terça-feira, 20 de novembro de 2012

Jesus cristo e Maquiavel


Nicolau Maquiavel e Jesus Cristo são personagens diferentes de séculos diferentes. Maquiavel do século 16. Jesus rachou a história e atravessa milênios. Maquiavel escreveu “O Príncipe” em torno de 1513. Jesus nada escreveu. Ambos são célebres em matéria de ética, mas com filosofias frontalmente opostas. Maquiavel coloca seu livro a serviço do poder abusivo dos Príncipes. Jesus insurge-se contra os tiranos e os poderosos. Mas o impressionante é que ambos são atualíssimos quando nosso assunto é política.
Maquiavel ensina como conquistar e manter o poder. Para ele, todos os meios são legítimos. Ele dita normas com astúcia. Com linguagem direta e sedutora, aponta truques políticos e métodos inescrupulosos que permitem anular adversários e subjugar o povo. E aconselha suprimir a liberdade dos cidadãos, para não perder o poder.
Jesus, o chamado Cristo, tratava seus interlocutores como pessoas inteligentes e livres, como espécie racional situada acima da escala das coisas. Por isso, espantava-se quando o ser humano capitulava e abdicava de sua dignidade e liberdade. Ele não se conformava ao ver que as pessoas entregavam o potencial de suas vidas e de seus direitos aos que exercem o poder.
Maquiavel ensina como dominar o povo, enganando-o. E como imobilizá-lo, destruindo-lhe a liberdade. Jesus incitava a mobilização voluntária contra a dominação e uma de suas muitas contribuições foi mostrar que a pessoa humana enterra sua dignidade e liberdade para consolidar desastres.
Em Jesus, o poder só tinha sentido se fosse dado por Deus. Por sua importância, foi um homem livre, indeterminado, simples e incorruptível. Como peregrino tornou-se cidadão errante e transitivo. Não permaneceu atado a um ponto fixo. Não se prendeu em essências e fez amizade com cobradores, publicanos, prostitutas e mendigos, coisa que Maquiavel não aconselharia ao seu Príncipe.
Liberdade para Jesus Cristo não se referia apenas ao deslocamento espacial e geográfico. Era mais que isso, era um sair de si que implica sair de um estilo de vida. É refutar situações históricas e superar condições sociais. É mudar de mentalidade. É passar da ingenuidade à criticidade, do conformismo à participação.
Para Maquiavel, liberdade é um ato perigoso. Ele diz que o Príncipe deve emergir sobre a servidão que humilha e usar o poder que dobra. Ensinando o primeiro passo na série de vários passos, que devem dar numa caminhada incessantemente violenta e paranoica.
Segundo Maquiavel, a liberdade do povo deve ser controlada de acordo com as conveniências do Príncipe. Para Jesus, ela é adquirida pelo conhecimento de si que está camuflado. Uma vez descoberta, mostra o que existe e o que não existe. Desvela o que está velado, desmudece o que está calado, descativa o que está preso. No sistema de Maquiavel é frequente limitar e aniquilar, ao passo que, em Jesus, a liberdade é um projeto infinito. Mas, como os surdos reconhecem que os cegos estão errados em julgar as cores, mantendo-se firmes na opinião de que cabe apenas aos surdos julgar a música, nossos políticos ainda aplicam Maquiavel se dizendo cristãos.
Padre Durval Baranowske
autor de “O QUE DIZEM OS SANTOS”


quarta-feira, 14 de novembro de 2012

deusa Fortuna da mitologia romana

Na mitologia romana, Fortuna era a deusa da sorte. Geralmente, era representada com a visão tapada, como a Justiça, porque ela manifestava seus propósitos aleatoriamente. Para o italiano Nicolau Maquiavel, o pensador florentino que fundou a ciência política moderna, no século XVI, a Fortuna era um dos requisitos para o príncipe conservar o poder. O príncipe deveria ter “virtù” – conceito que resume as qualidades necessárias para exercer o poder –, mas também contar com a “fortuna”, entendida como as circunstâncias que não podem ser determinadas e controladas. O sul-africano William Kentridge, de 57 anos, um dos mais importantes artistas contemporâneos, elegeu a Fortuna como um dos princípios de sua obra. Ele não a define como um mero lance fortuito da sorte. Para Kentridge, a obra de arte é resultado de “algo diferente do frio acaso estatístico, mas também de algo fora do controle racional”. Segundo ele, as imagens estão permanentemente em construção e são produtos de um jogo em que, ao mesmo tempo, não há nem um plano nem o acaso – e isso constitui a tal Fortuna.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Aluno de sociologia diz que filósofos tornaram Enem 'complicado'


O estudante universitário Fernando Morgato, de 24 anos, que realizou o Enem neste sábado (3), avalia que os textos de autores clássicos como Nicolau Maquiavel e do filósofo Charles Montesquieu deixaram a prova "complicada" para alunos do Ensino Médio que tiverm pouco contato com esse tipo de texto. Por estudar sociologia na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP), Morgato avalia que foi bem nessa parte da prova.
"São autores com os quais eu tive contato neste ano, tenho quase certeza que a galera mais jovem, que faz o exame pela primeira vez, não teve", afirmou. Os textos clássicos foram usados em perguntas interpretativas. Para Morgato, contudo, o esse tipo de texto é pouco usado no Ensino Médio, especialmente nas escolas públicas.
"Citaram trechos do livro do Norbert Elias, O Processo Civilizador, citaram Maquiavel, o terceiro capítulo de O Príncipe em que ele fala sobre conjuntura, Montesquieu, Habermas sobre a história da sociologia".
Se por um lado ele diz ter tido um bom desempenho, prevê que vai "bater canela" na prova deste domingo, que tem questões de matemática. "Meu forte é a área de humanas", diz
A opinião de Morgato contrasta com a do técnico em informática Roberto Carlos, de 36 anos. Para ele, apesar de serem textos clássicos, pouco conhecidos de muitos alunos, a interpretação das questões em si não foi difícil. "A prova como um todo foi um pouco mais difícil que a do ano passado, que estava muito fácil. Mas acho que o problema hoje não foram os textos", disse.
Início
A correria para entrar na Uninove começou por volta das 12h50. Alunos vinham de todas as direções preocupados com o horário. Muitos corriam na Estação Barra Funda, que fica ao lado, onde pessoas gritavam quantos minutos faltavam para as 13h. Exatamente neste horário, um estudante se jogou no chão para conseguir passar por debaixo do portão, que já era fechado.

A estudante Kathiane Oliveira, de 17 anos, contava que uma amiga próxima perdeu a prova no ano passado por 15 minutos. Por isso, Kathiane resolveu não dar brecha para o azar e chegou quase duas horas antes, às 11h20. “Dá pena. A pessoa estuda o ano inteiro e perde a prova. Não queria isso para mim”, disse a jovem, que veio acompanhada da mãe. Kathiane faz a prova para ajudar a compor sua nota no processo seletivo para o curso de medicina.
A massoterapeuta Fátima Maria Barreto, de 58 anos, era a primeira na fila. Ela é deficiente visual e chegou cedo para entregar um laudo médico sobre seu estado de saúde. Fátima fará a prova auxiliada por duas pessoas, uma para ler e outra para escrever o que ela ditar. Haverá ainda um fiscal acompanhando. “Quero fazer jornalismo e ser repórter. Se tiver que ir para coletiva de imprensa brigar por espaço entre os jornalistas eu vou”, afirmou a massoterapeuta, que é deficiente visual há dez anos. Ela perdeu a visão após ser atropelada em um cruzamento na Lapa, Zona Oeste da cidade.
Primeira da fila para entrar em local de prova, a deficiente visual Fátima Barreto (Foto: Márcio Pinho/G1)
Primeira da fila para entrar em local de prova, a
deficiente visual Fátima Barreto
(Foto: Márcio Pinho/G1)
Entre os inscritos para o Enem, vendedores tentavam lucrar com a prova. Canetas eram vendidas por R$ 2 e garrafas de água por R$ 2,50. A realização da prova também provoca sujeira, já que encartes com propagandas de cursinhos estão espalhados pelas calçadas.
Exame
A prova deste sábado tem 45 questões de múltipla escolha sobre ciências humanas e outras 45 sobre ciências da natureza. No domingo (4) acontece a segunda prova, com 45 questões de linguagens e códigos, que engloba português e inglês ou espanhol, e mais 45 questões de matemática. No segundo dia de provas, os candidatos terão ainda de fazer uma redação.

