domingo, 31 de maio de 2009

Nicolau Maquiavel e Sun Tzu: Duas artes. Muitas guerras

A Arte da Guerra batiza tanto o manual militar do general chinês Sunzi quanto a obra com as experiências bélicas de Nicolau Maquiavel

por Celso Miranda

Separados por 2 mil anos. Unidos pelo mesmo tema. O político italiano Nicolau Maquiavel e o general chinês Sun Tzu (ou Sunzi se você prefere usar o sistema pinyin de romanização da escrita chinesa, que troca os símbolos por letras do alfabeto latino).

Maquiavel ficou mais famoso por outra de suas obras, O Príncipe, que fez com que seu nome inspirasse termos como “maquiavelismo”, que tanto pode significar um modo amoral de se fazer política (“os fins justificam os meios”) como, mais popularmente, um sujeito desprovido de boa fé.

Sunzi parece ter tido destino melhor: no século 21 virou guru de empresários e executivos modernosos. E o conjunto de meros 6 mil caracteres organizados em 13 capítulos conhecidos desde a dinastia Zhou, no século 6 a.C., com o nome de Sunzi Bingfa (em tradução literal, “Método militar de Sunzi”, que ganhou recentemente uma versão nova no Brasil pela Conrad com o nome A Arte da Guerra), virou um manual prático para ter sucesso nos negócios, vencer concorrências, tratar de subordinados, derrubar seu chefe, trocar de carro, cortar o cabelo... tudo!

Sunzi nasceu por volta de 540 a.C. em uma família de mandarins do estado Qi. Por volta de 517 a.C., abandonou os parentes, por causa de disputas internas entre os clãs, e rumou para o sul, fixando-se no estado Wu, governado por He Lu, jovem príncipe que havia usurpado o trono três anos antes. Sunzi apresentou ao rei seus 13 preceitos sobre a arte da guerra (que começam assim: “A guerra é um importante assunto de Estado, território da morte e da vida, caminho da sobrevivência e da extinção, não pode deixar de ser investigada”).

Deve ter sido a experiência e a disciplina militares vivenciadas na juventude em Qi que fizeram com que He Lu lhe entregasse o comando militar do reino. Cargo que continuou ocupando mais tarde, nas campanhas militares do sucessor de He Lu, o príncipe Fu Chai. O estado guerreiro que construiu, no entanto, durou apenas 40 anos, quando as tropas Wu foram derrotadas, em 476 a.C., pelas hordas do estado Yue.

Longe dali...

A obra literária de Maquiavel revela que sua preocupação com a arte militar ultrapassa sua experiência prática. Desde muito cedo, antes de se tornar um pensador político, o Exército e suas relações com a política já eram objetos de inquirição. Em um texto de 1504, ele alerta para a necessidade de os italianos estabelecerem uma milícia própria a fim de evitar invasões estrangeiras: “O caminho será fácil e curto se vocês reabrirem o templo de Marte”. A evocação ao deus romano da guerra não era poesia. Para Maquiavel, o passado glorioso de Roma era uma inspiração. Mas seu discurso não visava uma volta ao passado. Pelo contrário. Se Roma era o modelo, a “sua” Florença e a Itália fragmentada eram as metas a atingir e transformar.

Textos como esses ecoavam na cabeça dos figurões de Florença nos primeiros anos do século 16. A poderosa cidade lutava para reconquistar Pisa mas, segundo o costume da época, não contava com um exército próprio. Funcionava assim: desde o século 13, na Itália a defesa das cidades e as campanhas militares ficavam sob os cuidados de um condottiero (ou condottiere), isto é, um comandante de tropas que, mediante pagamento, colocava-se a serviço de um Estado – a condotta era o contrato militar para o levantamento de tropas. No entanto, o modelo vinha de fracassos estrondosos. Em 1499, soldados que tentavam retomar Pisa para os florentinos se rebelaram contra o condottiero e se bandearam para o lado inimigo. Desonra que deixou os governantes florentinos propensos a aceitar uma idéia meio maluca que já circulava há algum tempo pela cabeça do segundo-secretário (adivinha quem? O próprio).

