quarta-feira, 27 de abril de 2011

Semana de Filosofia aprofundará fundamentos políticos e econômicos

Francisco Beltrão -
Os fundamentos filosóficos e econômicos de Benjamim Constant, Nicolau Maquiavel, Rosseau, entre outros serão abordados por professores da Unioeste e da Universidade Federal de Santa Catarina na 7ª Semana de Filosofia. Com o tema “Filosofia Política: Republicanismo e Liberalismo” o evento, que é realizado pelo Instituto Sapientia de Filosofia de Francisco Beltrão, aprofundará os fundamentos de temas políticos e econômicos. A Semana acontece de 10 a 13 de maio, no auditório do Instituto.

Segundo o diretor do Instituto Sapientia, Padre Dilonei Müller, a Semana possui dois propósitos. “Para os acadêmicos do curso de Filosofia, a Semana tem o propósito de abrir seus horizontes aos pensamentos filosóficos; para o Instituto, é uma maneira de divulgar o curso, mostrá-lo para a comunidade”, explicou.

A participação será aberta à comunidade. O valor da inscrição para todas as palestras e mini-cursos é R$40; para conferências isoladas, R$10. Será concedido certificado de participação, que pode ser utilizado como horas extra-curriculares para acadêmicos de qualquer área. A Semana será aberta com a conferência “Da distinção entre Ética e Moral”, ministrada pelo Professor Doutor Delamar Volpato Dutra (UFSC/ CNPq), no dia 10, às 19h15.

Fonte:aquisudoeste


Palavras, lógica e sentido

Feliz Páscoa a todos meus e minhas insignes leitores e leitoras!

A seriíssima e maquiavélica afirmação: "O Príncipe deve fazer o bem devagarinho, mas deve fazer o mal de uma só vez" - de Nicolau Maquiavel - está acontecendo às avessas na Líbia. Duas frentes de guerra a de Ghedafi e a da OTAN, estão matando devagarinho o povo Líbio. Ora, se a intervenção na NATO não é para vencer Ghedafi, é só para matar a outra parte do povo Líbio. O Cel. Ghedafi já avisou: "A minha vingança será maligna!" Os intérpretes estão entendendo o aviso como uma ameaça de sua parte, à volta da prática do terrorismo internacional.

Pessoa - Do latim, persona = pessoa. Mas na antiguidade o termo indicava a máscara do ator que representava um personagem; além disso, significava também cargo, função. O médico austríaco Sigmund Freud *1856 +1939, que desde 1900 até a sua morte distinguiu-se no estudo da psicologia da pessoa humana, fez importantes descobertas sobre a relação entre a pessoa e a sua personalidade ou seu modo de se apresentar em variadas situações e/ou ocasiões... nas quais, segundo ele, entram em ação: simulação, dupla personalidade, megalomania, fobias diversas, desejos inconscientes e outros fatores que, de certo modo, fazem com que a "pessoa seja uma máscara"... a convivência no trabalho, na comunidade, na família... vai mostrar, muitas vezes, que aquela pessoa com quem você convive, não é exatamente a mesma que você conheceu ou pensou ter inicialmente conhecido. A contribuição do Dr. Freud nesse assunto, ainda não foi superada. Entre tantas revelações, o Freud diz que "a ilusão é boa até certo ponto"... eu diria que é boa até o ponto certo. Todo projeto é uma "ilusão" até ser realizado. A "desilusão" é sempre proporcional ao tamanho da "ilusão". É feliz quem sabe ter ilusões comedidas. Ing. Person. Esp. Persona. Fr. Personne. It. Persona. Al. Person.

Peste - Do latim, pestis = peste, praga ou doença contagiosa grave, que muitas vezes leva à morte. Cognatos: Pesticida, substância química para mata insetos que atacam certas lavouras de hortaliças. Este é um grave problema moderno que algumas ONGs combatem, mas ao que parece sem grandes resultados. Pestífero, pestilência, pestilento, empestado, empestar... Ing. Peste; plague. Esp. Peste. Fr. Peste. It. Peste. Al. Peste; Seuche f,

Pétala - Do grego, pétalon = pétalo, cada uma das peças que compõem a corola de uma flor. A partir do termo original grego, a forma deveria ser pétalo, como fazem o espanhol e o italiano. Em francês também é masculino. Mas o uso no português consagrou "pétala" e não há muito o que se discutir. Cognatos: petalino, petaleação e petaloide = em forma de pétala. Ing. Petal. Esp. Pétalo. Fr. Pétale (m.) It. Petalo. Al. Blumenblatt n.

