terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Amado ou temido?

Para o Príncipe, título do mais famoso livro de Nicolau Maquiavel, “é melhor ser amado ou ser temido”?

Esta é uma das mais conhecidas indagações de Maquiavel, a qual ele responde: "...bem, a primeira alternativa é a ideal, sobretudo quando está associado ao respeito por parte dos súditos. Mas ser temido é mais seguro, ainda mais um príncipe novo, que não pode seguir todos os preceitos a que são obrigados os homens considerados de bem. Deve-se saber enveredar pela trilha do mal, se isso lhe for conveniente, ainda que sem esquecer de manter as aparências. Existem crueldades bem praticadas...”

Mas por pensar assim, Maquiavel foi acusado de ingenuidade política ao exprimir suas idéias de forma tão clara, numa circunstância em que o feitiço acabou virando contra o feiticeiro e manchando sua reputação.

Uma coisa importante de Maquiavel seria uma conduta moderada e racional do ponto de vista da adequação entre fins (objetivos) a atingir e os meios para tal.

Para a conquista e preservação do poder, o Príncipe precisa de um conjunto de meios: a esperteza da raposa para evitar os laços; a força do leão para amedrontar os ursos; o talento para a dissimulação, a piedade convenientemente dosada; e, o domínio da arte da guerra e as grandes obras que dão popularidade.

É por isso que muitos mortais enchem a boca e dizem em alto e bom som: “sou maquiavélico”, todavia, de maneira bronca, pejorativa, xucra, e, quiçá, ingênua.

No entanto, para quem está na política, é preciso saber disso tudo, claramente, pois, ampliar o poder político decisório é algo natural no político e no seu grupo político, porém, para ser mais que respeitado na vida política e social, ser franco é ser diplomata, ou seja, saber dizer o não ou o sim na hora “H”, sem ser desagradável ou mesquinho, o que garante credibilidade e legitimidade ao postulante da coisa pública.

Nesse jogo político duro entre aqueles que renegam o lucro, mas que querem preservar seus interesses privados, há que se buscar um novo maquiavelismo político, um novo político que em tese já existia na literatura maquiavélica, apenas estava repousando, que é o exemplo da virtude, da educação, das boas leis, da escolha dos seus "conselheiros" e da segurança aos anseios mais universais como a propriedade, a liberdade de expressão e o reforço à democracia. Tudo isto mantido dentro da maior eficácia da ação do “governante”, que para o mesmo ganhar a guerra, ainda, é uma estratégia eficaz para calar as críticas.

O novo Príncipe terá que impor sua vontade no interior de uma relação social contra todas as resistências. A diferença do antigo para o novo é que o primeiro usava da força para conseguir seus objetivos; já o segundo se expressa de diversas maneiras, onde a corrupção é a mais utilizada para os mais despreparados de formação.

Tchá por Deus, vive de chá co bolo de "Rei" só in festa de Santo é poco demás...

Aos "Príncipes Brasileiros" urge a atuação política no sentido da conscientização de que quem muda uma Nação são as elites livres e responsáveis. Livres de ideologias terceiro-mundistas e responsáveis pela “saúde” do povo.



*ERNANI LÚCIO PINTO DE SOUZA é economista do escritório de economia Paradigma Estudos e Pesquisas, associado da Aprocecon, vice-conselheiro do Corecon-MT e técnico licenciado da UFMT.

*EDSON LUIS LINO JORGE DA SILVA é economista, técnico da UFMT e Ms. em Administração Pública pela UFSC



Fonte:Diariodecuiaba

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Os livros que marcaram a vida de Fernando Capez

"É preciso ter um mundo interior. Não adianta ter dinheiro se você vai aos lugares e não consegue entender nada do que está se passando. É preciso ter cultura e entender o contexto.” O mundo interior a que se refere o deputado Fernando Capez é alimentado por livros e mais livros, muitos deles relacionados à história, assunto pelo qual ele se diz fascinado. Isso porque o ajuda a compreender a mundo a sua volta e os mundos aos quais ele não participou.
O atual deputado estadual Fernando Capez (PSDB), iniciou sua carreira como promotor de Justiça. Ele atuou também como professor durante 18 anos no Complexo Jurídico Damásio de Jesus e na Escola Superior do Ministério Público de São Paulo. Tem 24 livros publicados, principalmente na área de Direito Penal e Processo Penal.

Primeiros livros
Aqueles livros enormes, conhecidos como enciclopédias, que estão caindo em desuso e geralmente só eram abertos para pesquisar trabalhos escolares, eram objetos de desejo de Capez quando criança. “Esse foi meu primeiro contato com a leitura: os livros de história do colégio, o estudo de uma coleção que meu pai comprou nos anos 70, que era o Conhecer. Eu lia muito enciclopédias. Tinha a opção de ler um romance e um livro de história com dados”.
Os livros para Capez eram como um portal para mundos distantes, outros tempos e cenários. Foi por meio da obra O Príncipe, de Nicolau Maquiavel, que ele pôde ir à Florença de sua imaginação. “Eu queria voltar para Florença do final do século XV, quando praticamente começou o Renascimento, com Lorenzo de Médici e todos aqueles artistas. Naquele ambiente de Leonardo da Vinci e, posteriormente, Michelangelo. O livro dele representava tudo isso”, diz.
Enxergando a obra dentro do contexto de pesquisa e de estudo de história, o deputado teve uma opinião diferente do senso comum sobre Maquiavel. Capez o entendeu como alguém que quis escrever um livro para dar conselhos de sobrevivência a um príncipe.

Legado pessoal
Outro livro que despertou o interesse do deputado foi a biografia deThomas Morus, condenado à decapitação pelo rei Henrique VIII por se recusar a reconhecer a Igreja Anglicana. “É o drama de um homem, a família mandando cartas pedindo para ele se retratar e ele com medo de, ao se retratar, negar a Deus e perder o direito à vida eterna. Então, ele preferiu morrer. Há um conflito entre a convicção de um homem e a sua conveniência.”
Durante a época de faculdade, como não poderia deixar de ser, os livros jurídicos foram os protagonistas das estantes de Capez. Na ocasião, quatro autores chamaram a sua atenção. São eles: Nelson Hungria, Magalhães Noronha, Basileu Garcia e Aníbal Bruno. Mais tarde, a obra do professor Damásio de Jesus também foi importante para seu mergulho em Direito Penal.
Para o deputado, o Direito e a história andam de mãos dadas. “Com o estudo da História, você contextualiza o Direito dentro do período histórico em que ele foi concebido. Uma tese era defendida de acordo com o sistema político vigente.”
Norteado por esse pensamento, Capez teve contato com uma publicação que considerou muito importante e decisiva para sua formação. Leu em espanhol a Teoria de la Accion Finalista, do Hans Welzel. Trata-se de uma obra que noticia o sistema jurídico da Alemanha durante os anos de nazismo e na qual o autor estabelece uma relação entre o regime político e o sistema jurídico. Ele diz: “Você só consegue entender o direito nazista se compreender o regime totalitário”.
O livro traz como exemplo Hans Frank, ministro da Justiça do Reich alemão em 1943, “que permitiu que as mulheres estrangeiras praticassem aborto e mantinha como crime o aborto praticado pelas alemãs porque só se protegia a vida dos bebês alemães. Não se protegia a vida intra-uterina dos futuros bebês estrangeiros”.

Livros jurídicos
O interesse do deputado pelos livros vai muito além do papel de leitor. Com mais de uma dezena obras de Direito sob sua autoria no mercado, ele guarda com especial carinho a lembrança de suas primeiras publicações. Na época, foram taxadas como “loucura e ousadia” e atualmente são parte de seu estilo como escritor. “Eu sacrificava a erudição em benefício da comunicação.” Os resultados foram quadros sinóticos explicativos ao final de cada livro, ou charges, muitas vezes cômicas, para ilustrar os temas mais difíceis. 
Ao ser perguntado sobre os livros de sua autoria que mais gosta, ele cita o volume I da coleção Curso de Direito Penal e o Curso de Processo Penal. O autor conta que “Processo Penal” foi escrito no início de 96. A obra foi publicada em novembro de 97. “Já o “Penal Geral” eu comecei a escrever em 1990 e publiquei em 2000. As aulas foram virando o livro”, diz Capez.
Há também uma apostila de Direito Constitucional escrita por Capez há 20 anos, que figura no hall de seus xodós. “Na época era vendida como xerox (a pessoa comprava apostila com folha de sulfite). Para as pessoas não tirarem xerox, eu fazia com letrinha azul bem clarinha e difícil de ler”, diz. Essa “apostilinha despretensiosa” vai virar um curso de Direito Constitucional simplificado, que deve ser lançado no ano que vem.
Li e recomendo
Ultimamente, o deputado Capez andou se debruçando sobre o livro do professor Zygmunt Bauman, chamado Tempos Líquidos, que traz uma abordagem da sociedade moderna sob o prisma de que ela não é mais sólida, pois muda a todo tempo. “Tal como um líquido jogado sobre uma superfície, ela vai se mexendo. Então, fica difícil você ter uma compreensão duradoura de qualquer fenômeno porque tudo muda muito rapidamente”, afirma ele.
Bauman faz uma análise do mundo globalizado, da tendência principalmente nas grandes cidades, das pessoas se isolarem em universos exclusivos e deixarem de desfrutar os ambientes comuns, públicos. “As pessoas passam a viver em condomínios fechados e não visitam mais as praças públicas e não frequentam os parques. Existem os excluídos, aqueles que jamais terão acesso a estes ambientes fechados e eles neste ambiente também são excluídos porque jamais se colocam nos ambientes públicos.”
A obra faz um paralelo entre este fenômeno e o que está acontecendo nos países desenvolvidos. “Da mesma maneira que não está dando certo nos países desenvolvidos isolar o resto do mundo, não dará certo para essas sociedades fazerem esses microorganismos sociais. Então ele diz, numa conclusão, que jamais uma criança poderá dormir tranquila nos Estados Unidos ou na Europa Ocidental enquanto uma criança estiver vivendo sem dignidade no Afeganistão, no Iraque ou na África.”


segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Contando a divertida história baseada em conto de Nicolau Maquiavel, o Circo Tupiniquim narra as venturas e desventuras do casamento

Algo estranho se passava no inferno. O tempo todo, pais de família chegavam sem lenço, sem documento, sem nada. Antes abastados, os maridos que adentravam os portões do sobrenatural eram logo condenados ao fogo eterno, por causa de seus pecados e dívidas impagáveis dos tempos de vida terrena. E de quem era a culpa? Ora, delas, sempre elas, as mulheres, diziam eles. As mulheres eram o problema-mor, as verdadeiras cobras venenosas, que desde os tempos do bom e velho Adão atormentavam os pobres homens e os induziam a tanto desregramento. Por isso, a condenação caberia às mulheres e não aos pobres varões.
Desconfiado e com sua veia investigativa aguçada, o cão dos infernos, que entre alguns nomes carinhosos para os mais íntimos atende também por Belzebu, resolve enviar um de seus homens de confiança, o arquibanqueiro Delfim Merdeles, para viver a grande e talvez suicida aventura do casamento, a fim de desvendar todo o mistério. A história surreal, baseada no conto Belfagor, do florentino Nicolau Maquiavel (1469 - 1527), se transforma numa trama ainda mais hilária com o Circo Tupiniquim, que estreia hoje, 5, na sede do grupo, o espetáculo A Farsa Do Diabo Que Virou Gente, direcionado ao público adulto.
Trabalhando com uma temática universal e ao mesmo tempo sempre atual (o casamento), a trupe do Tupiniquim usa uma linguagem fluida e bem humorada, gerando uma aproximação entre os bonecos e o público, que se identifica com a narrativa e pode dar boas risadas. “A peça fala de inferno, casamento, mas não tem nada de religião. É apenas uma ilustração pra trazer o problema, que é engraçado”, explica o diretor da montagem, Omar Rocha. Segundo ele, houve um cuidado para que o texto, escrito por Oswald Barroso, ganhasse elementos mais atuais, sobretudo na imagem do feminino, já que o texto que serviu de base, escrito por Maquiavel ainda na Idade Média, trazia uma visão atrasada da mulher, envolta em preconceitos e privações. “Tem um pouco de crítica social, mas a gente faz mesmo é uma comédia, sem muito compromisso, que busca o riso”, ressalta o diretor.
O projeto foi vencedor do Edital Das Artes da Secretaria da Cultura do Estado (Secult), em 2010. A história acompanha a trajetória de Delfim Merdeles, que desce à Terra para passar dez anos em um casamento e descobrir se a mulher realmente é a culpada pela decadência dos matrimônios e da sociedade. “Só que ele se apaixona e aí no final tem algumas surpresas”, diz Omar.
No picadeiro, bonecos de mamulengo, teatro de sombras e bonecos de vara interagem com o público, que acompanha de perto e participa do espetáculo. À medida que as cenas vão se sucedendo, a plateia vai girando em torno do espetáculo e algumas pessoas são convidadas a participar da brincadeira. Além disso, música regional ao vivo com zabumba, triângulo e sanfona. Para completar, degustação de vinho junto com o público, em homenagem ao deus Dioniso.
Serviço

A farsa do diabo que queria ser gente


O quê: Espetáculo de teatro de bonecos da companhia

Circo Tupiniquim

Quando: hoje, 5, às 19h, e em todos os sábados de novembro

Onde: Sede do Circo Tupiniquim (CE 040, km 12, na continuação da avenida Washington Soares, entre Eusébio e Aquiraz)
Ingresso: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)Outras informações: 3260 2292/ 8811 6690

Fonte:Opovo

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Sobre entregar-se aos paraguaios

Meu pai sempre costuma dizer, cada vez que abrimos uma garrafa de Merlot para aquecer as nossas conversas, que a história sempre é escrita pelos vencedores, jamais pelos vencidos. E tem muita razão. Invariavelmente, acabamos entrando num assunto que gera longas discussões: a Guerra do Paraguai, ou da Tríplice Aliança. É um pouco conturbado para nós, por um motivo simples: eu recebi educação dos vencedores. Ele, dos vencidos.

Haverá quem diga que o que narram os livros de história brasileiros e argentinos seja reflexo da realidade. Mas sempre existirá uma sombra de dúvida, porque o escritor sempre acaba favorecendo quem pagou a impressão do livro, ou quem lhe deu a oportunidade de mostrar seus dotes artísticos, por assim dizer. Historiador é outra coisa, bem diferente. Já o nome o indica: procura saber indícios da história através de achados, de narrações, de documentos, que corroborem aquilo que ele posteriormente relatará.

Enfim. Ser tendencioso é mais ou menos a mesma coisa que ser torcedor de clube que foi para as divisões inferiores. Sabe que está tudo errado, mas continua gastando seu pouco dinheirinho no ingresso do jogo, para ver se aquilo que ele pensa que é, se transforma em realidade. Nada tenho a ver com torcedores e gêneros afins: não me chama a atenção o futebol, a não ser pela malícia, pela habilidade de alguns jogadores. Por isso, em jogo de Brasil-Argentina, eu me escondo. Não fico gritando na frente da tela da TV, simplesmente porque não entendo a razão de tanto grito.

Voltando ao nosso assunto, através dos anos a Guerra do Paraguai trouxe inúmeras controvérsias. Pelo menos no pensamento e na forma em que a contenda foi abordada nas salas de aula, desde o ensino fundamental até o nível acadêmico. Hoje temos disponível vasta literatura à respeito, mas até uns anos atrás, ignominiosamente se ensinava nas escolas uma versão com clara tendência colonialista.

Lembro de ter brigado com uma professora de história, quando eu tinha uns treze anos, quando ela disse numa aula que “a primeiro de março de 1869, as heroicas tropas argentinas tomavam a cidade de Assunção, derrotando um exército de mais de vinte mil homens.”

Levantei da cadeira (acho que devo ter olhado para ela com este meu olharzinho prometedor de muita briga), e soltei o verbo. “Minha bisavó, mãe do meu avô Pedro Pablo, esteve lá, e ela contou muitas vezes ao meu pai e ao meu avô que os primeiros que entraram em Assunção foram os brasileiros. E não tinha exército de vinte mil homens porcaria nenhuma, porque já tinham matado a quase todos. Em primeiro de março mataram o Mariscal Solano López à beira do rio Aquidabã.”

Obviamente, como acontecia quase que todos os dias, fui expulso da sala. Lá fui eu rezar meu pai nosso na diretoria. Mas não foi minha culpa. Disso tenho certeza. É que nunca perdi o costume de andar escondido entre as pernas no meu pai, ouvindo conversa de gente grande. Acho que faço isso até hoje.

Augusto Roa Bastos (1917-2005) foi um escritor paraguaio notável. Talvez, e digo talvez porque não tenho certeza, o único latinoamericano a ensinar um idioma indígena (guarani) na Universidade de La Sorbonne, França, além de literatura hispano-americana. No seu livro “Eu, O Supremo” ele narra a saga de Gaspar Rodriguez de Francia e a sua luta para a consolidação e a defesa da integridade territorial do Paraguai. O livro foi agraciado com o Prêmio Miguel de Cervantes da Literatura Espanhola em 1989. Vela a pena ler, pela conteúdo histórico, pela narrativa, pela fidelidade de fatos confirmados por documentos existentes e de livre acesso. Foi traduzido para 29 idiomas, portanto tem versão em português.

É a partir de Rodriguez de Francia que o Paraguai tornou-se potência do Cone Sul. Yes, sir. Potência. A primeira fundição de ferro? Estava no Paraguai. A primeira ferrovia? Estava no Paraguai. O primeiro telégrafo? Lá no Paraguai. Enfim. Vou me estender por demais se continuo enumerando. Para quem queira recopilar maiores informações, consta o relatório do primeiro agente oficial inglês que visitou o Paraguai em 1842, após a morte do Dr. Francia, George John Robert Gordon. O relatório em questão está sob a referência F.O. 13/203, da Public Record Office de Londres. É buscando que a gente encontra, não é mesmo?

Para poder entender um pouco do porquê desta guerra, o algodão crescia sozinho nos campos paraguaios. Inglaterra, ao redor de 1864 ou 1865, começava a sua própria revolução industrial. E comprava matéria-prima, ou seja algodão, principalmente de quem fora antes a sua colônia, os Estados Unidos. Porém, 1865 foi o ano em que terminou a Guerra de Secessão Americana, onde morreu quase um milhão de pessoas. Os Estados Unidos não estavam tão unidos. O país era um caos. Os campos de algodão queimados, enfim, um caos mesmo.

Pois é. Bingo. De quem iria comprar Inglaterra? Do Paraguai.

Mas como naquela época imperava um lema que tempos depois a doutrina Monroe usaria em seus discursos, “Paraguai para os Paraguaios”, não houve troca de espelhinhos, como fizeram com os índios. Por isso sempre digo que a leitura ajuda a entender muitas coisas. Quem já leu “De Principatibus” (“O Príncipe”, como é conhecido, mas o nome em si é “Do Principado”) de Nicolau Maquiavel, saberá do que falo. Os britânicos ficaram inquietos, ao ver um pequeno país “de macacos” (assim chamavam os ingleses aos habitantes da América do Sul) exercendo um feroz protecionismo. O país mais progressista de América Latina construía o seu futuro sem investimentos estrangeiros, sem empréstimos dos bancos ingleses e sem a bênção do livre comércio.