Em janeiro de 1506, o Conselho de Florença deu carta branca para Maquiavel alistar soldados pelo vale do Mugello e do Casentino, e, em 15 de fevereiro, dia de Carnaval, ele e sua turma chegaram a Piazza dei Signori, onde foram recebidos em festa. A primeira missão dada ao exército maquiavélico foi retomar Pisa, o que, de fato, aconteceu em 1509. Dezessete anos depois, a defesa de Florença ficou nas mãos de Maquiavel durante a Liga Cognac, no combate a Carlos V, de Milão. Após o tratado de paz, ele escreveu A Arte da Guerra.

Manual chinês

"Há rotas que não se deve trilhar, há exércitos contra os quais não se deve combater, há cidadelas que não se deve atacar, há territórios que não se devem disputar, há ordens imperiais que não se devem catar!"

A Arte da Guerra de Sunzi

Experiência italiana

"Tais desordens não nasceram de outra coisa senão do fato de ter havido homens que usavam o exercício do soldo como sua arte pessoal. A guerra faz ladrões, a paz os enforca.

A Arte da Guerra de Maquiavel, sobre os excessos cometidos por soldados e seus comandantes durante uma guerra.

Fonte: Historia

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Maquiavel (Niccolo Machiavelli)

O pensamento de Maquiavel tem uma importância ímpar nos estudos políticos pelo fato de ele estabelecer uma nítida separação entre a política e a ética, bem como por deixar de lado a antiga concepção de política herdada da Grécia antiga, que visava compreender a política como ela deve ser. Maquiavel preferia estudar os fatos como eles são na realidade.Nesse sentido, sua obra teórica constitui uma reviravolta da perspectiva clássica da filosofia política grega, pois o filósofo partiu "das condições nas quais se vive e não das condições segundo as quais se deve viver". Sua teoria desmascarou as pretensões morais e religiosas em matéria de política.


Mas ele - ao contrário do que equivocadamente se difunde - não pretendia criar um manual da tirania perfeita.Maquiavel procurava promover uma ordem política inteiramente nova, em que os mais hábeis utilizassem a religião para governar, isto é, para arrancar o homem à sua maldade natural e torná-lo bom.Originário de uma família decadente, mas antiga, teve educação formal e contato com os clássicos ainda na adolescência.




Começou uma carreira no governo da República de Florença com a queda de Girolamo Savonarolla. Exerceu cargos governamentais e desenvolveu missões diplomáticas na França, na Santa Sé e na Alemanha. Sua atividade política e diplomática foi, certamente, a base de seu pensamento.Casou com Marietta di Luigi Corsini, com quem teve quatro filhos e duas filhas. O fim da república, com a volta ao poder da família Médici, levou-o a um exílio de oito anos, durante os quais escreveu a maior parte de sua obra, da qual se destaca "O Príncipe", de 1513 (embora só publicado em 1532).




Conseguiu retornar à Florença e entender-se com Lourenço de Médici, ao qual dedicou "O Príncipe", e se tornou, em 1520, historiador oficial da cidade-Estado. Ao mesmo tempo desenvolveu obras literárias e teatrais que pouco tinham a ver com seu pensamento filosófico político, embora revelem sua inteligência brilhante e seu refinamento estilístico, como na peça "A Madrágora" e no divertidíssimo conto "Belfegor" - que faz uma crítica ao consumismo da época, muito atual ainda nos dias de hoje.Nesse sentido, pode-se compreender Maquiavel como um intelectual renascentista, cujo conhecimento pretendia abarcar os mais diversos aspectos da realidade, inclusive a arte - seja teatral ou literária.



Fonte: Enciclopédia Ilustrada da Folha

terça-feira, 26 de maio de 2009

FHC no inferno?! Deus, ó Deus! Tire Maquiavel de lá!