Petalismo - Do grego, petalismós = petalismo. O termo vem de "pétalon" = folha. O petalismo era uma prática política na antiga Siracusa - que pertencia à chamada Magna Grécia - de banir uma pessoa escrevendo seu nome numa folha de oliveira ou de figueira. Assim como na Grécia antiga se praticava o ostracismo escrevendo o nome da pessoa a ser banida numa casca de ostra.

Peteca - Do tupi, pe´teka = bater com a palma da mão. É um disco de palha de milho, de pano ou de couro recheado de material leve como, algodão, palha, pedaços de cortiça ou de uma fibra vegetal, de origem asiática, mas conhecida no interior do Ceará como ciúme, super leve, que se usa em travesseiros; e, na parte de cima, um molho de penas, que ajudam na direção. A peteca é lançada ao ar com uma dada com a palma da mão, as penas fazem com que a parte que deve ser tocada fique sempre para baixo. Duas pessoas ou dois grupos se empenham em não deixar a peteca cair de seu lado. Esse jogo é conhecido na interior do Brasil desde a segunda metade do século XIX. O termo é bastante usado no sentido figurado joguete, escárnio.

Pétreo - Do latim, petreus, mas derivado do grego petraíos = pétreo, relativo a pedra, pedregoso. Em sentido figurado: insensível. O nome está ligado a uma parte da Arábia, cognominada Arábia Pétrea, e à cidade de Petra, que atualmente fica na Jordânia, mas fez parte do antigo Israel, tendo sido capital da tribo de Edom, em 300 a.C., ela foi domina pelos romanos com o imperador Trajano em 106 d.C. e, a partir de antão, começou o seu declínio. Hoje é um centro de turismo. Cognatos: petrificar, petrífico, petroquímica, petroso... e mais os que estão após a palavra petrografia.

Petição - Do latim, petitio, petitionis = petição. Curiosamente, o primeiro sentido da palavra no latim clássico é assalto, ataque, investida. Em seguida o termo passou a significar reclamação em juízo e também pedido, no sentido de qualquer solicitação que se faz a uma pessoa, a uma entidade... É curiosa a expressão portuguesa: "em petição de miséria", que significa estar no mais elevado grau de necessidade e precisa sair dela. Ing. Petition. Esp. Petición. Fr. Pétition. It. Petitizione. Al. Bitt-gesuch n.

Petrografia - Do grego, pétra = rocha, + graphein = descrição. Sendo que a palavra termina com o sufixo "ia". Descrição das rochas. Cognatos: petrologia, da mesma raiz, + logia, de logos = estudo; petróleo, da mesma raiz + o oleum = óleo, que é termo latino; petroleiro, da mesma origem que o anterior + o sufixo "eiro", indicativo de profissão; PETROBRAS, que dispensa apresentação. Ing. Esp. Fr. It. Al.

Petulante - Do latim, petulans, petulatis = atrevido, imodesto, insolente, ousado. O termo é o particípio presente do verbo petulare = atacar, protestar, reclamar fortemente. Cognato: petulância.

Peúga - Do latim tardio, peduca = meia curta para coturno. Se você nunca viu essa palavra, não estranhe, pois é usada quase exclusivamente em Portugal, para designar as meias curtas para homens e crianças, não as meias longas de senhoras.

Piaba - Do tupi, pi´aua = piaba. Nome comum de vários peixes caciformes da família dos caracídeos. A primeira informação sobre ele foi dada por Gabriel Soares de Sousa em Notícia do Brasil (1587), em que diz: "... ele é um peixe saboroso e de poucas espinhas". Esse peixe é largamente citado em nossa literatura. É um excelente tira-gosto.

Piaçaba/piaçava - Do tupi, pïa´sawa = piçaba ou piaçava. A primeira informação sobre essa planta está em Gabriel Soares de Sousa, Notícia do Brasil de 1587. É uma palmeira nativa do Brasil, em especial nos estados (AL. SE. BA. ES). Com a sua fibra, que é ao mesmo tempo, rígida e flexível se confeccionam vassouras e escovas para limpeza. Por esse motivo é também popularmente conhecida com vassourinha.