Fazer o que? “Ah, vamos atiçar os vizinhos e criar uma guerra. Emprestamos uns trocados, cobramos juros altos e negócio fechado.”

E foi o que fizeram. Dali em diante, só um final: de acordo com documentos que constam na “Casa de la Cultura Paraguaya”, localizada na rua 14 de Mayo esquina com El Paraguayo Independiente, de Assunção, a população do Paraguai ascendia a 1.300.000 pessoas. Em finais de 1870, após o final da Guerra, a população era de 160.000 pessoas, incluídas mulheres, crianças e idosos. Que foi tudo o que sobrou da guerra.

De acordo com o que li sobre os Voluntários da Pátria e outras fontes, foram para a guerra (e isto é assunto para uma próxima conversa) ao redor de 139.000 pessoas, das quais 40% ficou nos campos de batalha. Argentina sofreu outro tanto de baixas, quem sabe mais. Acho que o mundo não fala destas vergonhas, como não fala sobre quem foi o primeiro país a fazer tráfico de escravos. É. Já sei o que vai dizer: Inglaterra. Pois é. Mas essas são coisas do imperialismo e outras ervas, e nisso não me meto.

Estou rindo sozinho aqui. Toda esta conversa só para contar que aqui pertinho da minha casa, na ponta das Caieiras, estão os restos do naufrágio do vapor “São Paulo”. Muitos dizem que ele fugia da Guerra do Paraguai. Errado. Ele tinha sido fretado pelo Governo Imperial em junho de 1865, em inícios da guerra, e era utilizado para transporte de tropas e feridos. Encalhou na costa por causa do nevoeiro de uma noite de novembro de 1868. Até dezembro é possível ver parte do casco, a uns cem metros da praia, na hora da maré baixa. Consta em documentos da Marinha do Brasil que transportava no momento do naufrágio 600 pessoas mais a tripulação, e que muita gente que sobreviveu ficou abrigada nas casas da Vila das Caieiras, até receber o socorro necessário.

P.S. 1º: Sugiro humildemente aos senhores Vereadores do Município de Guaratuba a substituição do nome outorgado à Praça “Alfredo Stroessner”, que se encontra na Praia dos Paraguaios, ou Praia dos Surfistas, devido a este senhor ter sido baluarte latinoamericano do Terrorismo de Estado. O seu nome numa praça é exatamente a mesma coisa que uma rua com o nome de Hitler, Stalin, Menghele, Kadhaffi, Idi Amin Dada, e outras figuras de triste notoriedade mundial. Caso os senhores edis não conheçam sobre história paraguaia, sugiro os nomes de José Asunción Flores, criador do gênero musical conhecido como “guarania”, ou Augusto Roa Bastos, primeiro latinoamericano a lecionar idioma guarani na Universidade de La Sorbonne.  

P.S 2º: Nenia é uma canção fúnebre escrita pelo escritor e poeta argentino Carlos Guido y Spano, um dos tantos que colocara forte oposição “à guerra entre irmãos”, junto com ilustres da época, como Juan Bautista Alberdi e José Hernández, este último criador do “Martín Fierro”. Já está tarde, e a coluna dói. Quem sabe outro dia lhe conto sobre o “Martín Fierro”, a bíblia do gaúcho argentino. 

Até a próxima, se Deus quiser.

Nenia

Llora, llora urutaú

En idioma guaraní,
una joven paraguaya
tiernas endechas ensaya
cantando en el arpa así,
en idioma guaraní:

¡Llora, llora urutaú
en las ramas del yatay,
ya no existe el Paraguay
donde nací como tú #
¡llora, llora urutaú!

¡En el dulce Lambaré
feliz era en mi cabaña;
vino la guerra y su saña
no ha dejado nada en pie
en el dulce Lambaré!

¡Padre, madre, hermanos! ¡ay!
todo en el mundo he perdido;
en mi corazón partido
sólo amargas penas hay #
¡padre, madre, hermanos! ¡ay!

De un verde ubirapitá
mi novio que combatió
como un héroe en el Timbó,
al pie sepultado está
¡de un verde ubirapitá!

Rasgado el blanco tipoy
tengo en señal de mi duelo,
y en aquel sagrado suelo
de rodillas siempre estoy,
rasgado en blando tipoy.

Lo mataron los cambá
no pudiéndolo rendir;
él fue el último en salir
de Curuzú y Humaitá #
¡lo mataron los cambá!

¡Por qué, cielos, no morí
cuando me estrechó triunfante
entre sus brazos mi amante
después de Curupaití!
¡Por qué, cielos, no morí!…

¡Llora, llora, urutaú
en las ramas del yatay;
ya no existe el Paraguay
donde nací como tú.
¡Llora, llora, urutaú!

Fonte:Correiodolitoral.com

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Os fins justificam os meios

O diretor Gabriel Mascaro decidiu convidar 125 pessoas muito ricas e proprietárias de coberturas a falar sobre este “modo de vida”. Apenas 9 delas aceitaram. O documentário anuncia uma curiosa lista em que essas pessoas estariam presentes, sem dar mais detalhes sobre onde ela se encontra ou como foi elaborada. Também não se diz nada a respeito da maneira como estes indivíduos foram abordados – de que maneira se convence uma pessoa riquíssima a falar de sua riqueza num documentário?
Dessas questões essenciais de ética, o filme não fornece detalhes. O que lhe interessa é o que essas pessoas têm a dizer. Neste sentido, o documentário se mostra riquíssimo, revelando uma visão bastante particular que estes moradores possuem das classes baixas, da noção de propriedade e de mérito. As frases de efeito se acumulam às dezenas, da mulher que acha os tiros da favela lindos, porque se parecem com fogos de artifício, passando pelo empresário que diz que merece a riqueza por ser um líder nato, ao filho mimado que diz que escreve “cobertura” em seu endereço para ser mais respeitado pelos amigos.
Entram em choque direto as noções de interior e exterior, de mérito e democracia, de liberdade e segurança. Os entrevistados se dizem seguros e livres dentro de seus diversos metros quadrados repletos de câmeras de segurança, ou então se sentem superiores e dominadores em relação aos andares de baixo, ou ainda dizem que sua riqueza é o fruto de um esforço que está ao alcance de qualquer um.
Mascaro conduziu todas essas pessoas não apenas a apresentarem suas vidas, mas a justificá-las, a explicar de onde vem a riqueza e porque as pessoas ao redor não possuem as mesmas oportunidades. Face a estas questões tão explícitas quanto complexas, todos fogem da “culpa burguesa” que o diretor parece querer atribuir a cada um deles. Defendem que o poder material é um presente divino, ou a ordem natural das coisas, ou ainda que ela não impede de praticar a caridade, “compensando” a desigualdade de oportunidades.
O grande problema de todas as frases exemplares extraídas desses entrevistados alienados e reacionários é justamente a maneira como se obteve o conteúdo procurado. Inicialmente, o documentário não admite que estas pessoas acreditam estar falando para um vídeo destinado aos países estrangeiros. Certamente suas reações teriam sido outras se conhecessem o uso real das imagens. Em seguida, Mascaro mantém o som da câmera ligada mesmo quando a entrevistada lhe pede para cortar, porque sente que “algo está sendo conduzido nisto tudo”.
Driblando os princípios da ética do documentário, o diretor parte do princípio que o fim justifica os meios – tudo vale para extrair frases tão absurdas daquelas pessoas cujas vidas já se considerava, desde o começo, absurdas. Mesmo um documentarista controverso como Michael Moore, que está muito longe de ser um exemplo de ética na imagem, deixa claro aos homens políticos republicanos que sua posição é contrária a que estes homens defendem.
O realizador usa metáforas, filma prédios de cima para baixo, de baixo para cima e ilustra a luta de classes em sua crítica mordaz a este modo de vida. Ele mantém um diálogo claro com o espectador, mas não partilha sua posição com os entrevistados. A ironia, o sarcasmo e a quase humilhação são desculpadas pelo realizador, que defende-se afirmando que uma das entrevistadas gostou muito do filme final, ou seja, ela não se sentiu ofendida. Esta era a mesma desculpa dada por Fernando Meirelles, por exemplo, quando dizia que Saramago havia gostado de sua adaptação de Ensaio Sobre a Cegueira.
Ora, tanto Meirelles quanto Mascaro sabem muito bem que os filmes não foram feitos para seus entrevistados ou autores do livro de origem. Um Lugar ao Sol foi feito para o público, apesar dos entrevistados, que são meros alvos fáceis de quem se retira frases suculentas. A ingenuidade de um dos entrevistados não isenta o diretor de responsabilidade – pelo contrário, deixa ainda mais claro que estas pessoas não estavam conscientes do discurso que seria articulado a partir de suas imagens.