Gilberto Gomes Pereira
Quando alguém pronuncia o nome de Nicolau Maquiavel, já o faz com uma certa convicção de que está falando de um pequeno demônio florentino que contribuiu para as ações maléficas de tantos governantes pelo mundo afora. Quem ouve ou lê tal nome - não necessita sequer de ter lido qualquer obra dele - imagina crueldades e iníquas tramas políticas proferidas por esse diabólico ser, e do íntimo de suas pureza e intransigência morais condena Maquiavel aos pélagos profundos do inferno. Tudo em nome da expressão, conhecida por todos, "Maquiavélico".


Niccolò, como gostava de ser chamado, foi um apaixonado defensor da unificação da Itália. Tudo que escrevia era uma inspiração de sua vontade de ver o povo italiano bem conduzido, sem ser humilhado, ou espoliado. Suas aspirações eram o bem comum, sem a exploração de uma minoria sobre o povo simples, que sempre trabalhou e nunca reclamou, para manter aquecidos a economia e o palácio real de seu príncipe. Nessa busca de glória, Maquiavel pregava o amor à pátria, acima de tudo. O amor à pátria, mais do que à própria alma.


Maquiavel no Inferno, é o título da biografia desse pensador italiano, escrita por Sebastian de Grazia. Nela, de Grazia diz que "numa de suas últimas cartas Niccolò exclama a seu velho amigo Vettori: 'amo mais à minha pátria do que à alma' ". O biógrafo então explica que esse amor incondicional significa "uma disposição de sofrer qualquer coisa pela pátria - humilhação, tortura, maus-tratos, desonra, exílio". Significa "uma disposição de mentir, lesar e matar, fazer o mal pela pátria, com isso perdendo a própria alma". Isso significa "morrer pela pátria e - se necessário - ser condenado ao inferno por causa dela".


Algum tempo atrás eu pensei em escrever para o Integração um texto intitulado A democracia maquiavélica de Fernando Henrique, com a intenção de falar das mazelas da política social e da ditadura econômica do governo FHC. Hoje vejo que se "maquiavélico" for uma expressão atribuída ao pensamento político de Maquiavel, Fernando Henrique não é maquiavélico, pois ao invés de humilhar-se pela pátria, ele a humilha. Ao invés de manter-se numa possibilidade de ser torturado em favor da pátria, ele mantém o monopólio legítimo da força e da violência pronto a torturar a pátria, as crianças desta, e tudo mais que lhe convir. Ao invés de se prontificar a maus-tratos pela pátria, ele maltrata o povo com palavras vexatórias e ações mais humilhantes ainda. Ao contrário de matar pela pátria, o governo de Fernando Henrique mata a pátria. Ao revés de fazer o mal pela pátria, ele faz mal ao Brasil. Ao invés de estar determinado a morrer pela pátria, é o país que morre de fome, de assassinato por policiais, de desespero por não haver emprego, por causa de seu descaso com a política social. E por fim, ao contrário de ser condenado ao inferno por causa da pátria, é o povo que deve condená-lo a esse mesmo inferno por causa de sua indiferença e da falta de sensibilidade de seu governo para com os problemas sociais do país que dirige. Nesse caso, FHC e Maquiavel estão em extremos opostos.


Condenado ao inferno, Fernando Henrique não pode se encontrar com Maquiavel, que já está lá desde 1527. As convicções políticas de ambos são antagônicas, pois para o florentino "o povo é a razão de ser do Estado, e é para seu bem comum que existe o Estado. Qualquer Estado que não o beneficie é um mau Estado". Para o brasileiro, o povo talvez não passe de um espectro, deve trabalhar em função do Estado, e não o contrário, e qualquer um, do povo, que não passe mais de 40 anos de sua vida trabalhando pelo menos dez horas por dia, todo dia, é um vagabundo. Por isso peço a Deus que tire Niccolò de lá e o leve para o Céu. Se isso não for possível, que Deus em sua bondade infinita, conhecendo como ninguém a conduta de Satanás, convença-o de manter em setores separados o florentino e o brasileiro. Seria uma iniquidade infinitamente atroz. O inferno com Fernando Henrique pode não ser uma boa idéia para o príncipe das trevas, e Maquiavel, que não renegou o que escreveu, não merece compartilhar suas eternas noites infernais com um homem da estirpe do presidente Fernando Henrique Cardoso.