Ao todo, o Enem deste ano teve 5.791.287 inscritos. No Estado de São Paulo são mais de 932 mil. O custo total do governo para a aplicação das provas será de R$ 266.399.202,00.

Fonte: G1

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Maquiavel: a gênese do pensamento político moderno


Em tempos de crescente desilusão com as instituições políticas e demandas por mais transparência, ética e moralidade na política e, por conseguinte, no poder, revisitemos Maquiavel, ainda que num certo nível de generalidades, para tentar interpretar e compreender os desafios de nossa época.
É difícil não reconhecer a crescente desilusão com as instituições políticas, as inconsistências e alianças partidárias exóticas, os desvios na trajetória representativa, entre outros aspectos, vistos como uma afronta à modernidade e ao ideal liberal. A propósito, na obra O moderno príncipe: Maquiavel revisitado, seu autor, o diplomata e cientista político Paulo Roberto de Almeida, assinala que "(...) A demagogia, já sabemos, é o mais recorrente meio utilizado por aqueles que, carentes de outras virtudes administrativas e pessoais, desejam ascender ao principado". De certo modo, esse cenário nos é peculiar.

Nicolau Maquiavel, precursor da ciência política, encarou a sociedade como resultado de fatores observáveis e analisáveis. Desde o século XVI, a intuição de homens como Maquiavel traz à luz aspectos consagrados e atuais para a compreensão das bases em que se assenta o poder político
Quase cinco séculos depois de redigido, O príncipe (1513), livro escrito pelo filósofo italiano Nicolau Maquiavel (Niccolò Machiavelli), continua a instigar a reflexão crítica sobre "a política como forma de poder e o poder como resultante da atuação política". Segundo um dos intérpretes de Maquiavel, Claude Lefort, "a imprescindível obra literária de Niccolò di Bernardo Machiavelli, ou simplesmente Nicolau Maquiavel, o pensador de Florença, não se dirige apenas aos homens de seu tempo, está mais viva do que nunca e continua a interpelar a posteridade" (LEFORT, 1980, p. 11).
O PODER EM PAUTA 
O poder é um tema clássico em ciência política desde os antigos filósofos gregos até os clássicos modernos (Maquiavel, Hobbes, Kant, Rosseau, Hegel, Marx) e chega aos contemporâneos (Foucault). Na tradição liberal ou marxista, o tema ocupou estudiosos em todos os tempos. Remontando as principais teorias desde Maquiavel, algumas das principais reflexões sobre esse instigante tema têm suscitado uma extensa discussão filosófica e científica. Na obra Potência, limites e seduções do poder, editada pela Unesp, seu autor Marco Antonio Nogueira assinala "(...) O poder está em toda parte. Tem muitas faces, múltiplas dimensões e inúmeras falas. Exibe-se e oculta-se com igual dedicação. Ama a exposição e não vive sem o segredo. Podemos odiá-lo, cobiçá-lo, combatê-lo ou apenas temê-lo. Justamente por isso, não temos o direito de ignorá-lo e de não tentarmos compreendê-lo. Se assim procedermos, acabaremos por não saber bem o que fazer com o poder que temos e com todos os pequenos e grandes poderes com que interagimos" (NOGUEIRA, M. A. Potência, limites e seduções do poder. São Paulo: Editora da Unesp).