Os meios são os fins
Em Pacific, o diretor Marcelo Pedroso acompanhou algumas viagens do cruzeiro homônimo que vai de Pernambuco a Fernando de Noronha. Percebendo quais pessoas gravavam imagens da viagem, ele convidou-as a ceder seus materiais para um documentário. Não se dá mais informações sobre a abordagem ou sobre a reação dos viajantes, mas esta metodologia é apresentada desde o início, como ponto de partida indispensável à compreensão do projeto.
O que se segue, portanto, são imagens amadoras, de baixa qualidade, instáveis e sempre deslumbradas com os arredores. Acima de tudo, são imagens que portam um discurso involuntário sobre o consumo, já que estes momentos íntimos (pessoas na cama, dançando, dormindo, se maquiando) não tinham o intuito de serem partilhados. A montagem pretende dar forma ao conjunto, em ordem cronológica, seguindo a chegada ao navio, a descoberta das regalias, das festas, a noção de espaço, de privilégio e de mérito. Seria interessante saber qual era a priori o destinatário destas imagens – se os viajantes pretendiam vê-las sozinhos ou mostrá-las a amigos e família, e em qual contexto.
De qualquer modo, instaura-se com Pacific a rara noção de autor cinematográfico como aquele que organiza o discurso, mas não necessariamente capta as imagens. O autor aqui é o montador, o diretor, e não as pessoas que gravaram seus passeios. As imagens, para elas, servia como prova de pertencimento, como o ça a été do qual falava Barthes, um documento de que essas pessoas de fato estiveram onde estiveram e viram o que viram. A fascinação precisa ser registrada, partilhada, inclusive como sinal de status. É preciso que colegas, familiares e outros vejam essas imagens e compreendam de fato todo o luxo pelo qual os viajantes pagaram. “Corre, filma o golfinho!”, diz um deles. A imagem é realmente vista como sinal de distinção.
Face a este material já existente, o diretor decidiu não acrescentar nenhuma narrativa ou depoimento. A montagem fala por si mesma, ela retrata muito bem o kitsch, o excesso e principalmente o imperativo de diversão que Adorno citava como inerente a qualquer sociedade do hedonismo. Além de mostrar o que viveram, estas pessoas precisam (se) convencer de que se divertiram, de que o dinheiro foi bem gasto e transformado num prazer proporcional ao preço estipulado pelo cruzeiro. Eles criam uma imagem de si mesmos alegres, sorridentes, algo que se satura ao longo de 80 minutos de documentário; mesmo que esta saturação seja um elemento indispensável ao próprio discurso crítico.
O que estas pessoas acharam do filme final? Não se sabe, talvez seja estranho para elas verem suas caras e seus beijos espontâneos projetados para dezenas de milhares de pessoas. Talvez a imagem apenas reconforte o instinto narcisista. De qualquer modo, o kitsch, os excessos e a construção da imagem da riqueza pode tanto ser interpretada desta maneira, tanto ser vista como uma colagem simples de vídeos de viagem. A ambiguidade do discurso joga a favor do filme, que deixa ao espectador construir o sentido deste projeto.
Este é o inverso de Um Lugar ao Sol, no qual não se deixava muita dúvida sobre o olhar cínico que o diretor portava sobre suas imagens. Mascaro obtém certamente frases e momentos muito mais potentes, mais emblemáticos e representativos, mas paga um preço alto por isso, tornando seu projeto mais do que questionável. Já Pedroso, obviamente, também intervém em seu material, mas pretende colocar em paralelo o olhar dos indivíduos com o seu próprio, aumentando o leque de interpretações deixadas à disposição do espectador.

Um Lugar ao Sol (2009)Filme brasileiro dirigido por Gabriel Mascaro.
Pacific (2009)Filme brasileiro dirigido por Marcelo Pedroso.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Estou horRORIZado com a nossa política

Indignação é o meu sentimento e da maioria do povo brasileiro que melhor se adequa às ações dos nossos políticos. Os escândalos se avolumam e se atropelam que mal temos tempo de discutir sobre um e já aparecem outros. São administrações de crises sobre crises. O que somos? Passivos, covardes, coniventes ou omissos? Assistimos perplexos e nada fazemos para melhorar. Diante de tantos absurdos cruzamos os braços ou fazemos piadas sobre os fatos. Político honesto e comprometido com os problemas sociais do Brasil é raridade, temos que admitir.

A nossa presidente parece não conhecer os ministros (ou sinistros) que ela escolheu para ajudá-la a administrar o país. Em pouco tempo de governo, vários deles foram demitidos por corrupção. Infelizmente eles apenas perdem apenas o cargo, quando deveriam perder as regalias, seus bens patrimoniais, irem para cadeia ou soltos na floresta Amazônica. Pessoas desse nível não se importam com a vergonha, caráter e qualquer valor moral. Como temos políticos ambiciosos, vaidosos, dissimulados, aduladores, corporativistas, covardes, ingratos, volúveis que só pensam no dinheiro, em si e nunca na Pátria! Que país é esse? Será que tais vícios são características do cargo?

Num passado longínquo Nicolau Maquiavel já ensinava como escolher bons ministros. “Para um Príncipe, não é de pouca importância a escolha dos ministros, os quais são bons ou não, de acordo com a prudência daquele. E a primeira conjetura que se faz, em relação às qualidades de inteligência de um príncipe, consiste na observação dos homens que ele tem em volta de si. Quando estes são competentes e leais, pode-se considerá-lo sábio, pois soube dar reconhecimento às qualidades daqueles e conservá-los fieis. Quando assim não são, porém, pode-se avaliar sempre mal o senhor, pois cometeu o primeiro erro nessa escolha. Existem três espécies de cabeças: uma que compreende as coisas por si, outra que sabe discernir o que os outros entendem e, por fim, uma terceira, que não entende nem por si nem sabe avaliar o trabalho dos outros. A primeira é excelente, a segunda muito boa e a terceira inútil. Para que um príncipe possa conhecer bem o ministro, entretanto, há um modo que nunca falha: quando perceberes que o ministro pensa mais em si mesmo do que em ti, e que procura tirar proveito pessoal de todas as sua ações, podes estar certo de que não é bom, e nunca poderás confiar nele. Aquele que cuida dos negócios de Estado jamais deve pensar em si, mas sempre no príncipe, e nunca lembrar-lhe negócios que se encontrem fora da esfera do Estado.”

O relato acima foi extraído do livro: “O Príncipe”, de Maquiavel, escrito quando o Brasil tinha apenas 13 anos e que se encaixa perfeitamente no momento político que estamos vivendo. São ministros corruptos depostos e substituídos por outros para atender coligações partidárias. Numa linguagem popular: rabo preso. Todos se consideram éticos e provam que seus atos são lícitos. Afinal, qual o significado da palavra ética? É o estudo da ação humana enquanto livre e pessoal. Sua finalidade é traçar normas à vontade na sua inclinação para o bem. Pode, portanto, ser definida como a ciência que trata do uso que o homem deve fazer da sua liberdade para atingir seu fim último. Para o corrupto, a inclinação para o bem, a razão, o livre arbítrio e o objetivo a ser alcançado são avaliados subjetivamente, onde se respeita apenas o seu interesse e quase sempre infame.

Reconheço que meu desabafo será conhecido por poucas pessoas e que não será suficiente para modificar ou criar idéias. Algo tem que mudar nesse país. Que façamos valer nossos direitos, que alastremos idéias de união, concórdia, que façamos prevalecer as virtudes, a justiça, equidade, cidadania, sensos de fraternidade, igualdade e liberdade. Ao me referir à liberdade destaco as amarras do vicio interior, da construção do templo às virtudes e assim propagar e multiplicar a paz e o amor. Vamos nos declarar independentes para termos forças suficientes para a independência do nosso Brasil. Se cada um fizer um pouco, no final teremos feito muito.

Fiquei horRORIZado com o desfecho do julgamento da deputada Jaqueline Roriz. Ela foi absolvida depois de ser flagrada recebendo dinheiro roubado do contribuinte. Alegaram que o seu crime foi praticado antes do mandato. É um precedente perigoso para o Fernandinho Beira Mar, asseclas, seguidores, partidários, fãs, aproveitadores e oportunistas.

Fonte:barbacenaonline



quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Teatro Raul Cortez apresenta adaptação de obra de Maquiavel

O Teatro Municipal Raul Cortez apresentará hoje (23) e amanhã (24), a comédia “A Mandrágora”, de Nicolau Maquiavel, com direção e adaptação de Ediélio Mendonça. A peça tem início às 19:30 e a entrada é franca. O trabalho é prova para os alunos de escolas públicas e privadas e comunidade em geral, que participaram da oficina “Teatro e Transformação Social”, dinamizada pelo ator, diretor, teatrólogo e dramaturgo, Ediélio Mendonça, através do projeto Tecendo as ações no presente, Construindo a cidadania do futuro”, realizado pelo Ponto de Cultura Associação dos Amigos do Instituto Histórico.
“A força desse texto, escrito no século XVI, permanece inalterado, tornando-se atemporal diante do fato de que, cada vez mais, é necessário discutir-se o valor da integridade, da verdade, acima de qualquer moral ou preconceito”, assinala Ediélio.
O elenco tem Alexandre Souza, Bruno de Oliveira, Evandro Mallet, Felipe Alves, Jean Auzi, Pamela Alcântara Rebeca Cardoso, Rodrigo Reis, Thaís Almeida, Thaís Gomes e Vitor Fernandes. A iluminação é de Geraldo Stany, ambientação de Vinicius Lugon, maquiagem de Cesário Candhi, direção de Beto Gaspari e assistência de Denis Sevlac.