Gilberto Gomes Pereira é estudante do 3o. ano de jornalismo da UFG.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Maquiavel era mesmo maquiavélico?, artigo de Renato Janine Ribeiro

Persiste até hoje o falso entendimento do pensador que arrancou máscaras e desnudou relações de poder entre os homens Renato Janine Ribeiro é professor de Ética na USP e autor de “O Afeto Autoritário - Televisão, Ética, Democracia”. Artigo publicado em “O Estado de SP”:Mudou por completo, ao longo do século 20, a imagem que se tinha de Maquiavel. Ou melhor, mudou a imagem dele para os seus estudiosos, não para o público em geral.

Desde que ele escreveu O Príncipe, em 1513 (livro que começou a circular em manuscrito ou resumos antes mesmo de ser impresso, o que só ocorreu em 1532), sua fama foi péssima.Assim, numa peça de Christopher Marlowe, O Judeu de Malta (1589), aparece um certo italiano de nome Machevill: um trocadilho bem inglês entre o nome de Maquiavel e 'evil', mal. Lembrando que o 'Mac' indica uma origem de família, poderíamos traduzir como Mauquiavel ou Demojúnior. Até um rei como Frederico da Prússia, não exatamente um homem de bem em política externa, escreveu um Anti-Maquiavel, em meados do século 18, para condenar nosso filósofo em nome da moral e do bom governo.Maquiavel foi assim, se me perdoam a expressão, o maior saco de pancadas da história da filosofia política.

E disputa com Platão a condição de filósofo que gerou o maior uso de seu nome na forma adjetiva. Assim como se fala em 'amor platônico', também se diz que alguém é maquiavélico - o que constitui um insulto sério. Ainda se atribui a ele uma frase que nunca escreveu, 'Os fins justificam os meios'.O que ocasionou essa imagem? É que Maquiavel representa, melhor que ninguém, o rompimento com um modo medieval de ver a política como extensão da moral.O 'bom rei' era um rei que seria bom, isto é, o rei eficaz era o rei que fazia o bem. Suas virtudes eram as de um chefe qualquer.

Ora, o que Maquiavel mostra é que os príncipes bem-sucedidos, fosse em seu mundo particularmente belicoso, dos pequenos Estados italianos em guerra entre si, fosse no passado medieval, raramente seguiam a moral convencional e cristã.Ele arranca máscaras. Mostra como de fato agiam, agem e devem agir os que desejam conquistar o poder ou simplesmente mantê-lo.Isso é insuportável para os bem-pensantes. Acaba com a justificação religiosa para o poder político. Exibe a nudez das relações de poder entre os homens. Mas, ao contrário do que seus inimigos vão dizer, essas relações não são de mera força. A política é muito complicada, e há personagens que tiveram sucesso e glória, como o rei Fernando de Aragão, outros que tiveram sucesso mas não glória, como Agátocles, e ainda quem teve glória mas não sucesso, como César Borgia.Essa sutileza escapa aos acusadores de Maquiavel - e é ela que mostra que a política não é apenas o contrário da ética.

Quando começa a mudar a imagem de Maquiavel? Penso que o grande sinal da alteração está num livro de Max Weber, Ciência e Política: Duas Vocações, que data de 1919. O grande sociólogo alemão distingue uma ética que se pauta pelos fins e outra que se pauta pelos valores.Os políticos, diz ele, têm uma responsabilidade que se mede pelas conseqüências de seus atos. Já os cientistas seguem outra ética. Seu compromisso é com a verdade.