Originalmente, a civilização grega procurou interpretar os fenômenos segundo um processo de racionalização, posição esta que a distinguiu de outras civilizações. O estudo das idéias políticas começa naturalmente, com os gregos antigos, pois foram eles, em sentido real, os primeiros a ter idéias políticas. Entre as contribuições do legado grego para as Ciências Sociais, claramente, situam-se Platão, falando da vida social e política na obra Republica e leis, e Aristóteles abordando uma filosofia de cunho social na obra A política.
Segundo Aristóteles, o homem é um ser eminentemente político e social. Está aí afirmada, de modo radical, a sociabilidade natural do homem no mundo antigo. Mas é com Maquiavel, o primeiro grande pensador moderno, que se inaugura a ciência política. Na contemporaneidade, presente em todas as esferas da vida social e política, o poder enquanto categoria analítica, cientificamente, em Sociologia, Antropologia Política e Ciência Política, nos remete a autores e obras que já se tornaram antológicas. Em comum, elas apresentam a inquietação filosófica e política.
Nos séculos XVI e XVII, Nicolau Maquiavel (Niccolò di Bernardo Machiavelli), um dos precursores renascentistas da Sociologia, escreveu O príncipe. Foi o primeiro grande pensador moderno e precursor da ciência política. Seguramente no pensamento político clássico de Maquiavel, que é a gênese do pensamento político moderno, a noção de poder aparece quando ele introduz o enfoque do Estado em sua noção corporificada na figura do Príncipe, que é algo histórico, porque Maquiavel está presenciando o nascimento do Estado no século XV. Para Maquiavel (1469-1527), o Estado está surgindo como uma organização de dominação e como expressão máxima da violência. O Estado é a única organização cuja ação mobiliza todos, visto que dispõe de todos os meios e bens materiais de gestão e coação. O Estado é um meio de cooptação e coerção que age sobre a sociedade e os indivíduos. A figura do Príncipe é uma forma de corporificação da paz, para que esse conflito seja amenizado, daí a necessidade de instrumentalizar-se o Príncipe. O Príncipe deve governar pela força e pela virtù, que se compõe de várias qualidades pessoais. A virtù que nos propõe Maquiavel é no sentido da capacidade e da qualidade para a realização da história, enquanto força criadora, racionalidade, ação calculada capaz de fazer o homem ser sujeito de sua história. A perspectiva de Maquiavel aponta nesse sentido que a política não comporta voluntarismos, posto que a ação do homem em Maquiavel é marcada pelo cálculo e pelas circunstâncias que permitem a ação política. Fortuna e virtú são meios e fins da ação política, nos aponta Maquiavel, sendo a virtù a capacidade, qualidade de força social, de realização de uma razão calculada, e a fortuna, a ocasião concreta para a realização da ação política do homem dotado de virtù. É a circunstância que permite a eficácia da iniciativa política.
No ensaio "A primeira figura da filosofia da práxis. Uma interpretação de Antonio Gramsci", seu autor Claude Lefort assinala: "A obra de Maquiavel não se dirige, portanto, somente aos homens do século XVI: continua a interpelar a posteridade" (LEFORT, 1980, p. 11)
O fato é que a visão política de Maquiavel em tal perspectiva é fundamental quando se discute a problemática do poder porque se percebe através dela a própria divisão de classes, a partir da noção dos poucos e dos grandes, dos amigos e inimigos. O centro maior de seu interesse é o poder formalizado na instituição do Estado, e a noção de sociedade é trabalhada por Maquiavel no sentido de uma capacidade de o homem influir ou participar do Estado.
AMAR OU TEMER 
O Príncipe é colocado no plano das paixões entre o ser amado e temido. O desejo de poder é algo que se coloca muitas vezes de modo insaciável, requer certa precauções, como o temor ao desprezo e ao ódio. Por outro lado, Maquiavel, ao colocar a exploração no plano político onde os grandes têm o desejo de dominar e governar, nos remete a uma relação de antagonismo e de complementaridade. Uma boa sociedade em tal perspectiva seria aquela que procura se consolidar e onde o "poder" do Príncipe é algo que emana da própria sociedade.
ARQUIVO PESSOAL
Estátua de Maquiavel, na entrada da Galeria Uffizi, em Florença, Itália
Maquiavel comporta várias interpretações. Quando coloca a questão da desigualdade histórica discursa como verdadeiro ideólogo das classes emergentes, chamando os homens que sofrem o processo histórico e colocando a virtùenquanto capacidade e força social para esta realização. Maquiavel nos mostra ainda que o Príncipe não deve camuflar a luta de classes. Afinal, Maquiavel descreve um momento histórico em que a luta de classes acontecia às claras, para justificar o poder do Príncipe através das habilidades, da prudência, das alianças e do segredo, de sua política imediata não se tornar pública.
Parece ser verdadeira a reciprocidade entre o pensamento científico e as configurações sociais e políticas da vida, princípio especialmente referendado pela correspondência entre o pensamento de Maquiavel e as condições de existência social e política atuais. A política em Maquiavel é redefinida como correlação de forças. O homem faz história. Para fazer história, os homens têm de se organizar. Para Maquiavel, fazer história é fazer de modo organizado. Não posso fazer história de modo aleatório, mas sim com os recursos de que disponho, utilizados de forma racional. "Eu não faço a história dos meus sonhos. Eu faço a história possível." Maquiavel faz a apologia da razão do Estado e exalta a força ou vontade de poder (virtù) como primeiro princípio e razão última no governo dos povos. A virtù será o meio, a disposição para atingir os fins e para o agir. A fortuna será os fins. A virtù é o meio no qual a ação poderá funcionar com êxito.
No tempo de Maquiavel, as desigualdades não eram naturais e sim históricas. As desigualdades vão ser um campo político que vai exigir um esforço, através do jogo de forças. Na obra, chama-nos a fazer história num momento em que a história tinha por interesse a unificação da Itália. Neste momento, fazer história, fazer política seria como que uma mercadoria capaz de circular no nível econômico. Maquiavel não representa no seu discurso o interesse burguês. Assumir isto é um jogo perigoso. O discurso de Maquiavel serve aos interesses de qualquer classe social emergente. Segundo Kant, até Marx, quando clamou "Operários de todo o mundo, uni-vos", fez o mesmo discurso de Maquiavel, num outro momento da história, servindo ao proletariado emergente e organizado. Para Maquiavel, quem quer fazer história e participar da história deve se organizar e ter a virtù, senão vai ficar de fora da história. Isso, em Maquiavel, se faz presente até na obra do sociólogo americano Wright Mills, em seu livro A imaginação sociológica, quando diz que "os indivíduos não devem ser objetos da história, mas sim agentes capazes de fazer a história". Propõe Maquiavel em seu discurso para o estadista uma virtù que se distancia da fantasia e do sonho. Política não se faz só com boas intenções, mas também com a força da inteligência.
Na sua modernização da necessidade, Maquiavel de certo modo condena os passivos e os que agitam sem se situarem no contexto. Nós não fazemos história quando cruzamos os braços, nem quando caminhamos sem um plano, sem um rumo. É necessário perceber o caminhar, conhecer o terreno em que se pisa, para evitar erros. Pressupõe Maquiavel, no dramático do poder e na correlação de forças, que somos marcados por interesses diversos. Ter vontade é ter interesses. A vontade seria o sentido eficaz. Nesse sentido, quem quer fazer política num campo minado por interesses tão divergentes vai ter de operar. E os que querem a unificação terão de usar a força. É a partir daí que vem a política enquanto correlação de forças.
Maquiavel está querendo assessorar não sobre os sonhos, não sobre o passado, mas sim para tornar o cálculo o mais exato possível. Isto é uma modernização da moralidade em Maquiavel. Para ele que eu pense o que quiser subjetivamente, mas que objetivamente calcule a minha ação num sentido eficaz. Como exemplo podemos citar : Que o infrator tenha medo da lei, mas que se exija o cumprimento da lei. Ele nos propõe fazermos política com força, mas articulada com a razão. Força no sentido de fazer a própria história. É um apelo à razão, visto que toda política visa implantar uma nova ordem, e os que têm mais força conseguem implantar essa ordem.
A literatura de Maquiavel nos remete a pensar na arte de governar. Possibilita a análise das bases do poder político. Redefine as virtudes. Apresenta o conceito de virtù enquanto força criadora, racionalidade, ação calculada e qualidade do homem de ação que o capacita a realizar sua história. Finalmente, sem querer abreviar, é difícil não reconhecer que, discutindo a natureza do homem, da sociedade e do poder, Maquiavel introduz a história no pensamento político, revolucionando a ciência e colocando a história como um paradigma.
REFERÊNCIAS 
ALMEIDA, P. R. de. O moderno Príncipe: Maquiavel revisitado. Brasília: Edições do Senado Federal, 2010, v. 147. 
FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979.
LEBRUN, G. O que é poder? São Paulo: Brasiliense-Abril Cultural, 1984 (Primeiros Passos, 24). 
LEFORT, C. A primeira figura da filosofia da práxis. Uma interpretação de Antonio Gramsci. In: QUIRINO, C. G.; SOUZA, M. T. S. R. de (orgs.). O pensamento político clássico: Maquiavel, Hobbes, Locke, Montesquieu, Rousseau. São Paulo: T. A. Queiroz, 1980.
MACHIAVELLI, Niccolò (1469-1527). O príncipe, escritos políticos. Tradução Lívio Xavier. 2a. ed. São Paulo: Abril Cultural,1979 ( Os Pensadores). 
MAQUIAVEL, N. O príncipe. São Paulo: Editora Escala, (Grandes Obras do Pensamento Universal, 12).
NOGUEIRA, M. A. Potência, limites e seduções do poder. São Paulo: Editora da Unesp, .

*Sérgio Sanandaj Mattos é sociólogo, professor e ex-diretor da Associação dos Sociólogos do Estado de São Paulo (ASESP). É coautor do livro Sociólogos & Sociologia. Histórias das suas entidades no Brasil e no mundo E-mail: ss.mattos@uol.com.br



segunda-feira, 2 de julho de 2012

Claudenir Melo oficializa candidatura à reeleição ao lado de Dr. Wellington Roque


A convenção do PR, presidida pelo atual prefeito de Arcos, e outros 14 partidos aliados foi ontem, 24
O lançamento oficial da candidatura do prefeito Claudenir José de Melo (PR) à reeleição foi na tarde de ontem, 24, na Casa de Cultura. Ele tem como aliados os partidos PMN, presidido por Orlando Martins; PSC, que tem Magda Fontes como presidente; PSL, Andréia Barbone; PTC, Pedro de Barros Filho; PTN, Luciano Carrilho de Castro; PRTB, João Carlos Ferreira da Silva; PHS, Joana D’arc Bittencourt; PPL, Wilmar Arantes Júnior; PRP, Odenício Rodrigues; PSB, Sebastião Bittenourt; PSOL, Antônio Bittencout; PT, Hideraldo José Raquel; PPS, Wellington Roque; e PRB, João Paulo Roque.
Até o início do final de semana, eleitores ainda especulavam sobre quem seria o candidato a vice-prefeito. O escolhido foi o médico Wellington Roque (PPS), que anteriormente tinha lançado pré-candidatura como prefeito. A convenção chegou a ser marcada, para o dia 30 de junho.
Em seu discurso durante a convenção, Claudenir Melo falou sobre a motivação para tentar a reeleição: “[...] Eu não tinha sobrenome para ser prefeito de Arcos, e fui eleito [...]. Agora eu quero é mais. Quero fazer muito mais pelo povo de Arcos, com a ajuda do Dr. Wellington”. Em seguida, citou seus principais projetos: a transferência da ETE (Estação de Tratamento de Esgotos) para uma distância de 3,5 Km abaixo do local onde está atualmente, devido ao mau cheiro; a construção da trincheira da rua São Geraldo, que segundo ele já está com o projeto aprovado; e intervenção na BR 354, cujo projeto é colocar viadutos em vias de conflito, a exemplo da avenida Magalhães Pinto, trincheira e ‘Pulo do Gato’. 
O candidato a vice-prefeito, Wellington Roque, citou Nicolau Maquiavel (fundador da ciência política – 1469/1527) em seu discurso, referenciado o livro O Príncipe. “Para ser um príncipe gestor, não é só ter virtudes, sobretudo, prestar atenção nas circunstâncias. As peças foram mexidas, as situações foram modificadas e Deus me trouxe até aqui”. Sobre uma de suas prioridades, no trabalho como vice-prefeito, ele citou a área de saúde. “Penso que podemos fazer muito mais pela urgência e emergência em Arcos”. 
Quanto ao número de candidatos a vereadores da coligação, o CCO ainda não teve acesso. 