Fonte:Noticias

terça-feira, 12 de julho de 2011

Tevê à manivela

Antes de mais nada é bom que fique bem claro que com essa evolução toda da era cibernética, iPods de primeira, segunda e terceira geração, conecções relâmpago 24 horas D/N – sem pensar um só momento em dispensar a próxima jornada de "trabalho exaustivo", por certo também na busca fervorosa por mais uma nova rede social, que fique bem entendido: meio bite não é um bite inteiro, e ponto final. Agora, se você quiser mesmo fazer 1 milhão de amigos em tempo recorde, continue chilreando horas a fio mesmo no controle das cãibras do seu dedo indicador. Quem sabe, daí o milagre da multiplicação possa acontecer dentro do seu mundo virtual, e nada mais. O negócio é seguir à risca. Com ou sem antispam!
        Visto e claro, com tantas quedas de conexões que têm se repetido desde os mais distantes mundos "cibers"`, penso até em me instalar num desses aeroportos locais porque o uso da NET (como quer a nossa presidente) vai ser de graça, na faixa, Free.E onde, em épocas de alta definição, as parabólicas que se alinhem na hora dos gloriosos chuviscos na nossa disputada "sala da garoa"` no domingão, quando a gente quer ver tevê de verdade. Ainda mais quando se trata de uma reprise certamente bem caducada. Mas acalmem-se. O Tarcísio Meira continua sendo da Glória e quanto aos vovôs de "insensatos corações", que resolveram atacar suas "netinhas" em horário nobre, vou lá meter o bico aonde não fui chamado. O tarado absolvido do FMI é uma outra história. Quanto mais para quem tiver na lembrança a obra nelson-rodriguiana que alimenta o leitor: "Pouco amor, não é amor". Pegou? Então, agora, solta que está machucando. Só não vamos esquecer dos seus espinhos.
        Aliás, com tantas novidades que andam correndo soltas pelo mercado, não é de se poder grifar que tem coisas que para saírem de dentro da gente requerem certa força física, de expressão? Se não espremer, não sai nem do papel, fica só na ponta do lápis, da Bic. E alto lá, naquilo que você pode ter pensado.
        Porém, no país ora tornado como o das "marchinhas" (algo assim de um sonho de liberdade) não consegui entender direito sobre a tal da liberação da maconha. Enquanto encorajam "não" ao tabagismo —  "cigarro é coisa feia, é a chupeta do capeta" — crianças, nem adolescentes (apostamos, futuros adultos de amanhã) não podem marchar. Como prefiro permanecer no ponto de exclamação dos "fins que não justificam os meios", quem sabe até o Bill Clinton que naquele ano – não recordo qual, não insista – admitiu ter dado um "tapinha" (um só!) na marijuana, apareça pelas redondezas. E não vamos envolver o Gabeira porque já temos o outro Fernando – "oitentão" – para debater a questão.
        Resultado, novamente continuamos mais "baseados" do que nunca em quê mesmo, hein? Já sobre a polêmica dita acima, de que não existem os fins, que existem apenas os meios, na concepção do finado Nicolau Maquiavel (sim, o velho Nicola)... no país da emperrada "marcha lenta", vamos indo, sim, senhor! Se para mais ou para menos, cabe ao consumidor. E que com ou sem o melô dos aloprados, pior do que está é que muitos continuam a duvidar de um novo encorajamento, tiriricamente falando, sorrindo na propaganda da telinha do plim plim, que lá em Absulândia Brazilian Now o negócio é sério. Sério é pouco. Seríssimo.
        Em tempo, não é por menos que a pulga ande, hoje em dia, desfilando mesmo é na frente da minha orelha. E que se o ex-ativista político Battisti (óbvio, o Cesare) futuramente ganhar um cargo público por essas nossas bandas acolhedoramente largas, também não duvido não. Porém, isto vai ser uma próxima página de best-sellers escrita em livrinhos de bolso, que é para não amassar. Deus que me livre e guarde, porque tem coisas na vida que é melhor começar espiando pelas beiradas. Marchando, conectando...
        Antes de mais nada é bom que fique bem claro que com essa evolução toda da era cibernética, iPods de primeira, segunda e terceira geração, conecções relâmpago 24 horas D/N – sem pensar um só momento em dispensar a próxima jornada de "trabalho exaustivo", por certo também na busca fervorosa por mais uma nova rede social, que fique bem entendido: meio bite não é um bite inteiro, e ponto final. Agora, se você quiser mesmo fazer 1 milhão de amigos em tempo recorde, continue chilreando horas a fio mesmo no controle das cãibras do seu dedo indicador. Quem sabe, daí o milagre da multiplicação possa acontecer dentro do seu mundo virtual, e nada mais. O negócio é seguir à risca. Com ou sem antispam!
        Visto e claro, com tantas quedas de conexões que têm se repetido desde os mais distantes mundos "cibers"`, penso até em me instalar num desses aeroportos locais porque o uso da NET (como quer a nossa presidente) vai ser de graça, na faixa, Free.E onde, em épocas de alta definição, as parabólicas que se alinhem na hora dos gloriosos chuviscos na nossa disputada "sala da garoa"` no domingão, quando a gente quer ver tevê de verdade. Ainda mais quando se trata de uma reprise certamente bem caducada. Mas acalmem-se. O Tarcísio Meira continua sendo da Glória e quanto aos vovôs de "insensatos corações", que resolveram atacar suas "netinhas" em horário nobre, vou lá meter o bico aonde não fui chamado. O tarado absolvido do FMI é uma outra história. Quanto mais para quem tiver na lembrança a obra nelson-rodriguiana que alimenta o leitor: "Pouco amor, não é amor". Pegou? Então, agora, solta que está machucando. Só não vamos esquecer dos seus espinhos.
        Aliás, com tantas novidades que andam correndo soltas pelo mercado, não é de se poder grifar que tem coisas que para saírem de dentro da gente requerem certa força física, de expressão? Se não espremer, não sai nem do papel, fica só na ponta do lápis, da Bic. E alto lá, naquilo que você pode ter pensado.
        Porém, no país ora tornado como o das "marchinhas" (algo assim de um sonho de liberdade) não consegui entender direito sobre a tal da liberação da maconha. Enquanto encorajam "não" ao tabagismo —  "cigarro é coisa feia, é a chupeta do capeta" — crianças, nem adolescentes (apostamos, futuros adultos de amanhã) não podem marchar. Como prefiro permanecer no ponto de exclamação dos "fins que não justificam os meios", quem sabe até o Bill Clinton que naquele ano – não recordo qual, não insista – admitiu ter dado um "tapinha" (um só!) na marijuana, apareça pelas redondezas. E não vamos envolver o Gabeira porque já temos o outro Fernando – "oitentão" – para debater a questão.
        Resultado, novamente continuamos mais "baseados" do que nunca em quê mesmo, hein? Já sobre a polêmica dita acima, de que não existem os fins, que existem apenas os meios, na concepção do finado Nicolau Maquiavel (sim, o velho Nicola)... no país da emperrada "marcha lenta", vamos indo, sim, senhor! Se para mais ou para menos, cabe ao consumidor. E que com ou sem o melô dos aloprados, pior do que está é que muitos continuam a duvidar de um novo encorajamento, tiriricamente falando, sorrindo na propaganda da telinha do plim plim, que lá em Absulândia Brazilian Now o negócio é sério. Sério é pouco. Seríssimo.
        Em tempo, não é por menos que a pulga ande, hoje em dia, desfilando mesmo é na frente da minha orelha. E que se o ex-ativista político Battisti (óbvio, o Cesare) futuramente ganhar um cargo público por essas nossas bandas acolhedoramente largas, também não duvido não. Porém, isto vai ser uma próxima página de best-sellers escrita em livrinhos de bolso, que é para não amassar. Deus que me livre e guarde, porque tem coisas na vida que é melhor começar espiando pelas beiradas. Marchando, conectando...
       É isso aí!

Celso Fernandes é jornalista, poeta e escritor, autor de 'As duas faces de Laura', 'O sedutor', 'Sonho de poeta' (Ed. Edicon), entre outros

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Ricardo Teixeira Maquiavélico

O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, cedeu entrevista a uma repórter da revista Piauí, e detonou os críticos e prometeu cometer maldades com a imprensa na Copa de 2014, onde ele é presidente do Comitê Organizador. Em uma das conversas, o chefão do futebol brasileiro rebateu as acusações de corrupção, entre elas uma tentativa de venda de voto no processo de escolha das sedes das próximas Copas do Mundo.

“Meu amor, já falaram tudo de mim: que eu trouxe contrabando em avião da seleção, a CPI da Nike e a do Futebol, que tem sacanagem na Copa de 2014. É tudo da mesma patota, UOL, Folha, Lance, ESPN, que fica repetindo as mesmas m*rdas”, disse Teixeira, que foi ainda mais longe. “Não ligo. Aliás, caguei. Caguei montão. O neguinho do Harlem [bairro pobre de Nova Iorque] olha para o carrão do branco e fala: ‘quero um igual’. O negro não quer que o branco se f*da e perca o carro. Mas no Brasil não é assim. É essa coisa de quinta categoria”.

Teixeira também falou sobre seus momentos de confronto com a Rede Globo, quando em 2001, a emissora dedicou uma edição do "Globo Repórter" a ele. A resposta imediata dele foi mudar o horário de um Brasil x Argentina, o que fez a Globo perder muito dinheiro sem poder exibir seus patrocinadores em horário nobre. “Pegava duas novelas e o Jornal Nacional. Você sabe o que é isso?”, disse. “Quanto mais tomo pau da Record, fico com mais crédito com a Globo”, avaliou Teixeira, que vê pontos positivos no fato de ser alvo da Record atualmente.

Ricardo Teixeira ainda classificou a imprensa brasileira como “vagabunda”, e rebaixou vários meios de comunicação que não são do lado dele. "Esse UOL só dá traço. Quem lê o Lance? Oitenta mil pessoas? Traço. Quem vê essa ESPN? Traço", disse o mandatário da CBF, que completa dizendo que "Só vou ficar preocupado, meu amor, quando sair no Jornal Nacional".

O cartola ainda ameaçou a imprensa no próximo Mundial. “Em 2014, posso fazer a maldade que for. A maldade mais elástica, mais impensável, mais maquiavélica. Não dar credencial, proibir acesso, mudar horário de jogo. E sabe o que vai acontecer? Nada. Sabe por quê? Por que eu saio em 2015. E aí, acabou”, concluiu.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Maquiavel, por Olavo de Carvalho

Sozinho, esse pequeno livro já colocaria Olavo no panteão dos grandes filósofos políticos da atualidade.