O interessante na distinção de Weber é que ele não opõe ética e política – mas descreve duas éticas. Ou seja, a política passa a ser uma ética. É talvez a primeira vez – desde Maquiavel – que a política se constitui explicitamente como uma ética, mas preservando seus traços próprios.Porque mesmo hoje em dia, quando se fala em 'política ética', tende-se a renegar suas características essenciais e a convertê-la em apêndice da religião cristã. Com Weber, não.O que era negativo na política - sua relativização dos valores morais, sua preocupação com os fins que, se não chegam a justificar os meios, pelo menos pesam tanto quanto estes – passa a ser visto como sua própria natureza.Weber cita Maquiavel duas ou três vezes nesse livro - e uma delas para dizer que O Príncipe, comparado com uma obra antiga da literatura hindu, o Artashastra de Kautilya, é 'um livro inofensivo'. Mas os ecos do pensador florentino em Weber são visíveis.A política pode agora ser vista como um reino em que as aparências contam, melhor dizendo, em que as aparências são constantemente produzidas, portanto, como um reino que não é da verdade. Contudo, mesmo assim, é um reino que produz um certo bem, o bem coletivo. Weber, aliás, cita elogiosamente uma passagem em que Maquiavel louva os florentinos que preferiram a salvação da cidade à salvação da própria alma.

O que assim acontece na recepção culta de Maquiavel, nos últimos cem anos, é que ele passa a ser visto como o pensador de uma ação política que não é mais uma ética com sinal negativo, ou uma ética com deságio.É uma ética própria, diz-nos Isaiah Berlin, uma ética que se opõe à cristã mas nem por isso deixa de ser ética (pagã, segundo Berlin). Merleau-Ponty até radicaliza: não há ética digna de seu nome a não ser a que se preocupa com as conseqüências dos atos, isto é, a ética que Weber chama da responsabilidade - e que é a maquiaveliana.E se dá maior atenção ao caráter republicano de Maquiavel. Afinal, ele foi ministro da república de Florença e escreveu um longo tratado em defesa desse regime.

É o que leva autores como o inglês Quentin Skinner, o francês Claude Lefort e o brasileiro Newton Bignotto a ressaltarem sua preocupação com o regime do bem comum, da coisa pública, a res publica.Qual o problema, então? É que essa percepção culta não sai dos muros da academia. Cada vez que um de nós, professor, dá aula sobre Maquiavel tem que dizer o que afirmei acima: que Maquiavel não é maquiavélico. De vez em quando, recebo algum e-mail me perguntando se ele disse mesmo que 'os fins justificam os meios' e, se não disse, de quem são essas palavras (não sei). Em suma, não basta provarmos que Maquiavel não é o personagem da sua lenda. Faz-se preciso entender, senão por que essa legenda surgiu, mais precisamente por que ela continua viva e forte.Esse é um aspecto importante do grande problema que nosso tempo tem com a política.Por um lado, nunca houve tanta democracia: liberdade de expressão, de organização, de voto, no plano político; no plano pessoal, liberdade para escolher o parceiro, adotar a orientação sexual, procurar o emprego preferido. Essas conquistas não são plenas e precisam ser ampliadas, mas já se deu a partida nesse processo.

Por outro lado, porém, há uma desconfiança enorme - e mundial - em face dos políticos, daqueles mesmos políticos que elegemos. Nem Bush nem Blair têm a confiança da maior parte de seus cidadãos. A corrupção, que alguns dizem ser fenômeno de Terceiro Mundo ou do Brasil, está arraigada nos países mais ricos. Esse é o lado maquiavélico da política, que faz tantas pessoas desconfiarem dela. O estranho é que os próprios eleitores não se sentem responsáveis por seus eleitos, porque tendem a pensar que a representação os trai.Não será isso tudo curioso? Maquiavel foi republicano, e nosso mundo vive a extensão das liberdades republicanas e democráticas.