Convidados especiais 
A convenção contou com as presenças do deputado estadual Antônio Carlos Arantes (PSC), que é Cidadão Honorário de Arcos; deputado federal Jaiminho Martins (PR); o representante do deputado estadual Anselmo Domingos (PTC), John Hércules; e representante do deputado federal Reginaldo Lopes (PT), Geraldo Magela (Pefinho).

Perfil do candidato 
Claudenir José de Melo é professor, com graduação em Química. Antes de ingressar na carreira política, trabalhou em laboratórios de empresas e também lecionou em escolas públicas e particulares de Arcos. Foi vereador por duas gestões; e entre 1997 e 2000, segunda gestão da prefeita Hilda Borges de Andrade, foi secretário municipal de Desenvolvimento e Integração Social. Em 2004, candidatou-se a prefeito pela primeira vez, mas foi derrotado pelo empresário Plácido Vaz (gestão 2005 a 2008). Já em 2008, candidatou-se novamente, concorrendo com Denílson Teixeira, que tinha como vice Dr. Wellington Roque; Baltazar Pimentel e José Agenor. Venceu as eleições para cumprir o mandato 2009/2012.

Fonte:Jornalcco

quarta-feira, 13 de junho de 2012

BC deve buscar equilíbrio entre a parcimônia e a generosidade

Ao se abrir a janela para dar uma olhada no que está acontecendo mundo afora, vê-se o seguinte cenário:
A China acaba de cortar os juros, pela primeira vez desde 2008. A justificativa deles é a mesma de qualquer governo: se a economia esfria, corta-se os juros para baratear o custo do dinheiro.
O Presidente do Banco Central dos Estados Unidos (Fed) acaba de dizer que a economia americana fica como está, ou seja, “em recuperação moderada”. Traduzindo: andando de lado.
A Espanha leva mais uma bordoada com o rebaixamento da sua avaliação de risco feita pela agência Fitch. O anúncio veio com maus presságios, já que a Fitch adicionou a temida “perspectiva negativa” ao rebaixamento, avisando que a nota do país pode cair ainda mais.
Aqui no Brasil a coisa não está tão feia assim, mas a percepção de que a crise atual pode nos atingir com mais força ganha mais adeptos.
O mais novo nessa lista é o Banco Central. Na ata da reunião do Copom, com as justificativas da redução para 8,5% no encontro da semana passada, não há mais a frase que indicava a intensidade da crise em comparação com o abalo de 2008.
Até a ata anterior, o BC dizia que a crise financeira atual teria um impacto de até 25% do que aconteceu há quatro anos. Para lembrar, a quebradeira dos bancos americanos nos custou um tombo na economia e uma forte alta da inflação.
Para tentar manter a condução da expectativas sob (algum) controle, o BC avisou que vai seguir baixando os juros “com parcimônia”. O recado serve para acalmar os ânimos de quem começou a acreditar que os cortes poderiam ser mais fortes daqui para frente. Essa expectativa ganhou força por causa do resultado frustrante do PIB brasileiro nos primeiros meses do ano.
Pelas análises feitas por bancos e consultorias, já se espera uma redução de 0,5 ponto percentual na próxima reunião do Copom, com a Selic chegando a inéditos 8% ao ano. Se o BC vai levar os juros para perto de 7%, vai depender de como a inflação vai reagir a todo esse cenário. Qualquer decisão, a partir de agora, será feita levando em conta a inflação de 2013, já que a política monetária tem uma defasagem de até nove meses para causar efeitos reais na economia. Por enquanto, as projeções indicam um IPCA de 5,6% em 2013, portanto acima da meta de 4,5%.
O italiano Nicolau Maquiavel, em seu famoso tratado de governança “O Príncipe”, destacava a relação entre a generosidade e a parcimônia para manter-se o poder absoluto. O pensador, considerado ácido e calculista, dizia que para ser generoso, o príncipe deve ser parcimonioso para ganhar a confiança de “seu povo”. Guardadas as devidas proporções, o equilíbrio entre essas duas “forças” é mais do que válido para os dias de hoje.

Fonte: G1

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Respeito é mais valioso que o pão

Uma vida sem religião é como um barco sem leme - dizia Mahatma Gandhi e, já mais próximo de nós, culturalmente, Napoleão Bonaparte afirmava que “uma sociedade sem religião é como um navio sem bússola”.


Não somos tão fundamentalistas ao ponto de defender que a verdadeira religião é a base do estado, como o fazia Platão, mas o insuspeito Nicolau Maquiavel assegurava que a perda de toda devoção e religião atrai um sem-número de inconvenientes e desordens.
Estes considerandos dos nossos antepassados testemunham a importância que deve ser dada ao fenômeno religioso, como algo intrinsecamente humano.
Este elemento da humanidade - importante para os que acreditam e para os que negam a Fé — exige o devido espaço na comunicação a que tem direito, quanto mais não seja como alavanca de auto-estima dos portugueses.
Nessas perspectiva é bom saber que, em Belém do Pará, onde o rio Amazonas, o maior do mundo, se aproxima do Oceano Atlântico, há um santuário de Nossa Senhora de Fátima. 
Neste Sábado passado, juntaram-se 200 mil pessoas para rezar o terço numa procissão de velas, gerando imagens impressionantes, que escaparam à agenda mediática portuguesa. E não devia escapar. 
Igualmente do Brasil, chega a notícia a inauguração daquela que é apontada como sendo a maior estátua também de Nossa Senhora de Fátima no País, com 27 metros de altura. 

Está situada a 110 quilómetros de Fortaleza, terra de boa cachaça para caipirinha, na zona serrana do Ceará.

Por falar de caipirinha, só a tomada de doses industriais de aguardente pode explicar determinados textos publicados entre nós que constituem um inqualificável e tonto desrespeito pelas crenças dos outros.

“Respeita se queres ser respeitado”, diziam os nossos pais até porque ensinava Jean-Jacques Rousseau que sempre é mais valioso ter o respeito, que a admiração das pessoas”.

O respeito pelos outros é uma componente tão forte e intrínseca no relacionamento entre pessoas que Karl Marx sustentava que o trabalhador tem mais necessidade de respeito que de pão. 

Certas pessoas que não têm muito respeito pelos outros, nos textos ofensivos que escrevem, só o fazem porque têm pouco ou nenhum respeito até por si próprios.
Igualmente do Brasil, chega a notícia a inauguração daquela que é apontada como sendo a maior estátua também de Nossa Senhora de Fátima no País, com 27 metros de altura. 
Está situada a 110 quilómetros de Fortaleza, terra de boa cachaça para caipirinha, na zona serrana do Ceará.

Por falar de caipirinha, só a tomada de doses industriais de aguardente pode explicar determinados textos publicados entre nós que constituem um inqualificável e tonto desrespeito pelas crenças dos outros.

“Respeita se queres ser respeitado”, diziam os nossos pais até porque ensinava Jean-Jacques Rousseau que sempre é mais valioso ter o respeito, que a admiração das pessoas”.

O respeito pelos outros é uma componente tão forte e intrínseca no relacionamento entre pessoas que Karl Marx sustentava que o trabalhador tem mais necessidade de respeito que de pão. 

Certas pessoas que não têm muito respeito pelos outros, nos textos ofensivos que escrevem, só o fazem porque têm pouco ou nenhum respeito até por si próprios.
Está situada a 110 quilómetros de Fortaleza, terra de boa cachaça para caipirinha, na zona serrana do Ceará.
Por falar de caipirinha, só a tomada de doses industriais de aguardente pode explicar determinados textos publicados entre nós que constituem um inqualificável e tonto desrespeito pelas crenças dos outros.