Piaga - Do galego, piache, piagé, piaye registrada em autores espanhóis, a partir do século XVI, mormente os que estiveram no Caribe. Bartolomeu de Las Casas, em 1550, refere-se aos "Piachas muy viejos maestros de aquella arte mágica". O termo significa Pajé, augure, curandeiro. Foi o imortal Gonçalves Dias quem introduziu a palavra "piaga" na linguagem literária, em 1846, com seu belo "Canto do Piaga". Por sua influência usaram a palavra, Junqueira Freire, Araújo Portoalegre e Machado de Assis. O termo foi introduzido como neologismo. Em 1876, Couto de Magalhães, em "O Selvagem", condenou essa palavra. Hoje ela quase não é usada, mas está no VOLP/2009.


Hermínio Bezerra, frei e tradutor

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Brecha na fidelidade partidária evita mal maior, diz especialista


A criação de um novo partido no berço das duas maiores legendas do País – PT e PSDB – fez com que a movimentação política para a sucessão em São Paulo tivesse início quase um ano e meio antes das eleições municipais. Lançado em março pelo prefeito Gilberto Kassab, o Partido Social Democrático (PSD) se tornou uma espécie de guarda-chuva para políticos descontentes em seus partidos de origem, sobretudo DEM e PSDB – que, na última semana, assistiu ao anúncio da saída de sete de seus 13 vereadores paulistanos (seis já oficializadas).

A migração entre legendas, intensificada nos últimos dias, reacendeu o debate sobre fidelidade partidária no País. O movimento mais recente foi o anúncio de que Gabriel Chalita, um dos candidatos que mais recebeu votos para deputado federal em 2010, está a caminho do PMDB para disputar a prefeitura paulistana.
Apesar do entendimento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) segundo o qual o mandato pertence ao partido político ou à coligação, e não ao eleito, as mudanças recentemente observadas estão de acordo com as brechas existentes na própria legislação, segundo o cientista político Celso Roma, especialista em partidos políticos.

“A legislação tem brechas que permitem a mudança de filiação partidária, no caso de políticos que não exercem cargo eletivo, mandatários que sofrem perseguição política ou aqueles que se reúnem para fundar um novo partido político”, lembra o pesquisador.
Para Celso Roma, as exceções na lei sobre fidelidade partidária devem ser vistas como “positivas”, pois evitam o que considera um “mal maior”: a violação de direitos políticos. “Se a ideia de fidelidade partidária for levada ao extremo, será restaurada a lei que vigorava durante a ditadura militar, período em que a liberdade de associação política era restrita e vigiada”, diz.
Segundo Roma, a discussão sobre fidelidade partidária no Brasil nasceu e se reproduz “por casuísmo”, já que é resultado de uma consulta feita em 2007 pelo então PFL (hoje DEM), pelo PSDB e pelo PPS ao Supremo Tribunal Federal. “Foi um debate feito menos por convicção no conceito de fidelidade partidária e mais por necessidade de recuperar as cadeiras perdidas na Câmara dos Deputados, em decorrência da perda de filiados. É isto que está se repetindo neste episódio com os vereadores da Câmara de São Paulo”.
Apesar do desejo do PSDB de reaver as vagas na Justiça com base na lei da fidelidade partidária, os vereadores poderão citar uma possível falta de espaço no partido como forma de perseguição. O argumento foi usado, por exemplo, pelo vereador Gilberto Natalini ao deixar o PSDB junto com seus colegas – entre eles o presidente da Câmara Municipal de São Paulo, José Police Neto. O discurso está apoiado em um vídeo em que o grupo é atacado por correligionários rivais, ligados ao governador Geraldo Alckmin (PSDB).

