" será 2 de abril.

Para ACM, "A política é feita do possível, e o possível se examina na hora"; o respeitado Mário Covas "Disse não ontem, digo não hoje. O que vou dizer amanhã, só vou (sic) pensar amanhã".

Na história política, definições impactantes de lideranças despertaram apelos, mensagens, movimentos mais ou menos "espontâneos". Com Vargas, foi o "queremismo". De sinal trocado, ainda no dia 19, divulgou-se que uma caravana da direção nacional do PMDB virá ao ES em prol da candidatura PH. Será algo isolado? O doutor Ulysses reforça, assim, especulações: "Em política, até a raiva é combinada". Surgirão outras iniciativas com propósito idêntico? Decisão "madura" se diferencia da irreversível.
Será que o político PH ficará sensibilizado até 2 de abril? JK deu uma senha: "Volto atrás sim, com o erro não há compromisso". Ou o Barão de Itararé tem razão: "O mistério de hoje pode ser o ministério de amanhã".

O que influenciou, "nos últimos dias", o "fico"? Não é convincente o "compromisso das urnas"; o mandato de senador ficou pela metade. Influenciou, sim, a repercussão das "masmorras". Será possível minorar o desgaste? Até o dia 2 de abril ou até dezembro? PH é cioso da sua biografia e da imagem do seu governo. Também pesou o risco eleitoral do candidato do palácio ao palácio. Para reduzi-lo, perseverar na autoritária candidatura quase-única e eliminar o segundo turno? Ficar sem mandato e garantir o sucessor? No discurso, o vice Ferraço foi prestigiado: "Está preparado para assumir qualquer função...". Qualquer?

Reaberto o jogo político, na véspera, valorizou-se o passe de Sérgio Vidigal-PDT. Um time adversário (?) que tem o titular competitivo poderia ficar reforçado com essa adesão? Depois, João Coser-PT rumou para o vestiário. Reunião de "exigências"? O PT ficou com a conta das "masmorras"? Como retornará ao gramado? PT e PSB se reaproximarão? O campeonato será longo: 5 de julho, último dia para o registro de candidatos.

A "ampla aliança" está disputando fatias do poder, em busca do time "único", visando a suprimir o suspense desejável: a disputa de projetos nas urnas. Será mais um traço do modelo capixaba de democracia? Maquiavel sintetiza: "Um príncipe nunca precisa de razões legítimas para quebrar suas promessas".

Roberto Garcia Simões, professor da Ufes, escreve nesta coluna às terças-feiras.E-mail: robertog@npd.ufes.br

Fonte:Gazeta.online

segunda-feira, 15 de março de 2010

Pa­lan­que úni­co pa­ra Dil­ma

O mo­do co­mo o pre­si­den­te Lu­la da Sil­va vem ar­ti­cu­lan­do as ali­an­ças de sus­ten­ta­ção da can­di­da­tu­ra da mi­nis­tra Dil­ma Rous­seff (PT) mos­tra ha­bi­li­da­de po­lí­ti­ca e um prag­ma­tis­mo que dei­xa­ria Ni­co­lau Ma­qui­a­vel de­cer­to ator­do­a­do. An­tes de co­men­tar o qua­dro de Go­i­ás, ci­te­mos os ca­sos de São Pau­lo e Mi­nas Ge­ra­is. Em São Pau­lo, on­de o PT, em­bo­ra só­li­do, nun­ca ele­geu um go­ver­na­dor, o pe­tis­ta-che­fe mu­dou sua es­tra­té­gia. Ar­ran­cou Ci­ro Go­mes do Ce­a­rá com o ob­je­ti­vo de fa­zê-lo go­ver­na­dor de São Pau­lo, ava­li­an­do que só um lí­der de ma­tiz na­ci­o­nal po­de des­tro­nar os tu­ca­nos em seu ter­ri­tó­rio pre­fe­ren­ci­al.