“Respeita se queres ser respeitado”, diziam os nossos pais até porque ensinava Jean-Jacques Rousseau que sempre é mais valioso ter o respeito, que a admiração das pessoas”.

O respeito pelos outros é uma componente tão forte e intrínseca no relacionamento entre pessoas que Karl Marx sustentava que o trabalhador tem mais necessidade de respeito que de pão. 

Certas pessoas que não têm muito respeito pelos outros, nos textos ofensivos que escrevem, só o fazem porque têm pouco ou nenhum respeito até por si próprios.
Por falar de caipirinha, só a tomada de doses industriais de aguardente pode explicar determinados textos publicados entre nós que constituem um inqualificável e tonto desrespeito pelas crenças dos outros.
“Respeita se queres ser respeitado”, diziam os nossos pais até porque ensinava Jean-Jacques Rousseau que sempre é mais valioso ter o respeito, que a admiração das pessoas”.

O respeito pelos outros é uma componente tão forte e intrínseca no relacionamento entre pessoas que Karl Marx sustentava que o trabalhador tem mais necessidade de respeito que de pão. 

Certas pessoas que não têm muito respeito pelos outros, nos textos ofensivos que escrevem, só o fazem porque têm pouco ou nenhum respeito até por si próprios.
“Respeita se queres ser respeitado”, diziam os nossos pais até porque ensinava Jean-Jacques Rousseau que sempre é mais valioso ter o respeito, que a admiração das pessoas”.
O respeito pelos outros é uma componente tão forte e intrínseca no relacionamento entre pessoas que Karl Marx sustentava que o trabalhador tem mais necessidade de respeito que de pão. 

Certas pessoas que não têm muito respeito pelos outros, nos textos ofensivos que escrevem, só o fazem porque têm pouco ou nenhum respeito até por si próprios.
O respeito pelos outros é uma componente tão forte e intrínseca no relacionamento entre pessoas que Karl Marx sustentava que o trabalhador tem mais necessidade de respeito que de pão. 
Certas pessoas que não têm muito respeito pelos outros, nos textos ofensivos que escrevem, só o fazem porque têm pouco ou nenhum respeito até por si próprios.
Certas pessoas que não têm muito respeito pelos outros, nos textos ofensivos que escrevem, só o fazem porque têm pouco ou nenhum respeito até por si próprios.



Portugal não percebe o alcance e a força de uma marca como “Fátima” ao nível do turismo cultural e religioso. Logo, da economia.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

A Liderança segundo Maquiavel - prefácio


Todas as corporações privadas, tanto as de maior envergadura, como as multinacionais e as grandes empresas nacionais, passando por companhias de médio porte, até chegar às pequenas empresas, têm o mesmo desafio: recrutar pessoas no mercado, contratá-las e treiná-las para que possam liderar, de maneira adequada; da cúpula aos escalões menores.
Liderança é assunto de suma importância nas organizações, sejam elas públicas ou privadas. Desde o mais alto escalão, como a chefia de uma Nação, por exemplo, passando por ministérios e autarquias, governos estaduais e municipais, segundos e terceiros escalões, todos vivem um dilema crucial: identificar, nomear ou eleger quem que possa liderar as pessoas, nos diversos níveis, de maneira adequada, rumo ao objetivo maior da empresa.
Todas as corporações privadas, tanto as de maior envergadura, como as multinacionais e as grandes empresas nacionais, passando por companhias de médio porte, até chegar às pequenas empresas, têm o mesmo desafio: recrutar pessoas no mercado, contratá-las e treiná-las para que possam liderar, de maneira adequada; da cúpula aos escalões menores.
A principal proposta do presente trabalho, é fazer uma reflexão sobre as ações dos "príncipes", ou seja, dos líderes que possam comandar as organizações. Pretendo, aqui, identificar as melhores atitudes, práticas e competências para torná-los aptos e eficazes no cumprimento de seu dever de gestor organizacional.
Desenvolvido com base na teoria da liderança de Nicolau Maquiavel, tratada em seus vários trabalhos, particularmente na obra O Príncipe, escrita no início do século XVI, por volta de 1512, este trabalho tem como propósito apresentar um modelo de liderança que seja eficaz para as organizações alcançarem seus objetivos.
Ao utilizar o termo "objetivos", penso em duas premissas básicas: a primeira prevê a continuidade próspera, lucrativa, das organizações privadas; e, institucionalmente, a continuidade segura e estável das organizações públicas.
A segunda premissa leva em conta que as organizações precisam cumprir seu papel social e a finalidade para a qual foram criadas, ou seja, devem atender às necessidades de seu público-alvo.
Tendo em vista essas premissas básicas, é função, obrigação e responsabilidade do líder cumprir esses compromissos, agindo e fazendo o necessário para alcançar suas metas, que só podem ter como fator limitador os melhores princípios éticos, que devem sempre nortear suas ações. Entretanto, como bem destaca o filósofo Sócrates, em diálogo com Eutidemo narrado por Xenofontes na obra Ditos e feitos Memoráveis de Sócrates, "a justiça e a injustiça dependem das circunstâncias".
No diálogo supracitado, Sócrates defende que um general que usar de maus tratos, ou for excessivamente rigoroso com os inimigos, com o objetivo de salvar uma cidade da escravidão, estaria agindo com justiça, pois, nesse caso, o mal maior é deixar os invasores subjugarem o povo atacado.
Nesse sentido, um primeiro embate ético deve ser travado aqui, pois a teoria de Nicolau Maquiavel é interpretada de diversas formas, muitas delas errôneas. O termo Maquiavelismo, por exemplo, é associado à ideia de que para o autor "os fins justificam os meios".
Ao longo da história, essa frase acabou ganhando um sentido pejorativo, provavelmente por ter sido aplicada inadequadamente por pessoas sem compromisso ético, simbolizando ela atitudes de "esperteza", usadas para enganar as pessoas.
Mas, um estudo da obra O Príncipe aponta que a intenção de Maquiavel foi apresentar os fatos e comportamentos da natureza humana segundo suas fraquezas e defeitos; e orientar os líderes a levar em conta essa realidade, com o propósito de manter a ordem e evitar o colapso e a anarquia no Estado.
Se analisarmos o comportamento e as atitudes de líderes que obtiveram sucesso ao longo da história, verificaremos que, em alguma medida e em certo sentido; eles souberam usar os padrões de comportamentos ensinados na obra O Príncipe; por outro lado, os que fracassaram negligenciaram os ensinamentos ali contidos.
A história está repleta de exemplos de luta pelo poder nos quais vence não aquele que tem as melhores intenções políticas, sociais e organizacionais, mas, sim, quem sabe melhor utilizar as estratégias mais eficazes para conquistar e manter o poder. Muitos ditadores célebres, como Hitler e Stalin, que causaram grandes males a seus povos e à humanidade, estão nessa categoria.
Um exemplo a ser citado, é a disputa pelo poder na União Soviética ocorrida após a morte de Lênin, lider da revolução bolchevique, em 1924: o conflito girou em torno de dois membros do partido comunista; o primeiro foi Leon Trotsky, segundo homem da "Revolução de Outubro" (cuja habilidade militar durante a guerra civil russa lhe rendeu grande prestígio); e o segundo foi Josef Stalin, Secretário-Geral do Partido Comunista da URSS depois de 1922 (o qual desempenhou um papel insignificante durante a Revolução).
Stalin levou a melhor, pois soube utilizar estratagemas, subterfúgios, intrigas, mentiras e traições, para manipular a burocracia e o parlamento russo. Consta que através de uma rede de espiões, ele chegou até mesmo a interceptar uma carta de Lenin, que, gravemente enfermo após sofrer um derrame – e incapaz de governar o pais –, indicava Trotsky como seu sucessor. Stalin teve, assim, sua posição consolidada.
Em seguida, perseguiu, expulsou e assassinou praticamente todos os desafetos e ex-companheiros de revolução que lhe faziam oposição.
Embates acontecem também nas organizações, permeando toda a cadeia de comando. Apesar de o assunto não ser tratado abertamente nas escolas de administração e nos documentos oficiais, na prática intrigas entre profissionais, chefes e subordinados, dentro de empresas públicas e privadas, ocorrem com muita frequência e provocam graves danos às organizações. Quando essas relações não são administradas adequadamente, provocam situações de assédio moral, geram desmotivação, desunião e perda de rendimento da equipe. Só mesmo uma liderança eficaz pode resolver a questão.
Um bom exemplo de líder pragmático no mundo corporativo é o lendário Alfred Sloan Jr., que dirigiu durante 23 anos a General Motors, uma das maiores empresas do mundo. Sloan praticamente inventou a arte de administrar uma grande corporação. Quando entrou na empresa, na década de vinte, a GM era um verdadeiro caos, uma frouxa federação de empresas dirigidas pelos ex-proprietários, um emaranhado de negócios dispersos e desordenados. Endividada e com a produção à beira do colapso, a General Motors quase foi à falência naquela época.
Em 1923, Sloan assumiu a presidência da empresa e com pulso firme criou as divisões corporativas. A organização, sob seu comando, passou a ser controlada por orçamentos, sistemas de contratação, relatórios de venda e administração centralizada. Entretanto, para garantir a motivação e a criatividade nas divisões que compunham a empresa, a autonomia relativa teve que ser mantida. Seu maior desafio foi controlar e liderar cada um dos "chefetes" – que até pouco tempo antes eram os donos da empresa e dirigiam as divisões da GM –, e fazê-los trabalhar em equipe, sintonizados com a administração central.
Outro exemplo de líder eficaz, mas não necessariamente virtuoso do ponto de vista de sua humanidade, foi Napoleão Bonaparte. Ele soube, como poucos, manter um comando firme e, ao mesmo tempo, motivar e estimular seus comandados. Napoleão, que é considerado o maior general da história, tinha fama de disciplinador e era extremamente cruel com seus desafetos. Essa atitude sempre lhe trouxe ótimos resultados, pois, ao mesmo tempo em que era temido e respeitado por todos, era também admirado por seus liderados, em função das conquistas alcançadas e de seu carisma pessoal.
Sun Tzu, general e pensador chinês, – que viveu entre os anos 544 e 446 a.C, ou seja, há quase 25 séculos –, em seu livro A Arte da Guerra, também apresenta uma série de conselhos que são estudados e respeitados por líderes empresariais da atualidade. Na mesma linha de sugestões de Maquiavel, Sun Tzu afirma: "Se, entretanto, você for tolerante, mas incapaz de fazer sentir sua autoridade; bondoso, mas incapaz de fazer cumprir seu comando; e, além de tudo, incapaz de controlar a desordem; então seus soldados serão como filhos mimados, serão inúteis para qualquer propósito prático".
Para efeito da análise de um modelo eficaz de liderança, vou recorrer, também, a um dos melhores estudos sobre a liderança eficaz, realizado por Peter Drucker, autor do livro O Gerente Eficaz (Zahar Editores, 1981). Segundo Drucker, considerado o mais importante estudioso da competência gerencial do século XX, não existe uma "personalidade eficaz" entre os profissionais de sucesso. O que existe é um conjunto de práticas que geram resultados eficazes entre os profissionais, qualquer que seja seu ramo de atividade.
A teoria da liderança, de Maquiavel, e o emprego da experiência de diversos pensadores políticos, empresariais e de outras áreas; podem nos ensinar as melhores práticas de liderança. A partir delas, vou procurar desenvolver e apresentar um modelo de ação que possa ser utilizado com eficácia nas atuais organizações, pois o objetivo aqui é identificar as práticas e as atitudes que tornam um líder eficaz.