O estopim da crise, que remonta às eleições de 2008 – quando Alckmin desafiou o partido e lançou candidatura para a Prefeitura de São Paulo – aconteceu após a eleição do diretório municipal da sigla na capital, na semana passada, quando os vereadores dissidentes, alinhados com Kassab, foram alijados dos principais cargos. Natalini chegou a dizer que a “facção” ligada ao governador havia humilhado o grupo de vereadores.
Apesar das brechas na legislação, Roma aponta que candidatos considerados “infiéis” costumam ser punidos quando resolvem trocar de partido. “Antes da interpretação do TSE, ratificada em seguida pelo STF, o parlamentar que trocava de partido prestava contas com seus eleitores. Estudos indicam que os candidatos infiéis tinham chances menores de serem reeleitos comparados aos infiéis. É o eleitor quem dá o veredicto sobre a mudança de partido”, diz Roma, que lembra uma passagem de “O Príncipe”, de Nicolau Maquiavel, para ilustrar a situação: “O desejo de conquista é algo natural e comum; aqueles que obtêm sucesso na conquista são sempre louvados, e jamais censurados; os que não têm condições de conquistar, mas querem fazê-lo a qualquer custo, cometem um erro que merece ser recriminado”.
Efeito PSD

Em meio à movimentação política, e na tentativa de estancar os estragos que o PSD – provável destino de parte dos dissidentes – começa a provocar, quatro partidos (DEM, PTB, PPS e PMN) se uniram, no começo da semana, numa estratégia jurídica contra a nova legenda. O objetivo é impugnar a formação da agremiação quando o registro for solicitado à Justiça Eleitoral e reivindicar o mandato dos políticos que deixaram seus partidos. O PSDB ainda pode se aliar à estratégia.

Segundo Roma, enquanto recebe dissidentes de outros partidos, o PSD terá de conviver agora com uma espécie de encruzilhada antes de se apresentar como alternativa, desta vez para o eleitor. Isso porque, para o pesquisador, a nova sigla seguirá como “atrativo” para os políticos da oposição que pretendem se aproximar do governo federal para sobreviver, mas a legenda não deixará de flutuar nas esferas do PT e do PSDB. “A lei de atração política obedecerá aos princípios do oportunismo”, diz.
“Os membros do PSD estão em uma encruzilhada: não podem expressar abertamente suas crenças em favor do mercado e de políticas universalistas (contra cota racial, por exemplo) porque entrariam em conflito com os ideais do PT e da presidente Dilma Rousseff; também não podem renegá-las porque acreditam nisto e, se o projeto do novo partido fracassar, podem retornar para onde partiram. Os líderes do PSD apostam todas as fichas na roleta da eleição de 2012. Se fracassarem, correm o risco de encerrar as atividades e se fundir com outro partido”.

terça-feira, 12 de abril de 2011

O Estado deve intervir no processo econômico?

Na troca de comando da Vale, muito se falou, muito se especulou, muito se despolitizou, alguns até afirmaram na ideologização da economia ou da empresa. Apesar de ter sido privatizada no governo FHC, o Estado brasileiro detém via PREVI e BNDES, 60,5% da companhia.
Portanto, a discussão de fundo que fica é qual o papel do Estado na economia? Para alguns, principalmente aqueles que eram completamente contra a mudança na Vale, defendem que a ação governamental deveria restringir-se à produção dos chamados bens públicos, como por exemplo, segurança, educação etc.
Ou então, com base em expectativas racionais, defendem que os agentes econômicos, ao formarem suas expectativas sobre alguma variável econômica, acabam por tentar verificar como aquela variável se comporta no tempo. Admitindo que exista uma teoria econômica que explica o comportamento da variável, os agentes formam suas expectativas com base na própria teoria explicativa. Assim, seriam evitados erros sistemáticos.
Para lembrar um liberal convicto, Hayek, o mercado é um processo de troca e de acumulação de informações, não um ambiente estático dotado de forças que o reconduzem ao equilíbrio. As intervenções do Estado são nefastas, pois só o processo de mercado torna possível a inovação dos métodos de produção e de organização, a partir do continuado fluxo de informações que surge de interação entre os indivíduos livres.
Entretanto, como sempre afirmou o historiador Fernand Braudel; “o erro mais grave dos economistas é sustentar que o capitalismo é um sistema econômico. Não devemos nos enganar, o Estado e o Capital são companheiros inseparáveis, ontem como hoje.”
A partir da década de 70 com a inicialização das reformas liberais, mobilizou-se recursos financeiros e políticos dos Estados nacionais para fortalecer os respectivos sistemas empresariais envolvidos na concorrência global.
Nesse caminho, as corporações globais, com o apoio decisivo do Estado, passaram a adotar padrões de governança de altíssima agressividade e competição. Por exemplo, as empresas subordinaram seu desempenho econômico à “criação de valor” na esfera financeira, repercutindo a ampliação dos poderes dos acionistas.
A economia deve ser analisada e compreendida no seu processo de produção e distribuição, sempre levando em conta a história, as relações sociais e de classe, o Estado e a política, não há exatidão, portanto, ao discutir a importância de uma empresa com a Vale é primordial levar em conta essas considerações e conceitos. O que se deve discutir não é a formação de lucros, mas sim, a formação e geração de riquezas! E, por isso, o Estado deve interferir no processo econômico.
Para se concretizar a formação sólida de um capitalismo brasileiro, é necessário o fortalecimento das grandes multinacionais brasileiras, como extensão do poder nacional, nos seus aspectos de política industrial, diplomática e econômica.
A Presidenta Dilma agiu bem! No entanto, ainda precisa consolidar a coesão política com o econômico, é mais do que importante aprimorar a ligação entre a estrutura política e a eficácia do sistema, a consciência da mudança e a vontade de levar à frente um programa de desenvolvimento tecnológico industrial, pois às vezes essas variáveis escapam ao controle e à atuação, pois como dizia Maquiavel, “a fortuna comanda a metade de nossas ações, mas nos deixa governar, ou quase, a outra metade.”

