sábado, 24 de julho de 2010

Livro - O PRÍNCIPE DE MAQUIAVEL E SEUS LEITORES

SINOPSE:
Apreender a principal obra de Maquiavel como texto. Esta perspectiva leva Arnaldo a Cortina a analisar os mecanismos intra e interdiscursivos que operam nas leituras d'O príncipe. Partindo do contexto do aparecimento da obra e da apresentação dos recursos argumentativos que a estruturam, Cortina passa em revista os diferentes procedimentos que possibilitam múltiplas interpretações de um texto para demonstrar como eles podem abranger a trajetória de um dos grandes clássicos da filosofia política.

ORELHAS:
O príncipe de Maquiavel e seus leitores. Uma investigação sobre o processo de leitura é o resultado de preocupações distintas: de professor, sempre atento à questão pedagógica leitura na escola; de pesquisador, consciente de que a prática deve estar sempre acompanhada da reflexão teórica. O livro toma, assim, dois caminhos que se cruzam, se encontram e se juntam: no primeiro, discutem-se questões de leitura - modalidades, procedimentos, perspectivas, formas, relações com a tipologia de textos -; no segundo, examinam-se O príncipe de Nicolau Maquiavel e as várias leituras que dele foram feitas em diferentes momentos históricos. A finalidade do estudo, muito bem alcançada, é mostrar que um mesmo texto pode dar margem a leituras distintas tanto pelas determinações e possibilidades do próprio texto quanto pelas condições sócio-históricas nas quais se faz a leitura, e que, em conseqüência, o processo de leitura depende
também das duas ordens de coerções, estruturais e históricas. De interesse para um público diversificado - professores, lingüistas, estudiosos da literatura, sociólogos ou comunicadores, entre outros -, o livro de Arnaldo Cortina tem a atração dos grandes temas e autores escolhidos, mas, especialmente, o encanto de um texto em que se aliam com coerência e consistência o pano de fundo teórico, as análises efetuadas e os resultados alcançados. Diana Luz Pessoa de Barros


Quarta capa

O propósito deste livro é discutir a questão do procedimento de leitura. Partindo da problemática da interpretação e compreensão, pretende refletir sobre diferentes perspectivas teóricas que possam contribuir para o seu melhor entendimento. Para amparar essa discussão, toma o texto O príncipe, de Nicolau Maquiavel, e observa como se construíram suas diferentes leituras ao longo da história, recuperando o contexto sócio-histórico em que a obra foi escrita e examinando sua organização discursiva, para, em seguida, procurar compreender os diferentes mecanismos interpretativos desencadeados por vários de seus leitores.


Sobre o autor

ARNALDO CORTINA nasceu em Jundiaí - SP, em 1956. Graduou-se em Letras, descobrindo aí a Lingüística e, conseqüentemente, o trabalho com a linguagem no estudo de texto. Concluiu o mestrado, em 1988, e o doutorado, em 1994, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Iniciou sua carreira no ensino universitário em 1987, no Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Câmpus de São José do Rio Preto. A partir de 1996, transferiu-se para a Faculdade de Ciências e Letras da UNESP, Câmpus de Araraquara, onde atua no ensino de graduação e de pós-graduação.


Apresentação

Introdução

1 Determinações sobre o processo de leitura
1 Leitura e enunciação
2 Leitura e interpretação
3 discutindo a noção de contexto
4 Três perspectivas de leitura
5 Formas de leitura
6 Duas leituras de O príncipe de Nicolau Maquiavel?
7 Três modalidades da leitura
8 A leitura como conhecimento enciclopédico
9 Dois aspectos da leitura: descontextualização e intertextualidade

2 tipologia de texto e leitura
1 Tipologia de texto segundo a perspectiva da semiótica francesa
2 Tipologia de texto segundo a perspectiva da análise do discurso francesa
3 Tipologia de texto segundo a perspectiva da lingüística textual
4 Reflexões sobre as diferentes propostas de tipologia de texto, relacionando
determinados aspectos com O príncipe de Maquiavel
5 Para uma tipologia do discurso
6 Modalidades de leitura e tipologia de texto

3 As condições históricas do aparecimento de O príncipe e sua organização discursiva
1 Recuo no tempo. Reconstituição do contexto histórico em que Maquiavel viveu e
escreveu O príncipe
2 Revisitando o Renascimento
2.1 Organização socioeconômica das cidades italianas durante o Renascimento. O caso de
Florença
2.2 Um perfil do homem do Renascimento
3 Um olhar sobre O príncipe
3.1 A organização de O príncipe de Nicolau Maquiavel
3.2 A narratividade de O príncipe. O manual de instrução e a construção do objeto-valor
3.3 Recursos lingüísticos utilizados na construção do discurso de O príncipe. A
argumentação e os recursos retóricos