Dentro do grande esforço da obra que o filósofo Olavo de Carvalho está escrevendo - A MENTE REVOLUCIONÁRIA - o capítulo sobre Maquiavel foi destacado neste livro que acaba de chegar ao público brasileiro. De imediato o li. Olavo nos brinda com suas profundas reflexões, ornadas pela prosa magistral e clara que lhe é peculiar. Esta aula sobre o florentino permite que mesmo principiantes possam lê-la com proveito. Na verdade, mais que isso: é, ela própria, um roteiro de leitura para conduzir quem está se aprofundando pelos meandros da ciência política e da filosofia política.
O fato é que Olavo de Carvalho destrincha os segredos últimos do autor renascentista, tão obscuro quanto fascinante. Essa obscuridade deu margem a diferentes interpretações ao longo do tempo, muitas delas contraditórias entre si. Olavo, centrando na biografia e na própria produção de Maquiavel, desvenda os mistérios e os equívocos e demonstra como o filho de Florença foi o protótipo do intelectual moderno, o engenheiro de almas que quis transformar o mundo sem perceber as suas próprias contradições internas. Flagrou Maquiavel como exemplo clássico de paralaxe cognitiva, conceito descoberto por Olavo: teorizou de forma a ele mesmo se fazer vítima potencial de suas teorias. Ao aconselhar os novos príncipes a eliminar os conselheiros que lhe ajudaram a chegar ao poder não viu que mandava seus aconselhados a liquidarem a si mesmo.

O livro é também uma survey exaustiva do status quaestionis da obra do florentino, resenhando os principais escritores que se debruçaram sobre o autor de O Príncipe. A começar por Isaiah Berlin, que enxergou nele um precursor do liberalismo, claro de que forma equivocada. Olavo vai dizer que
"hoje é quase impossível deixar de enxergar nele o precursor voluntário e consciente do Estado altamente burocratizado e interventor em que vai se transformando a democracia liberal americana".
Importante sublinhar essa percepção olaviana, porque o eixo histórico a se desenrolar no século XXI passa pelo que vai acontecer dentro da estrutura do Estado norte-americano e seu duelo com as forças que lutam pela Nova Ordem Mundial. E também pelo duelo com a emergente força do império comunista chinês. As raízes do que está por vir já brotaram e estão prenhes de medonha violência, muito maior do que aquela que vimos na primeira metade do século XX. A idéia maquiavélica da Terceira Roma toma aqui o sentido dado pelo florentino a ela: o despertar das forças pagãs, anulando as aquisições morais e científicas do contributo judeu-cristão à Roma dos Apóstolos.

Toda ciência política que partiu de Maquiavel é essencialmente a negação do saber clássico, que via o Estado como instrumento do bem comum e a figura do governante como o primeiro servidor desse princípio, comprometido com a ordem justa, à luz da lei natural. O maquiavelismo é a negação desse saber superior, que começou a ser descoberto com Platão e encontrou em Tomás de Aquino sua plenitude. O mundo moderno é o mundo revolucionário, igualitarista, democrático, desprovido de uma elite egrégia, como constatou Ortega y Gasset. O paraíso dos novos príncipes aventureiros, que passaram a buscar o poder apenas pelo poder, fim em si mesmo, e não meio para alcançar o bem estar coletivo, sobretudo a paz. O Estado permanente de guerra é a hipótese de Maquiavel. Exemplos acabados desses novos príncipes são abundantes:Robespierre, Lênin, Stalin, Fidel e tutti quanti.

Olavo enumera uma a uma as diversas interpretações dadas à obra de Maquiavel ao longo da história e deixo ao leitor interessado ir buscar no livro quais foram estas. Será talvez a sua parte mais útil aos estudantes de ciência política. O mapa do caminho para não se perder nas linhas densas desse poderoso sofista. Maquiavel foi um barnabé com mania de grandeza e portador de um recalque imenso, aconselhando aos outros aquilo que ele mesmo era incapaz de fazer. Desprovido da Virtú e amaldiçoado pela Fortuna, Maquiavel foi também o protótipo do revolucionário fracassado que se refugiou nas letras, esse meio maleável no qual a mentira pode alcançar sua abjeta plenitude de utopia.

A propósito, Olavo identifica o conceito de Fortuna com Deus. Discordo. Como filho do Renascimento, Maquiavel acreditava nas idéias dominantes do seu tempo, na magia, na astrologia, na alquimia. A Fortuna era, para ele, esse determinante cósmico que provinha das forças da natureza, idéia que irá percorrer toda a modernidade e terá em Goethe o seu poeta maior. A Fortuna como o espelho da carta do Tarô. Fortuna é o destino, que precisa ser moldado pela Virtú, pela intrepidez amoral dos novos príncipes. Deus está longe das preocupações do pervertido florentino. Os supostos materialistas e "realistas" que citam Maquiavel para justificar suas próprias tolices mal sabem que a raiz primeira do autor renascentista é a mais baixa magia, o culto satânico mais rasteiro, a maldade transformada em virtude.
Sozinho, esse pequeno livro já colocaria Olavo no panteão dos grandes filósofos políticos da atualidade. Dá para imaginar o que virá na obra maior, em gestação, A MENTE REVOLUCIONÁRIA. Espero com ansiedade sua publicação.

Ficha Técnica: Maquiavel ou a Confusão Demoníaca
Autor: Olavo Luiz Pimentel de Carvalho
Campinas, Vide Editorial, 2011

Colaboração:Rodney Eloy

quarta-feira, 6 de julho de 2011

A importância de uma referência

Alberto Rostand Lanverly
Professor
Os livros comprovam: civilizações que “marcaram” época ao longo dos tempos buscaram no fortalecimento dos atos de seus “filhos” de maior destaque o registro de feitos, que, no futuro, ao serem lembrados, as projetassem para um espaço onde o esquecimento não existisse.
Odiados por muitos, como Atila, Nero ou Hitler, incompreendidos por outros, como Nicolau Maquiavel e Dom João VI, ou amados por seus seguidores, como Jesus Cristo, Maomé e Buda, em comum todos foram personalidades que, a seu modo, em determinado momentos de suas vidas, mereceram aplausos e, posteriormente, foram transformados não somente em “estátuas”, mas em exemplos a serem seguidos.
No mundo moderno, como na antiguidade, a vida, por ser um permanente meio de aprendizado aos que trazem esta ânsia no coração, reserva experiências adoráveis para quem, a cada dia, procura “viver” não somente de forma corajosa, mas, sobretudo, feliz. Não unicamente acomodados aos fatos do cotidiano, porém, cada vez mais tentando “fazer história”, deixando seu nome registrado nas simbólicas prateleiras do presente, para, no futuro, virem a ser lembrados como referência de “uma época”.

Uma bebida, um episódio ou uma localidade, a depender de sua importância, facilmente são transformados em símbolos inesquecíveis. Contudo, os homens, por sua influência “temporal”, fortalecem o valor de uma instituição, de um clube de futebol, de uma sociedade, tendo seu “nome” incorporado não somente ao órgão ou evento ao qual está vinculado, mas, principalmente, a uma fase que jamais será esquecida.
Breno Lins, da Escola Técnica Federal; Nelson André, do INSS; Coronel Nilo, do CSA; Arlindo Cabús, da Copeve; Jucah Santos, da Academia Maceioense de Letras; Franklin Casado de Lima, do IBGE; Professor Fernando Gama, da UFAL; Mendes de Barros, o “Marajá das Alagoas”; “Cabeleira”, do Colégio Marista; Cônego Hélio, das “Bodas de Caná”; Padre Pinho, de Juvenópolis; Padre Teofanes, do Colégio Guido; Helionia Ceres da literatura; Dr. Ib Gatto, da medicina, ou Divaldo Suruagy, da política, são exemplos, vivos ou não, pois representam algumas personalidades que fizeram por merecer o respeito de “seus” pares, transformando seus nomes em “ícones” que jamais serão esquecidos, até porque o passado, por ser inexorável, não se apaga. Muito pelo contrário, perpetua-se através das ondas geradas pelas civilizações que se lhes sucedem.

Se até as árvores e as músicas, em inúmeras oportunidades, sintetizam a “magia” de uma época, o homem, por seu magnetismo imensurável, independente da aura de poder que ostente, torna-se uma “referência” quando consegue deixar para sua geração a convicção de quão importante é “continuar sempre”.
Chegará a época em que as “referências” de nossa terra serão “reverenciadas” pelo muito que um dia realizaram.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Nicolau Maquiavel morria há 484 anos

Nicolau Maquiavel (em italiano Niccolò Machiavelli; Florença, 3 de maio de 1469 — Florença, 21 de junho de 1527) foi um historiador, poeta, diplomata e músico italiano do Renascimento. É reconhecido como fundador do pensamento e da ciência política moderna, pelo fato de haver escrito sobre o Estado e o governo como realmente são e não como deveriam ser. Os recentes estudos do autor e da sua obra admitem que seu pensamento foi mal interpretado historicamente. Desde as primeiras críticas, feitas postumamente por um cardeal inglês, as opiniões, muitas vezes contraditórias, acumularam-se, de forma que o adjetivo maquiavélico, criado a partir do seu nome, significa esperteza, astúcia.
Niccolò di Bernardo dei Machiavelli viveu a juventude sob o esplendor político da República Florentina durante o governo de Lourenço de Médici e entrou para a política aos 29 anos de idade no cargo de Secretário da Segunda Chancelaria. Nesse cargo, Maquiavel observou o comportamento de grandes nomes da época e a partir dessa experiência retirou alguns postulados para sua obra. Depois de servir em Florença durante catorze anos foi afastado e escreveu suas principais obras. Conseguiu também algumas missões de pequena importância, mas jamais voltou ao seu antigo posto como desejava.
Como renascentista, Maquiavel se utilizou de autores e conceitos da Antiguidade clássica de maneira nova. Um dos principais autores foi Tito Lívio, além de outros lidos através de traduções latinas, e entre os conceitos apropriados por ele, encontram-se o de virtù e o de fortuna.

sábado, 18 de junho de 2011

A cartilha maquiavélica de Gerdau

O que leva um empresário bem-sucedido como Jorge Gerdau à inglória tarefa de tornar a máquina estatal mais eficiente? Ele mesmo conta à DINHEIRO por que se inspirou no pensador italiano Nicolau Maquiavel em sua jornada pública.