O se­gun­do as­pec­to é que, se con­se­guir re­ti­rar Go­mes do ce­ná­rio na­ci­o­nal, dei­xa a are­na lim­pa pa­ra a ba­ta­lha ex­clu­si­va en­tre sua pu­pi­la e o tu­ca­no Jo­sé Ser­ra. Lu­la ava­lia que, com ape­nas dois pos­tu­lan­tes efe­ti­va­men­te com­pe­ti­ti­vos, se­rá ca­paz, com sua po­pu­la­ri­da­de e pro­sá­pia, de ele­ger sua pro­te­gi­da no pri­mei­ro tur­no. Po­de pa­re­cer ex­ces­so de con­fi­an­ça, mas o pe­tis­ta acre­di­ta no que diz. Em Mi­nas, o PT tem dois pré-can­di­da­tos ao go­ver­no, o mi­nis­tro Pa­trus Ana­ni­as e o ex-pre­fei­to de Be­lo Ho­ri­zon­te Fer­nan­do Pi­men­tel, es­pé­cie de Aé­cio Ne­ves da es­quer­da. Sa­be­dor de que Ser­ra vai in­ves­tir ma­ci­ça­men­te em São Pau­lo e Mi­nas, pa­ra se con­tra­por a uma pos­sí­vel der­ra­ma de vo­tos em Dil­ma no Nor­des­te, o che­fe pe­tis­ta pla­ne­ja ar­ti­cu­lar uma cha­pa for­te pa­ra go­ver­na­dor em Mi­nas, com uma com­po­si­ção en­tre o mi­nis­tro Hé­lio Cos­ta (PMDB), lí­der nas pes­qui­sas, e o PT de Ana­ni­as e Pi­men­tel.

O PT mi­nei­ro é re­bel­de, mas ten­de a ce­der, an­te o ob­je­ti­vo mai­or, a su­ces­são na­ci­o­nal. O pré-can­di­da­to do PSDB, An­tô­nio Anas­ta­sia, fi­gu­ra em ter­cei­ro lu­gar nas pes­qui­sas, mas Lu­la sa­be que o apoio de­ci­di­do do go­ver­na­dor Aé­cio Ne­ves po­de mu­dar o jo­go e, no ca­so de o PMDB e o PT não se uni­rem, pas­sa a ter chan­ce de ser elei­to. O que Lu­la quer em São Pau­lo e Mi­nas é um pa­lan­que úni­co e for­te pa­ra Dil­ma. O PT quer man­ter o po­der fe­de­ral, al­ta­men­te con­cen­tra­dor de re­cur­sos, o que tor­na os go­ver­nan­tes dos Es­ta­dos pe­din­tes de ter­no e gra­va­ta.

Pa­lan­que úni­co pa­ra Dil­ma é o que Lu­la quer em pra­ti­ca­men­te to­do o Bra­sil. Em Go­i­ás não é di­fe­ren­te. Ali­ás, se for cons­tru­í­do pa­lan­que du­plo, Lu­la de­ve au­sen­tar-se do Es­ta­do du­ran­te a cam­pa­nha. Por is­so, se de­pen­der do pre­si­den­te, do PT e do PMDB, o pre­fei­to de Go­i­â­nia, Iris Re­zen­de, se­rá can­di­da­to de um cha­pão dos dois par­ti­dos ci­ta­dos mais PP e PR, além de PSB e PTN. Sem ex­clu­ir o DEM de Ro­nal­do Cai­a­do. Não é ape­nas por­que Lu­la quer der­ro­tar o se­na­dor Mar­co­ni Pe­ril­lo, do PSDB. É, so­bre­tu­do, por­que o pe­tis­ta quer o mai­or nú­me­ro de par­ti­dos e mi­li­tan­tes en­ga­ja­dos, des­de o pri­mei­ro tur­no, na cam­pa­nha de Dil­ma. Pa­ra tan­to, pre­ci­sa de um pa­lan­que úni­co, pa­ra não di­vi­dir pres­tí­gio.

Na se­ma­na pas­sa­da, a im­pren­sa tra­tou as opi­ni­ões de Iris co­mo um re­cuo. Te­ria he­si­ta­do e po­de­ria não mais dis­pu­tar o go­ver­no do Es­ta­do. O fa­to de ter dú­vi­das so­bre seu pro­je­to po­lí­ti­co sig­ni­fi­ca, an­tes de qual­quer coi­sa, que não é ob­tu­so, por­que só os nés­cios não se ques­ti­o­nam. Ao con­trá­rio do que mui­tos pen­sam, o pre­fei­to não es­ta­va ble­fan­do ou exer­ci­tan­do tão-so­men­te um jo­go po­lí­ti­co, o das pres­sões. Na ver­da­de, des­de al­gum tem­po, Iris rein­ven­tou seu mo­do de fa­zer po­lí­ti­ca. Pas­sou a apos­tar em ali­an­ças qua­li­ta­ti­vas, com o PT, por exem­plo, e foi re­e­lei­to com fa­ci­li­da­de em Go­i­â­nia, em 2008. É pro­vá­vel que con­se­gui­ria se ele­ger sem o PT, e tal­vez já no pri­mei­ro tur­no, co­mo ocor­reu, mas, ao se ali­ar aos pe­tis­tas, mos­trou des­cor­ti­no e ca­pa­ci­da­de de agre­gar fo­ra do cír­cu­lo pe­e­me­de­bis­ta. Ad­qui­riu, por as­sim di­zer, mais con­fi­a­bi­li­da­de pa­ra fu­tu­ras ar­ti­cu­la­ções.