4 As várias leituras de O príncipe: da Renascença até nossos dias
1 Nicolau Maquiavel comenta O príncipe
2 A leitura da Igreja Católica, durante o Concílio de Trento
3 A leitura de Frederico II da Prússia em seu Anti-Maquiavel
4 A leitura de rousseau em O contrato social
5 A leitura que Napoleão Bonaparte faz de O príncipe
6 Benito Mussolini lê O príncipe de Maquiavel
7 Como Antonio Gramsci lê O príncipe
8 Outras leituras de O príncipe
9 As leituras de O príncipe no Brasil

Pode ser adquirido também no dominio público clique aqui

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Abelardo Montenegro e Maquiavel

Livro inédito do intelectual cearense Abelardo Montenegro investiga traços do judaísmo na formação do povo cearense

A o morrer, em abril deste ano, Abelardo Fernando Montenegro contava 97 anos. A maior parte deles, dedicou à pesquisa, numa investigação contínua para compreender o Ceará e sua gente. O intelectual ainda encontrou tempo para de tratar outros temas, tão diversos quanto o simbolismo no Brasil e as teorias políticas de Nicolau Maquiavel.

Abelardo publicou 41 livros, compondo uma bibliografia transdisciplinar que ia da crítica literária à sociologia regional, da história e da antropologia à psicologia social. O certo é que produzia mais do que conseguia publicar. Deixou pronto material para, pelo menos, 10 livros.

O primeiro dessa lavra póstuma é "Cearense e Judeu". Recém-lançado, o livro foi organizado por Gildácio J. Almeida Sá, amigo de longa data de Abelardo. Ele assina um precioso texto introdutório, que esboça um perfil biográfico e um panorama da obra do amigo.

Maturação

Abelardo Montenegro era daqueles autores que produzem, simultaneamente, meia dúzia de obras. Na introdução, Gildácio Sá lembra seu primeiro contato com "Cearense e Judeu". Foi em 1979, quando viu na casa do amigo uma caixa, abarrotada de recortes de jornais antigos, agrupados sob esse título. O autor só daria forma final àquele material três décadas depois, dando continuidade à sua interpretação do Ceará. No final da vida, esse era o problema intelectual ao qual Abelardo Montenegro dedicava mais tempo (o último livro que publicou foi "O Ceará e o profeta da chuva", de 2008).

Neste, o autor parte da máxima que identifica o cearense como "o judeu brasileiro". Judaísmo evocado para falar da tendência desse povo à diáspora. Tema que já ocupou o dramaturgo Ricardo Guilherme, em seu solo "A Divina Comédia de Dante e Moacir".

No livro, Abelardo vai além das comparações, tocando em pontos como a visão de cearenses e judeus da religião, a psicologia das migrações e mesmo o possível paralelo entre o conhecido humor judaico e a molecagem com a qual tanto identificam os filhos do Ceará.

Cultura
"Cearense e judeu"
Abelardo F. Montenegro
238 páginas
2010
Expressão gráfica
Organização: Gildácio J. Almeida Sá


sábado, 10 de julho de 2010

Maquiavelismos…

Hoje vou ocupar este espaço com Nicolau Maquiavel – e as suas regras gerais da arte da guerra – na medida em que me parece importante que as pessoas se consciencializem que os problemas que hoje discutimos no nosso dia-a-dia, que as dificuldades e as particularidades do quotidiano das sociedades modernas, não são propriamente uma novidade.

Nicolau Maquiavel ficou conhecido pela forma peculiar como aconselhou alguns políticos, monarcas e dirigentes de Estado, pelo que advogava, pela conflitualidade à qual nunca virava costas e pela forma peculiar como recomendava que as pessoas se preparassem antecipadamente para esses desafios, dizendo o que deviam fazer e tentando adivinhar, por antecipação, as reacções dos adversários e mesmo dos inimigos. São algumas dessas regras importantes de Maquiavel que resolvo hoje partilhar com as pessoas que se digna a dispensar algum tempo para me lerem, na esperança que encontrem alguma utilidade neste legado de Nicolau Maquiavel:

“Estou consciente de vos ter falado de muitas coisas que por vós mesmos haveis podido aprender e ponderar. Não obstante, fi-lo, como ainda hoje vos disse, para melhor vos poder mostrar, através delas, os aspectos formais desta matéria, e, ainda, para satisfazer aqueles - se fosse esse o caso - que não tivessem tido, como vós, a oportunidade de sobre elas tomar conhecimento. Parece-me que, agora, já só me resta falar-vos de algumas regras gerais, com as quais deveis estar perfeitamente identificados. São as seguintes:

- Tudo o que é útil ao inimigo é prejudicial para ti, e, tudo o que te é útil prejudica o inimigo;
- Aquele que, na guerra, for mais vigilante a observar as intenções do inimigo e mais empenho puser na preparação do seu exército, menos perigos correrá e mais poderá aspirar à vitória;
- Nunca leves os teus soldados para o campo de batalha sem, previamente, estares seguro do seu ânimo e sem teres a certeza de que não têm medo e estão disciplinados e convictos de que vão vencer;
- É preferível vencer o inimigo pela fome do que pelas armas. A vitória pelas armas depende muito mais da fortuna do que da virtude;
- Nenhuma decisão é melhor do que aquela que permanece em segredo até ao momento da sua execução;
- Nada há de maior utilidade na guerra do que saber reconhecer uma oportunidade e não a deixar fugir;
- A natureza produz poucos homens valentes; em contrapartida, a astúcia e o treino fornecem bastantes;
- Na guerra, a disciplina vale bem mais do que a exaltação;
- Quando do exército inimigo saem homens para vir para o teu serviço, se forem fiéis tratar-se-á sempre de uma boa aquisição, porque as forças do adversário enfraquecem muito mais com a perda dos que desertam do que com a dos que morrem, ainda que a designação de desertor seja suspeita para os novos amigos e odiosa para os antigos;
- Na organização para uma batalha, é preferível constituir, atrás da primeira frente, uma reserva, que possa prestar auxílio, do que, para tornar a frente maior, dispersar as suas tropas;
- Dificilmente é derrotado todo aquele que consegue avaliar correctamente as suas forças e as do inimigo;
- Vale mais a virtude dos soldados do que o seu número; algumas vezes, porém, o valor da posição ocupada supera a virtude dos combatentes;
- As coisas inesperadas e repentinas perturbam os exércitos; as coisas habituais e graduais impressionam muito menos; por conseguinte, antes de travar batalha com um inimigo desconhecido, farás o teu exército habituar-se a ele através de pequenas escaramuças;
- Perseguir desordenadamente um inimigo já derrotado é correr o risco de passar de vencedor a vencido;
- Aquele que não prepara devidamente os abastecimentos necessários à vida do exército é derrotado sem o recurso às armas;
- Quem confia mais na cavalaria do que na infantaria, ou mais na infantaria do que na cavalaria, que saiba escolher o terreno em conformidade;
- Quando, durante o dia, quiseres verificar se algum espião se introduziu no acampamento, faz com que cada soldado recolha ao seu alojamento;
- Muda o plano de operações quando te aperceberes de que o inimigo foi capaz de o prever;
- Antes de tomares uma decisão, aconselha-te com muitos; quando souberes o que vais fazer, partilha a decisão com poucos;
- Quando estão aquartelados, os soldados dominam-se com o temor e as punições; depois, quando se conduzem ao combate, com a esperança e as recompensas;
- Os grandes capitães nunca vão para uma batalha senão quando a isso são constrangidos ou quando a oportunidade o impõe;
- Esforça-te para que os teus inimigos não saibam como vais organizar o teu exército para o combate. Seja qual for essa organização, faz com que as primeiras linhas possam ser recolhidas pelas segundas e pelas terceiras;
- Se não queres criar confusão, não atribuas a uma batalha, durante o combate, uma missão diferente daquela que inicialmente lhe estava atribuída;
- Enquanto os incidentes imprevistos com dificuldade se remedeiam, os esperados com facilidade se resolvem;
- Os homens, o ferro, o dinheiro e o pão constituem o nervo da guerra, mas, destes quatro, os dois primeiros são os mais necessários, porque os homens e o ferro, juntos, encontram o dinheiro e o pão, mas dinheiro e pão, somados, não encontram os homens e o ferro;
- Um rico desarmado é o prémio do soldado pobre;
- Acostumai os vossos soldados a desprezar o viver delicado e o vestir luxuoso.

Decididamente não nos deixemos influenciar por manipulações, não nos iludamos quanto ao que pensam, querem e ambicionam certas pessoas. Transpondo para a política, parece-me óbvio que as cautelas, no que à opinião pública diz respeito, são por demais evidentes e necessárias. As pessoas nos tempos que correm não têm desculpas, não podem ser enganadas, não podem ser confundidas e aceitar isso com naturalidade, não podem acreditar no primeiro vendedor de banha-da-cobra que lhes aparece pela frente, não se podem deixar iludir pelos discursos inflamadamente reivindicativos e facilitistas próprios de quem não tem, não teve e provavelmente nunca terá, responsabilidades de liderança e de governação. É fácil exigir, é fácil propor medidas idiotas e demagógicas, escudando-se numa falsa “pena” das pessoas que podem ser ajudadas de muitas formas, uma das quais através de circuitos de pressão e de diálogo (quando existem) entre correligionários partidários. Maquiavel escrevia na sua obra mas conhecida, “O Príncipe” – que acredito adaptar-se bem ao finalizar do meu texto de hoje - que existiam duas formas de se combater: “uma, pelas leis, outra, pela força. A primeira é própria do homem; a segunda, dos animais. Como, porém, muitas vezes a primeira não seja suficiente, é preciso recorrer à segunda. Ao príncipe torna-se necessário, porém, saber empregar convenientemente o animal e o homem. Isto foi ensinado à socapa aos príncipes, pelos antigos escritores, que relatam o que aconteceu com Aquiles e outros príncipes antigos (…) Sendo, portanto, um príncipe obrigado a bem servir-se da natureza da besta, deve dela tirar as qualidades da raposa e do leão, pois este não tem defesa alguma contra os laços, e a raposa, contra os lobos. Precisa, pois, ser raposa para conhecer os laços e leão para aterrorizar os lobos”.

Fonte:Jornal da Madeira