segunda-feira, 11 de abril de 2011

O frei que incendiou Florença

RENASCENÇA-A cidade de Florença em seu auge, no século XV: apogeu da cultura mas também da luxúria


Não foram tranquilos os dias que transformaram a cidade italiana de Florença em berço do Renascimento. O local que acolheu as artes de Michelangelo e Leonardo Da Vinci e a literatura de Maquiavel também enforcou e queimou um frei dominicano que ousou questionar com intenções reformistas a ética religiosa e política da época – e isso uma geração antes de Martinho Lutero e João Calvino. Seu nome era Girolamo Savonarola (1452-1498), sacerdote que viveu o auge e o declínio de sua carreira por breve período na efervescente cidade banhada pelo rio Arno. A trajetória de Savonarola está contado no livro “Fogo na Cidade” (Record), do historiador americano Lauro Martines, especialista no quattrocento italiano. Segundo o autor, tudo o que Savonarola pretendia era resgatar o sentido da fé católica e, para tanto, fez do púlpito sua arma contra o que julgava ser pecaminoso, atirando a religião na cara dos supostos católicos. Pagou caro por isso.

Savonarola usava suas pregações para satanizar desde a corrupção dos governantes até a venda de perdões que envolvia, em última instância, o Vaticano. Natural do principado de Ferrara, onde estudara teologia, ele chegou a Florença em 1490, momento de mudança e posterior crise da família Médici, que governava a cidade desde o início do século XV. O líder da Casa, Lorenzo di Médici, o Magnífico, estava no fim de sua vida e não teve forças ou coragem para enfrentar as duras críticas feitas por Savonarola ao seu estilo extravagante de viver. Temia o confronto pelo destino de sua alma e ao final, em seu leito de morte, pediu ao frei que encomendasse o seu corpo.

A ascensão de Savonarola se dá justamente nesse momento de queda dos Médici e o livro pode ser lido também como um retrato dessas transformações. Foi após a morte de Lorenzo e o esvaziamento da política que resultou na invasão da Itália pela França que ele levou em frente suas intenções reformistas. Logo implementou um novo regimento no convento de San Marco, do qual ele era prior, que obrigava os outros frades a viver sem propriedades, luxos ou ostentação. Com o aceno positivo do Vaticano, conseguiu estender a novidade a Fiesole e Pisa, formando a Congregação Toscana. A derrocada de Piero, herdeiro direto dos Médici, levou a um clamor por mudanças éticas na condução dos destinos de Florença, outra frente de ataque de Savonarola. Estavam todos gratos e as missas ficavam cada dia mais lotadas por novos fiéis adoradores do frei. Ele sentiu, então, que a ruptura da rede de privilégios sociais seguia frágil e passou a instigar o povo a pedir que o Grande Conselho criado após a queda dos Médici fosse mais inclusivo. O sacerdote bradava em seus sermões de maneira proposital, para constranger as antigas famílias influentes. Pedia pelo perdão aos Médici, ao mesmo tempo que aconselhava: eram necessários homens recatados para servir ao bem comum que não permitissem o retorno da tirania.