O filósofo político Nicolau Maquiavel, ao escrever sua principal obra, O Príncipe, em 1513, criou uma espécie de manual da política. A frase mais famosa atribuída a ele, 'Os fins justificam os meios', é frequentemente utilizada nos dias de hoje - com uma impressionante contemporaneidade - para descrever manobras políticas ou decisões moralmente questionáveis. Na semana passada, no ápice da crise política envolvendo o ex-ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, Maquiavel voltou a ser evocado por um dos empresários mais respeitados do País, o gaúcho Jorge Gerdau Johannpeter.

Em entrevista exclusiva à DINHEIRO, o presidente do conselho de administração do Grupo Gerdau, e líder da Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade, disse que sempre recorre a uma ideia derivada das regras do pensador italiano. 'O empresário tem de cuidar da família, da empresa e da política', disse Gerdau, um dia antes da queda de Palocci. 'Se não cuidar dos políticos, eles estragam tudo de bom que fazemos na empresa.' Não que Gerdau se referisse a ele. Ao contrário, o empresário lamentou a saída do ex-ministro, com quem começava a conviver na Câmara.

Agora, seu maior desafio dentro do governo será vencer a ineficiência do setor público e difundir o conceito de 'transparência absoluta' na máquina estatal. 'Gestão, privada ou pública, não se faz em uma ou duas semanas', afirmou o empresário. 'E as melhorias nos processos de gestão só terão validade com total transparência'. (leia entrevista abaixo)

A experiência de Gerdau poderá render bons dividendos políticos à própria presidente Dilma Rousseff. Em países como Canadá e Suíça, mundialmente reconhecidos pela excelência em gestão pública, é uma prática comum nomear empresários para atuar na política - seja por meio de câmaras independentes, seja na atuação técnica em órgãos estatais. Na África do Sul, em duas ocasiões decisivas na história do país - no fim do apartheid, nos anos 1990, e na preparação para a Copa do Mundo de 2010 - foram criados grupos de empresários para identificar gargalos da administração governamental e indicar soluções para os problemas encontrados.

No caso do pós-apartheid, um plano de integração social proposto por presidentes de grandes empresas, chamado de Programa de Desenvolvimento Econômico Negro (sigla em inglês BEE, para Black Economic Empowerment), conseguiu incluir no mercado de trabalho quatro milhões de trabalhadores negros, em apenas dois anos - o que resultou em crescimento econômico, redução da violência e diminuição das tensões sociais. Também nos anos que antecederam a Copa do Mundo, a mesma câmara conseguiu dar transparência aos investimentos em infraestrutura e, assim, ajudou a atrair investimentos estrangeiros ao país, historicamente sufocado pela corrupção.


O exemplo bem-sucedido da África do Sul e a atual realidade brasileira reforçam que a citação de Maquiavel por Gerdau não é apenas retórica. Durante recente encontro com empresários do setor de marketing, na ADVB-RS, em Porto Alegre, Gerdau confirma que seus trabalhos nos bastidores do poder, em Brasília, já começaram. 'Por enquanto, estamos atuando apenas tecnicamente', afirmou.


O convite da presidente Dilma Rousseff a Gerdau - que terá Abilio Diniz, do Grupo Pão de Açúcar, Antonio Maciel Neto, da Suzano Papel e Celulose, e Henri Philippe Reichstul, ex-presidente da Petrobras, como companheiros na empreitada pública - não surgiu de jogo de par ou ímpar. Há décadas, Gerdau é um dos empresários mais admirados do País.


Sob seu comando, a Gerdau, antes uma metalúrgica gaúcha de estatura regional, se transformou em uma companhia global com faturamento de US$ 35 bilhões, em 2010, operações em 14 países e quase 50 mil funcionários. 'A saga de Gerdau como empreendedor será, agora, comprovada na esfera pública', disse a presidente Dilma, logo após a nomeação do quarteto de empresários. 'Não tenho dúvidas de que a contribuição deles será fundamental para a modernização dessa empresa chamada Brasil.'

'O combate à corrupção é feito apenas com transparência absoluta'

Passados os primeiros 30 dias da criação da Câmara de Políticas de Gestão, qual é o balanço?

Por enquanto, estamos trabalhando apenas tecnicamente em Brasília. Ainda não há definições de tudo que poderá ser feito. A maturação do nosso trabalho será um processo gradativo. Gestão, privada ou pública, não se faz em uma ou duas semanas. Vamos desenvolver conceitos para, depois, iniciar os trabalhos.

Algo específico no combate à corrupção?

Não vou comentar nada sobre os recentes acontecimentos de Brasília. Não vou falar sobre o ministro Antônio Palocci. Não adianta perguntar.


Mas a pergunta não foi sobre o ministro Palocci. Esse silêncio não pode colocar em risco a credibilidade de quem é honesto dentro do governo?

O que posso dizer é que combate à corrupção é feito apenas com transparência absoluta. As melhorias nos processos de gestão só terão validade com total transparência. Caso contrário, não adianta nada. Vocês, da imprensa, precisam entender que o Brasil vive uma oportunidade fantástica e que faremos, dentro do governo, um trabalho técnico, sólido e permanente. Assim, vamos conquistar etapa por etapa.

Redução dos impostos é uma etapa?

A carga tributária é importante como parte do processo de melhoria da gestão pública, mas existem outras prioridades. Redução de impostos será a última etapa.

O ritmo do PIB já está desacelerando?

O Brasil vai bater novas taxas recordes de crescimento no futuro. O que precisa acontecer agora é uma correção das disparidades, um ajustamento balanceado.

O que mais pretende levar a Brasília?

Sempre faço uma análise do comportamento de meu pai. Ele mandava pagar as duplicatas da empresa dois dias antes do vencimento para não correr o risco de ser chamado de desonesto. Existe um conceito básico que aprendi e carrego comigo para aonde vou. Acho que a gestão tem que ser uma extensão do que você quer na sua casa.

Vai erguer a bandeira da ética?

Ética tem certo conteúdo acadêmico. Prefiro a palavra integridade. Se o presidente acha que sou íntegro, não estou preocupado. Quero saber o que o meu operário acha de mim. Se a gente pratica esses valores no nosso dia a dia, coisas boas acontecem naturalmente. Outra coisa: não adianta mentir para jornalista. Vocês descobrem a verdade antes de terminar a resposta.

Essa postura faz parte da diplomacia?

Sempre recorro a uma ideia derivada das regras de Maquiavel de que o empresário tem de cuidar da família, da empresa e da política. Se não cuidar dos políticos, eles estragam tudo de bom que eu fiz na empresa. Outra que gosto é que devemos fazer o mal de uma só vez e a bondade aos pouquinhos. Não que esse seja meu caso.

Fonte:Istoédinheiro

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Nicolau Maquiavel e o ex-ministro Palocci

O ex-governador de São Paulo Alberto Goldman (PSDB) avaliou como "um bom sinal" a escolha da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) para a chefia da Casa Civil. A petista substituiu na quarta-feira o ex-ministro-chefe Antonio Palocci. "A escolha de Gleisi Hoffmann para a Casa Civil é um bom sinal e torço para que ela e os que ainda sobram no PT possam vencer essa luta interna entre os que somente anseiam o poder em benefício próprio e aqueles que querem de fato servir ao povo", escreveu Goldman em seu blog. O tucano recorreu a uma máxima atribuída ao pensador italiano Nicolau Maquiavel para caracterizar o ex-ministro. "Palocci faz parte daquela gama de homens que vão ao extremo na concepção de que os fins justificam os meios", escreveu.

Não é a primeira vez que o ex-governador faz críticas duras ao ex-titular da Casa Civil. No decorrer da crise, também em seu blog, o tucano apontou que o enriquecimento "tão rápido" de Antonio Palocci "não é aceitável em um homem público" e cobrou esclarecimentos do ex-ministro, referindo-se ao crescimento do patrimônio de Palocci, de R$ 20 milhões em quatro anos. A posição de Alberto Goldman divergiu da de alguns tucanos, como os ex-governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG), que evitaram fazer ataques diretos ao petista.


sexta-feira, 10 de junho de 2011

Dilma, a empregada do PT

Maceió - A interferência de Lula no governo Dilma enfraqueceu a pre-sidente e deixou as mulheres brasileiras frustradas pela indecisão da sua maior representante mostrar-se capaz para resolver crises. A pergunta é: com que autoridade, o ex-presidente assumiu a posição de negociar com políticos em Brasília o fim do escândalo que envolve Palocci, ministro do Gabinete Civil, ex-ministro da Fazenda de seu governo? Se não confiava na Dilma por que botou o nome dela de goela a dentro dos brasileiros, qualificando-a durante toda a campanha como a eficiente administradora do seu governo? A verdade de tudo isso é que a presidente saiu arranhada de toda essa confusão e vai continuar baixando a guarda para os petistas se quiser chegar até o final do mandato. O que se constata com esse episódio é que o Brasil, infelizmente, não tem uma presidente da República. Tem, isto sim, uma empregada do Partido dos Trabalhadores.