Mas, com O Príncipe, Maquiavel abriu espaço para a figura do maquiavélico – e aos olhos de muitos, talvez da maior parte, é esse personagem que povoa o poder. Será que a política não cumpriu ainda suas promessas republicanas e democráticas?Ou será que temos dificuldade em aceitar que política não é utopia, que nossa humanidade não é perfeita, e a política é o que nos mostra este espelho em que não queremos nos reconhecer? (O Estado de SP, 1º/7)

sábado, 16 de maio de 2009

ACM era Maquiavel brasileiro, diz Virgílio



O senador do Amazonas pelo PSDB, Arthur Virgílio, aconselhou aos observadores políticos que leiam frases e pensamentos do senador Antonio Carlos Magalhães, que morreu esta manhã, pronunciados durante sua carreira política. "ACM era uma espécie de (Nicolau) Maquiavel brasileiro", comparou, durante entrevista à Agência Estado, por telefone, direto de Miami, enquanto aguardava vôo para prosseguir à República Dominicana, para onde viajará em férias com a família.

Virgílio afirmou também que ACM morreu como viveu: guerreando. "Ele saiu da UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) e foi direto para o Senado. ACM derrotou a morte pelo menos uma meia dúzia de vezes", disse.

Na avaliação de Virgílio, ACM foi um "notável presidente" do Senado, ainda que tenha sua vida política marcada como a de um homem polêmico. "Eu mesmo vivi momentos com ele em que alterávamos a meiguice com a intolerância", considerou. "Perco um companheiro de oposição, um conselheiro", acrescentou.

Após lamentar a morte de ACM, Virgílio lembrou que hoje faleceu também a mãe do governador de São Paulo, José Serra, Serafina Serra. Além disso, comentou que ainda sentia pesar pelo acidente aéreo com o avião da TAM, em São Paulo, esta semana, com cerca de 200 vítimas, incluindo o deputado Júlio Redecker (PSDB-RS). "A bruxa está solta", resumiu.



Fonte: Estadão

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Maquiavel e o Poder

A imprescindível obra literária de Niccolò di Bernardo Machiavelli, ou simplesmente Nicolau Maquiavel, o pensador de Florença, está mais viva do que nunca, e, embora nem sempre bem assimilada, está a nos oferecer lições muito pertinentes num período em que se fala tanto em ética e moralidade na política, e, por conseguinte, no poder.

Eis uma frase de Maquiavel que merece uma análise acerca do que ora escrevo: "Não se pode chamar de valor assassinar seus cidadãos, trair seus amigos, faltar com a palavra dada, ser desapiedado, não ter religião. Essas atitudes podem levar à conquista de um império, mas não à glória."

Embora vivamos num regime democrático com sistema presidencialista, percebe-se nitidamente que, por decorrência de um modelo educacional natimorto e em função de cinco séculos de incomensuráveis desigualdades sociais, temos, no Brasil, uma classe política tão arcaica e obsoleta como a da era renascentista de Maquiavel.

Temos, a bem dos fatos, políticos no poder que assassinam cidadãos quando lhes deixam sem um sistema de saúde decente, em que há uma clara e impiedosa roleta russa para se escolher qual miserável deve viver e qual deve morrer, numa desfaçatez sem tamanho, pois os recursos públicos para o setor são desviados a bel-prazer para robustecer ainda mais a já tão cruel concentração de renda nas mãos e cofres de senhores de duvidosa moral. E tudo isso em detrimento da miséria de milhões de famintos.

A traição a seus amigos ocorre já tão logo cada voto é totalizado, no dia da eleição. Os compromissos de governo são esquecidos, jogados no lixo ou arremessados dentro de alguma gaveta igualmente suspeita.É por isso que, como escrevera Nicolau Maquiavel, há muitos que chegam à conquista de um império, mas não à glória.

Como se vê, a obra de Maquiavel está mais viva do que nunca. E parece ter sido escrita para difundir as discrepâncias e as históricas distorções sociais que se pratica neste País que teima em continuar "deitado eternamente em berço esplêndido, ao som do mar e à luz do céu profundo".Haja luz na obra de Maquiavel!

Corino Rodrigues de Alvarenga
corino.blog.terra.com.br

Colaborador: Rodney Eloy

Fonte: Cassilandiajornal