Estaremos publicando nos próximos dias os primeiros capítulos do livro "A Liderança segundo Maquiavel"


segunda-feira, 14 de maio de 2012

Livro A Liderança Segundo Maquiavel


Este livro apresenta de maneira clara muitas das ideias defendidas pelo grande pensador Nicolau Maquiavel sobre a liderança, no contexto empresarial da atualidade.
Além disso, faz um relato histórico do papel de diversas personagens que se tornaram lideres em seu tempo, mostrando sucessos, fracassos e o motivo de cada um segundo as teses do pensador florentino.
Personagens políticas como Napoleão; Martin Luther King; Stalin; Trotsky; Rasputin; Getúlio Vargas; Janio Quadros e João Goulart; são abordadas à luz dessa clássica teoria sobre a liderança. Também a atuação de líderes empresariais como Lee Iacocca, Alfred Sloan, Andrew Carnegie e Steve Jobs é discutida.
Ao mesmo tempo em que a obra lida com as muitas vezes polemicas opiniões de Maquiavel, este livro busca dar-lhes novo fôlego projetando-as sobre a rotina empresarial; comparando-as com a opinião de especialistas em administração, como Peter Drucker, Cham Kim e outros.
O resultado é uma fascinante abordagem que, sem apresentar uma fórmula definitiva para a liderança, procura contribuir com as empresas e instituições nos dias atuais.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

3 de maio, nasce Maquiavel, que combate a ética cristã




Nicolau Maquiavel nasceu em Florença, Itália, a 3 de maio de 1469. Historiador, poeta, diplomata e músico, ganhou notoriedade no Renascimento e transformou-se numa personalidade eterna, defendendo que o Homem é mau por natureza.
Maquiavel criou um pensamento e uma ciência, que defende o Estado e o Governo como realmente são, e não como deveriam ser. Alguns estudos defendem que a sua obra foi mal interpretada. Foi alvo de muitas críticas, postumamente, de tal forma fortes e incisivas que foi criado um adjetivo a partir do seu nome: maquiavélico, sinónimo de “astuto” ou “perverso”.
Entrou para a política aos 29 anos e observou grandes nomes do seu tempo. Essa experiência permitiu-lhe criar postulados para a sua obra. Acreditava que a história se repete, pelo que considerava a sua escrita útil, no sentido de permitir que se evitasse cometer os mesmos erros.
Maquiavel foi acusado de não ter uma não possuía uma visão crítica, por ser incapaz de separar factos e mitos. A sua visão da história era considerada “ingénua”.
No centro da ética em Maquiavel está o contraponto à ética cristã. Segundo esta, os governantes e Estados estavam subordinados a uma lei superior e a vida humana destinava-se à salvação da alma. Com o pensamento maquiavélico, o Estado pode praticar todo tipo de violência, seja aos seus cidadãos, seja a outros Estados.
Maquiavel defendia que o Homem é mau, por natureza, e pretende obter o proveito máximo a partir do menor esforço. “Mesmo as leis mais bem ordenadas são impotentes diante dos costumes”, defendia.
O seu pensamento foi criticado, deu origem a adjetivos, mas a verdade é que Maquiavel se tornou eterno. Estará o ser humano a cometer os mesmos erros? Será que a História se repete?
Outros factos históricos do dia 3 de maio contam-se a partir da descoberta da Jamaica, por Cristóvão Colombo, em 1494.
Em Chicago, comemorou-se a 3 de maio de 1908 o primeiro ‘Women's Day’ [Dia das Mulheres], no Garrick Theather. Mais de 1500 mulheres libertam as suas reivindicações, pela igualdade económica e política, luta que permanece, nos dias de hoje.
Já a 3 de maio de 1999, um tornado F5 (provável F6) varre Oklahoma, nos EUA, com ventos superiores a 500 quilómetros por hora. O euro é ratificado como moeda única na União Europeia neste dia, em 2002.
Nasceram a 3 de maio D. João II, 13.º rei português (1455), Nicolau Maquiavel, filósofo e historiador italiano (1469), Alexis Clairaut, matemático francês (1713), Rei Carlos XV da Suécia (1826), Andy Adams, escritor norte-americano (1859), Marcel Dupré, músico francês (1886), Golda Meir, ex-primeira-ministra de Israel (1898), Bing Crosby, ator e cantor norte-americano (1903), Vasco Gonçalves, político português (1922) e James Brown, cantor e compositor norte-americano (1933).
Morreram neste dia Mehmed II ‘O Conquistador’, sultão otomano (1481), Pierre Le Gros, o Jovem, escultor francês (1719), Papa Bento XIV (1758), Francesco Algarotti, filósofo, crítico e escritor de ópera italiano (1764), Armando José Fernandes, compositor português (1983) e Walter Schirra, astronauta norte-americano (2007).
Hoje, assinala-se o Dia Internacional da Liberdade de Imprensa, o Dia do Parlamento, Dia Internacional do Sol e Dia da Guarda Nacional Republicana.