Tais palavras ecoaram da pior maneira possível entre os tradicionais abastados de Florença. À medida que o frei aumentava o nível de interferência política em seus sermões, mais irritados ficavam alguns líderes do conselho. Não foi necessário muito tempo até que queixas chegassem ao papa Alexandre VI. De Roma, primeiro veio uma carta educada convidando o frei a visitar o papa e explicar trechos de seus sermões, nos quais dizia que falava diretamente com Deus. Savonarola não aceitou e a crise caminhou para a dissolução da Congregação Toscana, que ele tanto lutou para construir.

Mas o frei, tachado de demagogo e puritano, não se acovardou e seguiu pregando, mesmo sob escolta. Em 1497 foi excomungado em mais uma tentativa vã de silenciá-lo. Não recuou. Seus opositores perceberam, então, que só a morte o calaria para sempre. No ano seguinte e já vivendo sob constante cuidado contra atentados – até de bomba – o cerco se fechou. Savonarola foi sitiado e preso junto com alguns seguidores. O destino foi a forca e depois a fogueira. Assim foi feito para que não ficasse um único vestígio daquele que ousou desafiar o poder constituído.
 
Fonte:IstoÉ

sexta-feira, 1 de abril de 2011

E o mundo moderno para Durkheim?

A humanidade, para esse autor, está em constante evolução, o que seria caracterizado pelo aumento dos papéis sociais ou funções. Por exemplo, para Durkheim, existem sociedades que organizam-se sob a forma de um tipo de solidariedade denominada mecânica e outras sociedades organizam-se sob a forma de solidariedade orgânica.
As sociedades organizadas sob a forma de solidariedade mecânica seriam aquelas nas quais existiriam poucos papéis sociais. Segundo Durkheim, nessas sociedades, os membros viveriam de maneira semelhante e, geralmente, ligados por crenças e sentimentos comuns, o que ele chama de consciência coletiva. Neste tipo de sociedade existiria pouco espaço para individualidades, pois qualquer tentativa de atitude “individualista” seria percebida e corrigida pelos demais membros. A organização de algumas aldeias indígenas poderiam servir de exemplo de como se dá a solidariedade mecânica: grupos de pessoas vivendo e trabalhando semelhantemente, ligados por suas crenças e valores. Nesses grupos, se alguém começasse a agir por conta própria, seria fácil perceber quem estaria “tumultuando” o modo de vida local. Outro exemplo que pode caracterizar a solidariedade mecânica são os mutirões para colheita em regiões agrárias ou para reconstruir casas devastadas por vendavais e, ainda, são exemplos também as campanhas para coletar alimentos. Diferentemente das sociedades organizadas em solidariedade mecânica, nas sociedades de solidariedade orgânica – típicas do mundo moderno - existem muitos papéis sociais. Pense na quantidade de tarefas que pode haver nas áreas urbanas, nas cidades: são muitas as funções e atividades. Durkheim acreditava que mesmo com uma grande divisão e variedade de atividades, todas elas deveriam cooperar entre si. Por isso, deu o nome de orgânica (como se fosse um organismo). Mas, nessas sociedades, diante da existência de inúmeros papéis sociais, diminui o grau de controle da sociedade sobre cada pessoa. A individualidade, sob menor controle, passa a ser uma porta para que a pessoa pretenda aumentar, ainda mais, o seu raio de ação ou de posições dentro da sociedade. Uma das maiores expressões da anomia no mundo moderno, segundo Durkheim, seria esta: o egoísmo das pessoas. E a causa desta atitude seria a fragilidade das normas e controles sobre a individualidade, normas e controles que nas sociedades de solidariedade mecânica funcionam com maior eficácia Qual seria, então, a solução para o mundo moderno, segundoDurkheim?

As teorias sociológicas na compreensão do presente
Sociologia
Já que ele compara a sociedade com um corpo, deve haver algo nela que não está cumprindo sua função e gerando a patologia (a anomia, a doença). O corpo precisa de diagnóstico e remédio. Segundo ele, a Sociologia teria esse papel, ou seja, o de encontrar as “partes” da sociedade que estão produzindo fatos sociais patológicos e apontar para a solução do problema. Durkheim chegou a fazer, para as escolas francesas, propostas de valores tais como ‘o respeito da razão, da ciência, das idéias e sentimentos em que se baseia a moral democrática’, visando contribuir à restauração da ordem social naquela sociedade.