Lula reuniu-se com Sarney, com líderes políticos, com presidentes de partidos, com Palocci, em quem deu um esporro, e com a própria Dilma, a quem recomendou distribuir empregos para arrefecer a fúria dos deputados e senadores se quiser que o Congresso trabalhe a seu favor. Passou dois dias em Brasília e saiu de fininho sem que a imprensa se indignasse com a interferência indevida dele no governo da sua sucessora, já que hoje não exerce ne-nhuma função pública. Ora, depois disso tudo ficou claro que o Lula ainda pensa que é o presidente do Brasil - sem mandato e sem votos.

Na reunião com os líderes partidário, Lula foi ovacionado pelos parlamentares que viram nele o interlocutor confiável para levar suas reivindicações a Dilma, já que o Palocci transformou-se em um mi-nistro arrogante com a roupagem de uma espécie de "Primeiro Ministro", espaço que ocupou aproveitando-se da inexperiência política da chefe.

Aí, diante desse rolo todo, você me pergunta: por que a Dilma não chuta o pau da barraca e vai governar sem a interfe-rência dos petistas? Seria o seu suicídio político. Primeiro, ficaria refém dos peemedebistas que, como os vampiros, vivem grudados no pescoço do estado; segundo, não teria autonomia para governador, já que a bancada do seu partido é a maior na Câmara Federal. Como é novata dentro do PT, a presidente não tem jogo de cintura para negociar com seus companheiros com a intimidade que o Lula tinha quando estava à frente do Executivo. Diante disso, devemos concluir que Dilma está numa camisa de força. Seus atos políticos e administrativos sempre serão monitorados pelos petistas que adoram tocar fogo no circo para chegar rapidamente com a esquadra de bombeiros e salvar o que resta dos destroços. Esse é o "fogo amigo" tão temido nos corredores do Palácio do Planalto, que pode inviabilizar o governo de Dilma.

O papel que o Lula vai desempenhar nisso tudo é o de chefe da esquadra dos bombeiros, porque ainda mantém a espe-rança de voltar ao Palácio do Planalto. No momento, como a sucessão ainda está distante, vai posar de conselheiro da rainha. Mas lá pra frente, ele certamente vai torcer pelo fracasso da Dilma para que o povo cada vez mais tenha saudade do seu governo. Esse é o jogo político do Lula, mesmo que não tenha lido uma página sequer de O Príncipe, de Maquiavel.

O confronto

A história mostra que ninguém peita o Congresso Nacional, uma casa que reúne em tese representantes de todos os brasileiros, das mais variadas camadas sociais. É assim desde que o Brasil virou república com dois presidentes alagoanos: marechal Deodoro e Floriano Peixoto. O primeiro foi chutado e o segundo - que era vice - consolidou a transição da monarquia para a república com tropas nas ruas para combater os rebeldes de um canto a outro do país, mas sempre de olho no Congresso Nacional.

O Último

O último exemplo, o mais recente, todos conhecem. Ao ignorar e subestimar a importância do poder Legislativo numa democracia, Collor sofreu impeachment e deixou o governo dois anos e nove meses depois da consagradora vitória do primeiro presidente eleito depois do ditadura militar. Esse é o jogo político. Quem duvidar que se arrisque indo para o confronto.

Socorro

Ao socorrer Palocci, inocentando-o do enriquecimento ilícito, Lula jogou todas as suas fichas para tirar seu ex-ministro dos ataques dos parlamentares e das notícias negativas da mídia. Mas a pergunta é: se o Palocci é esse poço de honestidade por que Lula o demitiu do mi-nistério da Fazenda? O ex-presidente acha que o seu prestígio lhe dar imunidade pra defender corruptos petistas, como os do mensalão, por exemplo.

Maluco?

O ex-presidente do PT, José Eduardo Dutra, diagnosticado como doido pelos petistas paulistas que queriam a presidência do partido, não tem nada de maluco. O cara vive nas badalações das noites cariocas. A síndrome de pânico e de perseguição que contaminava o Zé, segundo os petistas, desapareceu tão logo ele foi afastado da presidência do partido. Na quarta-feira, por exemplo, Zé Eduardo apareceu nas páginas do Globo, sorridente, recebendo uma homenagem no Clube de Engenharia do Rio.

Outro Zé

Zé Dirceu já foi avisado: o Palocci, antes de cair, vai derrubar seu afilhado político no Planalto, o ministro das Relações Institucionais, Luiz Sergio, que de articulação política entende a mesma coisa que Lula de fissão nuclear. Depositado no Planalto por Zé Dirceu, seu apadrinhado perdeu posição para Palocci que também assumiu a articulação política do governo. Está caindo por acúmulo de funções - e poder demais.

Vacilo

A bancada governista vacilou na Câmara e a Comissão de Agricultura aprovou requerimento convocando Palocci, o homem do diamante de 20 milhões de reais, para depor.

Perdida

Parlamentares com acesso ao Palácio do Planalto temem pelo pior. Dizem que a presidente Dilma está que nem barata tonta. Pra onde corre alguém está com inseticida para afugentá-la. Muitos já temem pelo estado de saúde dela, depois da pneumonia dupla que a abateu durante alguns dias.

Recado

Ao tomar posse na última segunda-feira no cargo de se-cretario da Pesca, Régis Cavalcante pontuou o seu discurso com algumas críticas ao paternalismo do governo federal, dizendo, entre outras coisas, que a esmola envergonha o homem. Cavalcante disse que o estado precisa promover o desenvolvimento econômico para gerar emprego e renda. E é isso que ele e seus técnicos pretendem implantar em Alagoas melhorando o setor da pesca no estado.

Prestígio

Com o auditório lotado, Cavalcante foi muito aplaudido depois do seu discurso e cumprimentado efusivamente pelo secretário do Gabinete Civil, Álvaro Machado, a quem Cavalcante disse ter sido o grande incentivador da criação da secretaria que vai promover o desenvolvimento, reorganizando o setor pesqueiro ate então marginalizado em outros governos.

Sujeira

De que adianta a belezas naturais de Maceió se os moradores da cidade e os turistas não podem gozar desse espetáculo. As praias estão poluídas, o fedor na orla é insuportável, as lingas pretas ainda invadem a areia e o riacho Salgadinho continua jogando esgoto na praia da Avenida da Paz, condenada pela poluição. Cícero Almeida que se elegeu com a proposta de despoluir o Salgadinho ainda não concretizou o projeto que dorme nas gavetas da prefeitura.

CPIs

Até o mais leigo do eleitor sabe muito bem que CPIs é pra o parlamentar extorquir e melhorar seu caixa de campanha. As criadas na Câmara dos Vereadores e na Assembleia Legislativa não fogem dessa maldita sina.

Fonte:Noticia

quarta-feira, 8 de junho de 2011

POLÊMICA

Estaria Nicolau Maquiavel correto e os fins realmente justificam os meios? A pergunta ronda insistentemente a coluna depois da leitura da matéria “Sobre o Projeto de lei n122”, na mais recente edição do Informe IBC, semanário da Igreja Batista Central de Fortaleza. Com o intuito de conclamar as famílias a lutar contra “o avanço de leis que. em nome da busca de direitos privilegiados para homossexuais, erguem novos muros na democracia”, a publicação alerta para o perigo da aprovação do projeto que criminaliza a homofobia.

Literalmente, está lá impresso: “A redação da PL 122, bem como de outras iniciativas nessa área,dá margens à situações preocupantes, como: Cotas para LGBT em tudo quanto é área; Programa Primeiro Emprego para LGBT; criação de uma ‘bolsa gay’, onde o governo seja obrigado a sustentar especificamente aqueles que forem LGBT; reforma agrária específica para os LGBT; e criação de uma polícia só de gays, lésbicas e travestis, que espanque, ponha na cadeia ou mesmo mate as pessoas que causem incômodo aos LGBT”; entre outras desgraças, obviamente.

Passado o estranhamento inicial (qualquer cidadão que realmente tenha lido na íntegra o PL 122 sabe que nada disto está previsto lá), Cena G procurou o pastor responsável pela IBC, Armando Bispo, e pediu que ele apontasse, no documento, a origem destas supostas ações. O líder religioso respondeu, por email. “Por uma questão hermenêutica, não seria justo requerer a exata expressão textual do que o autor disse, uma vez que o mesmo escreve: ‘A redação do PL 122/2006, bem como outras iniciativas nessa área, dá margem à situações preocupantes, como:’, ou seja - dar margem - diz respeito a uma situação que poderia derivar por lei ou por interpretação da mesma em tudo aquilo que o autor declinou”.

Muito cordialmente, Bispo encaminhou as questões para Ricardo Marques, autor da matéria, que também respondeu por email à coluna. “A fonte principal é o Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de LGBT, promovido pela Secretaria Especial de Direitos Humanos do Ministério da Justiça”. E ainda informou que ”Os referidos itens, inclusive, constam do ‘famoso’ panfleto veiculado país afora pelo deputado federal Jair Bolsonaro (intitulado “Informativo Kit Gay”)”. Ah, bom.

Com todo o respeito que esses líderes religiosos merecem, cabem aqui alguns esclarecimentos. O primeiro deles é que o tal Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de LGBT nada tem a ver com o PL 122. É resultado da 1ª Conferência Nacional GLBT, ocorrida em Brasília em junho de 2008 e traz diretrizes de ações para políticas públicas, não leis. Aliás, o prazo para a maioria delas já está vencido - e não consta nele a instituição da pena de morte para homofóbicos, como faz crer o Informe da IBC, assim como vários dos outros absurdos.

É até compreensível que alguns fundamentalistas queiram que suas convicções comandem um Estado laico. O que é inacreditável é ver que há pastores, na acepção primeira do termo, que optam por aterrorizar seus rebanhos com ameaças inexistentes para que assim eles lhe sejam totalmente submissos.

Fonte:Opovo