Fonte:Ptjornal

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Os mercenários que Maquiavel tanto falava


 
Nicolau Maquiavel aconselhou o príncipe sobre como se manter no poder, e afirmou que o Estado deveria ter, em primeiro lugar, um exército próprio, regular. É difícil imaginar isso hoje, mas no século XVI os estados nacionais, ainda em formação, pagavam pessoas para defendê-los ou atacar um inimigo. Eram os mercenários. Maquiavel apontava riscos nessa prática, dentre eles o abandono da guerra pelos contratados, chantagens e até rebeliões contra o príncipe.
Cinco séculos depois, as lições do pensador florentino retornam à ordem do dia. Os Estados Unidos se retiraram do Iraque, em 2011, celebrando a decisão como um grande feito; aos poucos, soldados americanos são também retirados do Afeganistão. Em ambos os casos, a estratégia militar logrou estabilizar esses países, mas o cenário ainda é de guerra civil, de permanente ameaça de atentados e enfrentamentos urbanos ou rurais.
No caso do Iraque, país rico em petróleo, as forças armadas locais não têm preparo nem experiência para realizar a segurança dos poços de exploração e de seus dutos, e do próprio governo. Por isso, saíram os mariners e entraram as empresas de segurança privadas. Essa terceirização das forças armadas é um bom negócio para os contratados: em geral, são empresas americanas que oferecem seus serviços de segurança; muitos dos seus sócios são ex-oficiais e ex-combatentes americanos. Os salários pagos aos terceirizados são vultosos, proporcionais ao risco. Realizar segurança de ministros e autoridades pode render cem mil dólares por mês; já a expectativa de vida dessas pessoas é estimada em três meses.
Naturalmente, os países que contratam esse tipo de segurança esperam algum dia não precisar mais desses serviços, podendo contar com um exército e uma polícia bem treinados. Entretanto, isso pode levar muito tempo, pois se trata de criar e manter instituições do Estado. Iraque e Afeganistão não são os únicos, porém são mais visíveis. O Haiti é outro caso. Em países onde a polícia e o exército são fracos, mal-aparelhados e corruptos, muitos estrangeiros – empresas e pessoas – contratam seguranças para realizar a defesa de suas vidas e de seu patrimônio. Poucos sabem, mas em algumas embaixadas da África e América Latina o Brasil utiliza seus próprios soldados para defender as instalações e o pessoal diplomático.
Terceirizados não geram indenizações por ferimentos de guerra, nem pensões para si ou para a família. Suas mortes são incógnitas, não são notícia na grande mídia. Tampouco recebem condecorações ou reprimendas públicas por acertos e erros. E não oneram o setor público com longos tratamentos fisioterápicos e psiquiátricos pós-retorno. Esses soldados e policiais terceirizados – novas modalidades de mercenários, sob o amparo da lei local – estão mudando a realidade de muitos estados e, talvez, da própria noção do que se entende por forças de segurança pública. O mercado de segurança privada parece estar nos levando ao mundo pré-estatal; ou ‘pós-Estado’, se preferirem.

* GILBERTO RODRIGUES é professor do curso de Relações Internacionais da Faculdade Santa Marcelina, foi professor visitante da Universidade de Notre Dame (EUA), doutor em Relações Internacionais pela PUC-SP, mestre pela Universidad para La Paz (ONU/Costa Rica) e pós-graduado pela Universidade de Uppsala (Suécia).

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Amorim cita Maquiavel


É preciso criar “um cinturão de boa vontade entre o Brasil e seus vizinhos na América do Sul” e estendê-lo até a África, dentro do espírito proposto pela Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul. A afirmação foi feita pelo ministro da Defesa, Celso Amorim, durante o 2º Seminário Estratégia Nacional de Defesa: Política Industrial e Tecnológica, que aconteceu na quarta-feira (15), no Auditório Nereu Ramos, da Câmara dos Deputados, em Brasília (DF).



Durante o evento, promovido pela Frente Parlamentar de Defesa Nacional da Câmara e da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança, Celso Amorim apresentou um panorama da situação internacional, onde ele vê um processo de desconcentração do poder mundial, criando ambiente para o desenvolvimento de relações de cooperação e defesa, como por exemplo, no âmbito da América Latina, com o Mercosul, a Unasul e especialmente com a criação do Conselho de Defesa da Unasul.

“Apesar disso, devido à fluidez das relações internacionais, temos de estar preparados para uma eventual ameaça externa. A melhor maneira de se evitar isso é uma defesa forte, que possa causar danos sérios a um possível agressor”, disse o ministro da Defesa.

Para garantir esse projeto, seriam necessários meios aéreos, navais e terrestres, como prevê a Estratégia Nacional de Defesa. Amorim reforçou que a desconcentração de poder é positiva, mas que ao mesmo tempo oferece desafios e dificuldades para o país. O que leva o Ministério da Defesa a priorizar a pesquisa tecnológica independente e nacional, em todas as esferas, além do esforço de recuperação da indústria brasileira de defesa, em linha com o Plano Brasil, lançado pela presidente Dilma Rousseff.

Citando um trecho de O príncipe, de Nicolau Maquiavel, o ministro lembrou que os governantes devem usar o período de paz para se preparar para um possível conflito. “Essa preparação, inclusive, pode evitar possíveis adversidades. Nenhum país soberano delega sua defesa a terceiros”, enfatizou Amorim.

O seminário aconteceu um dia depois da aprovação, por unanimidade, da Medida Provisória 544, que cria um regime tributário especial para a indústria de defesa nacional (Retid) e institui normas específicas para a licitação de produtos e sistemas de defesa. A matéria, aprovada na forma de um projeto de lei de conversão, ainda será analisada pelo Senado. A MP exigirá regulamentação adequada e investimento estatal de apoio a empresas que não se transformem depois em empresas estrangeiras e que o capital estatal investido não escape ao controle nacional.

Entre os presentes no evento, também estavam o ministro Marco Antonio Raupp, da Ciência, Tecnologia e Inovação, e os chefes dos Estados-Maiores do Exército, Aeronáutica e da Marinha do Brasil. Deputados e senadores da Frente Parlamentar de Defesa Nacional e oficiais das Forças Armadas também compareceram.

A Estratégia Nacional de Defesa (END)

A Estratégia Nacional de Defesa foi formulada em 2008, e as medidas previstas na MP estão alinhadas com o Plano Brasil Maior, que tem como objetivo aumentar a competitividade da indústria nacional. Ela está organizada em três eixos estruturantes: o primeiro diz respeito à organização e à orientação das Forças Armadas para melhor desempenharem sua destinação constitucional e suas atribuições na paz e na guerra. O segundo refere-se à reorganização da indústria nacional de material de defesa, para assegurar que o atendimento das necessidades de equipamento das Forças Armadas se apoie em tecnologias sob domínio nacional. E o terceiro versa sobre a composição dos efetivos das Forças Armadas e sobre o futuro do Serviço Militar Obrigatório.

Para a aplicação prática desta estratégia, cada uma das Forças Armadas estabeleceu seu Plano de Articulação de Equipamentos de Defesa, onde se estabeleceria a recuperação, aquisição e produção de produtos de defesa com o necessário fortalecimento da indústria nacional de defesa.