O que que­rem o PT, Lu­la, o PP de Al­ci­des, o PR de San­dro Ma­bel, o PSB de Bar­bo­sa Ne­to e o PMDB de Iris? Der­ro­tar o se­na­dor Mar­co­ni Pe­ril­lo. Por­que, se elei­to, Mar­co­ni po­de “fe­char”, na aná­li­se de al­guns po­lí­ti­cos que lhe fa­zem opo­si­ção, a po­lí­ti­ca de Go­i­ás por cer­ca de oi­to anos ou mais. Jo­vem, dis­pu­ta­ria a re­e­lei­ção em 2014, im­pe­din­do pos­si­vel­men­te a al­ter­nân­cia de po­der. Se que­rem der­ro­tar Mar­co­ni, qua­is são seus ins­tru­men­tos? No mo­men­to pe­lo me­nos, e ape­sar de to­da a mo­vi­men­ta­ção do re­pu­bli­ca­no Van­der­lan Vi­ei­ra Car­do­so, ape­nas Iris ame­a­ça o po­de­rio do jo­vem tu­ca­no. Van­der­lan é um ges­tor com­pe­ten­te, não há dú­vi­da, mas ain­da não tem a ex­pe­ri­ên­cia de Iris e Mar­co­ni. Po­de em­pol­gar al­guns pre­fei­tos, mas em­pol­ga­rá o elei­to­ra­do? En­tão, se es­tá tec­ni­ca­men­te em­pa­ta­do com Mar­co­ni, e é apon­ta­do co­mo o úni­co que tem chan­ce de der­ro­tá-lo, por ­que a ba­se de Lu­la não se une ao pre­fei­to? Se dei­xar a pre­fei­tu­ra, com qua­se três anos de man­da­to pe­la fren­te, de­pois de ter en­xu­ga­do a má­qui­na e ter di­nhei­ro pa­ra in­ves­ti­men­tos, tan­to no Par­que Ma­cam­bi­ra-Ani­cuns quan­to na cons­tru­ção de vi­a­du­tos que vão co­la­bo­rar pa­ra re­or­ga­ni­zar o trân­si­to, en­tre ou­tras obras, Iris te­rá o que per­der. En­quan­to Mar­co­ni, que, se per­der, con­ti­nua no Se­na­do por mais qua­tro anos, e Van­der­lan, que, se per­der, fi­ca­rá ca­ci­fa­do pa­ra ou­tros em­ba­tes, pou­co per­de­rão.

Por is­so, o pre­fei­to tem di­rei­to de re­a­va­li­ar seu pro­je­to. O que ele quer de fa­to? Quer e de­ve dis­pu­tar o go­ver­no, mas su­ge­re uma con­ver­gên­cia de al­gu­mas for­ças po­lí­ti­cas em tor­no de seu no­me. Ele es­tá cha­man­do à ra­zão in­te­gran­tes da ba­se de Lu­la que pos­si­vel­men­te não es­tão ava­li­an­do a his­tó­ria das três úl­ti­mas elei­ções, quan­do o PMDB, pra­ti­ca­men­te iso­la­do, não ga­nhou ne­nhu­ma. Ago­ra, con­ta com o PT de Ru­bens Oto­ni e Pe­dro Wil­son, mas, ape­sar da for­ça de Lu­la e dos dois de­pu­ta­dos fe­de­ra­is, o par­ti­do não es­tá en­ra­i­za­do no Es­ta­do. Lu­la aju­da, sim, mas a elei­ção é es­ta­du­a­li­za­da. Daí a ten­ta­ti­va de Iris de ar­ti­cu­lar um cha­pão pa­ra, co­mo Dil­ma, ten­tar de­ci­dir a elei­ção no pri­mei­ro tur­no.