O recém-nomeado ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, integrante da mesa, afirmou que o desenvolvimento científico e tecnológico do país precisa estar associado à soberania nacional. Ele lembrou que o ministério desenvolve projetos em conjunto com o setor de defesa, que receberam investimentos de R$ 1,5 bilhão em 2010 e 2011.

Raupp disse também que espera um aumento significativo dessa colaboração ao longo dos próximos anos. “Quase 50% das nossas atividades estão previstas na Estratégia Nacional de Defesa”, declarou.

Com informações de Pedro de Oliveira, de Brasília


quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Marco Antonio Villa, o maquiavel mequetrefe


Um artigo esdrúxulo artigo foi publicado pelo historiador Marco Antonio Villa no Estadão no sábado (28/01). Para argumentar que a oposição está sem rumo, inicia por dizer que FHC faz uma análise “absolutamente equivocada da conjuntura brasileira”. Não é que o professor discorda disso ou daquilo, contrapondo opiniões, o que seria normal. Não. Ele acha que FHC não entende “absolutamente” nada da política nacional. Que empáfia!
Eu li e fiquei pensando: mas que pretensão exagerada. Quem é esse iluminado, um fenômeno acadêmico, um sabichão, que simplesmente zera a capacidade de análise política de FHC, coisa que nem seus maiores adversários ousam fazer?
Para provar que FHC nunca foi bom na política, o vaidoso professor arrola 6 episódios históricos. Pois eu estive presente, ao lado de FHC, em todos eles. E posso afirmar, e provar com documentos e depoimentos, que todas as interpretações oferecidas no artigo estão maldosamente equivocadas. Eu desafio o professor Villa para um debate público sobre aqueles episódios para ver se ele sustenta as bobagens que escreveu.
Ao criticar a oposição, e especialmente o PSDB, o pedante professor enfrenta a situação, taxada por ele como uma “cruel associação do grande capital com os setores miseráveis”, que periga se perpetuar no poder. Quer dizer, o homem é contra o governo do PT. Conclusão: mais que o famoso “fogo amigo” da política, o arrogante historiador se coloca acima do bem e do mal, posa de conselheiro do rei.
Essa espécie de Maquiavel mequetrefe não percebe, em seus delírios intelectuais, que sua mente está impregnada das velhas idéias da política, formuladas no século passado sob o dogma da dualidade que opõe a esquerda com a direita, a situação contra oposição, o povo contra as elites, utilizadas até hoje, é verdade, pelos últimos populistas, ou autoritários, que vivem de iludir e mandar no povo. Mas eles desaparecerão.
Tal referencial de análise está ultrapassado pelo fim das ideologias totalizantes, pela globalização da economia, pela crise ambiental, pela luta em favor da diversidade humana, pela defesa da paz e da tolerância, contra a violência e as drogas, pela ascensão das classes sociais, pelas modernas formas de comunicação determinadas nas redes sociais via internet. A democracia e o sistema republicano, incluindo os partidos, precisam se renovar, se abrir, para capturar a demanda que brota da juventude na era digital.
É por aqui, pelos caminhos dessa nova agenda imposta à reflexão na civilização humana, que perpassa o pensamento de FHC, mesmo quando analisa a realidade política brasileira. Por isso que o professor Marco Antonio Villa, contaminado pelos vícios do passado, não consegue entender nada, e escreve besteira. Paciência.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Greve policial na Bahia e os ciclos da história


Para o filósofo inglês Thomas Hobbes, “a função do Estado era, sobretudo, promover a segurança e o direito de vida dos seus membros, para que todos pudessem progredir em paz”. Nessa lógica, com certeza, se vivo estivesse, não hesitaria, em declarar a falência do governo.
Pensando em Hobbes e observando as articulações pelas redes sociais sobre uma possível paralisação da PM baiana no carnaval, tomei conhecimento de uma manifestação promovida por um grupo de mães e familiares de policiais mortos em serviço, no início da tarde da última quarta-feira (18), em frente ao Ministério Público, e lembrei-me do movimento “Panelas Vazias” protagonizado por esposas de policiais militares mineiros que, batendo panelas, fazendo orações e gritando palavras de ordem diante do quartel do Comando Geral, chamando atenção para o estado de coisas que, anos depois, redundaria no grande motim dos integrantes daquela corporação. 
Embora a crise que incendiou o país no final da década de 90 tenha tido a sua gênese na Polícia Militar de Minas Gerais, não custa lembrar que, ainda no tempo em que rebeliões, motins, paralisações, greves e outros movimentos reivindicatórios promovidos por militares eram considerados inconcebíveis e passíveis de responsabilização com base na Lei de Segurança Nacional, foi na Bahia, em 1981, que se inaugurou o ciclo de paralisações do policiamento ostensivo como estandarte tático para a ação reivindicatória dos policiais militares brasileiros.
Acostumados a reprimir protestos, essa categoria especial de servidores militares, especialistas no controle de distúrbios civis e do espaço público, ao se apropriar da greve, sem abandonar as características castrenses que lhes revela identidade, marcou a história das corporações, inaugurando um novo meio de ação coletiva da massa policial militar: um conflito aberto com armas.
Decorridos 15 anos da eclosão do grande motim, movimentos isolados desta natureza já se tornaram rotina nas polícias e corpos de bombeiros militares brasileiros, pois a ausência de uma política que atenda aos anseios de uma categoria funcional privada do direito de sindicalização e de greve, aliada ao descaso com que os governos, federal e estadual, tratam da questão, contribui para reforçar-lhes a importância vez que os êxitos obtidos, ainda que parciais, servem de exemplo para que outras instituições procedam da mesma forma.
Inegavelmente, tais episódios revelaram um rompimento dos laços de solidariedade corporativa na relação entre oficiais e praças nas corporações militares estaduais, mas, paralelamente, indicaram um fortalecimento interno no ciclo dos subtenentes, sargentos, cabos e soldados gerando desconfianças, divisões e discórdias que, ao serem, convenientemente, exploradas pelos governantes de plantão, evidenciam a necessidade da construção de alianças estratégicas que embasem um sistema representativo para a categoria que alie a farda à política.
Os exemplos recentes de vários estados nordestinos e as movimentações de milicianos baianos nas redes sociais indicam que, com os problemas salariais e estruturais dessas instituições permanecendo inalterados, a tendência é que as paralisações se repitam em determinados intervalos de tempo, quando a situação ficar insustentável e, inegavelmente, com a maior parcela de responsabilidade debitada aos governos que, mesmo de forma indireta, fomentam a proliferação de movimentos desta natureza.
A experiência histórica dos protestos de militares estaduais nos faz refletir que, nesta pós-modernidade, urge a consolidação do paradigma do soldado-cidadão, donde emerge a necessidade de um diálogo permanente e aberto entre a cultura policial militar, lastreada na hierarquia e na disciplina, e a cultura política relacionada à democratização. A greve de policiais, pelo desgaste social que sempre acarreta e pelos efeitos negativos que pode provocar, não deve se tornar um mero instrumento de promoção pessoal de lideranças sequiosas por construir uma plataforma político partidária, principalmente, em ano eleitoral.
Nicolau Maquiavel (fundador do pensamento e da ciência política modernos) dizia que a história é cíclica, ou seja, se repete. Nesse sentido, o que acontece hoje já aconteceu outrora e possivelmente acontecerá novamente. Assim, nos resta o aprendizado para reescrever a história ou para conviver com a revolta que, entre nós, por causas complexas: “Volta sempre a enfeitiçar com seus mesmos tristes velhos fatos que num álbum de retrato eu teimo em colecionar”.
Depois de 500 anos, Thomas Hobbes nunca foi tão atual, pois, enquanto o sistema político não investir seriamente na segurança pública e não parar de apostar na passividade da tropa e na força dos regramentos disciplinares e penais para fugir das suas responsabilidades, continuaremos a conviver com a volta ao estado de natureza em que imperava a guerra do homem contra o homem e, pior, com os nossos guardiões em permanente “estado de greve”, o que no jargão classista significa que a espada de Dâmocles paira sobre o fio que separa a atividade, da paralisação.