Não é ta­re­fa do jor­na­lis­mo acon­se­lhar ali­an­ças “x” ou “y”. Mas é mis­são do jor­na­lis­mo ana­li­sar qua­dros que, em­bo­ra pa­re­çam ne­bu­lo­sos, têm cer­ta ló­gi­ca. O gru­po do go­ver­na­dor Al­ci­des Ro­dri­gues tem di­rei­to, ob­via­men­te, de lan­çar seu can­di­da­to a go­ver­na­dor, até por­que a po­lí­ti­ca, co­mo a vi­da, é fei­ta de sur­pre­sas. Mes­mo as­sim, Al­ci­des tem de­mons­tra­do, no po­der, ser do­ta­do de um prag­ma­tis­mo exacerbado. Rom­peu com o se­na­dor Mar­co­ni Pe­ril­lo, ali­a­do des­de 1998, e aliou-se ao pre­si­den­te Lu­la, mas sem per­der in­te­gral­men­te o apoio do tu­ca­na­to. E, aos pou­cos, con­se­guiu o apoio do PMDB e do PT na As­sem­bleia Le­gis­la­ti­va. Por ser re­a­lis­ta, Al­ci­des cer­ta­men­te es­tá exa­mi­nan­do os me­lho­res ca­mi­nhos tan­to pa­ra man­ter o po­der quan­to pa­ra der­ro­tar Mar­co­ni. Jun­tan­do-se a Iris, po­de con­tri­bu­ir pa­ra de­ci­dir a pa­ra­da no pri­mei­ro tur­no. Lan­çan­do can­di­da­to, ten­de a pos­si­bi­li­tar o se­gun­do tur­no. No se­gun­do tur­no, se Mar­co­ni ob­ti­ver uma pe­que­na fren­te, a ten­dên­cia é mui­tos dos ali­a­dos de Al­ci­des mi­gra­rem pa­ra sua cam­pa­nha. Na dis­pu­ta do pri­mei­ro tur­no, quan­do sua ca­ne­ta ain­da tem tin­ta, Al­ci­des ten­de a con­tro­lar a mai­o­ria de seus ali­a­dos.

Al­ci­des e Iris vol­tam a con­ver­sar nos pró­xi­mos di­as, as­sim co­mo Van­der­lan se­rá cha­ma­do à me­sa de ne­go­ci­a­ção. A fren­te am­pla po­de sa­ir das con­ver­sa­ções? Po­de, mas não sai­rá a to­que de cai­xa. Há quem di­ga que cer­to des­gas­te do go­ver­no Al­ci­des po­de atin­gir Iris. Não é o que pen­sa o pró­prio Iris. Po­de ser que o des­gas­te atin­ja Van­der­lan, que pre­ci­sa de for­ma cru­ci­al do go­ver­no pa­ra se tor­nar co­nhe­ci­do — por­que te­rá de ser apre­sen­ta­do por Al­ci­des (já es­tá sen­do) —, mas Iris tem uma lon­ga his­tó­ria co­mo ges­tor e po­lí­ti­co. Os be­ne­fí­ci­os de uma ali­an­ça com Al­ci­des po­dem ser mui­to mai­o­res do que os pre­ju­í­zos.

De qual­quer mo­do, na se­ma­na pas­sa­da, fi­cou evi­den­ci­a­do que o pres­tí­gio de Iris é in­ten­so. O ex-go­ver­na­dor do Dis­tri­to Fe­de­ral, Jo­a­quim Ro­riz, pro­cu­rou o pre­fei­to e hi­po­te­cou to­tal apoio. Pe­diu pa­ra Iris não re­cu­ar e fri­sou que vai ser seu ge­ne­ral elei­to­ral no En­tor­no de Bra­sí­lia. O lí­der do PMDB na Câ­ma­ra dos De­pu­ta­dos, Hen­ri­que Al­ves (RN), hi­po­te­cou apoio a Iris e fri­sou que o PMDB na­ci­o­nal não ad­mi­te qual­quer re­cuo. O PT em pe­so cla­mou pa­ra que o pre­fei­to se­ja can­di­da­to.

Iris só não se­rá can­di­da­to a go­ver­na­dor se não qui­ser. E o pre­fei­to quer.