segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Cesar Maia pede ajuda de Maquiavel

Cesar Maia convocou Dick Morris para ajudar o DEM, presidido por seu filho Rodrigo, na crise aberta com o 'Mensalão do DEM'. O politicólogo americano que apunhalou os Clinton (Bil e especialmente Hillary) na década passada pouco irá ajudar o conservadorismo brasileiro a se safar das dificuldades atuais. Seu O Novo Príncipe, Machiavel atualizado para o século 21, de 1999, não chega às solas dos sapatos do velho, injustiçado, grande Príncipe de 1513. O velho Maquiavel será sempre grande porque tinha projeto histórico. A nova direita brasileira será cada vez mesquinha porque perdeu o seu.

Por Bernardo Joffily

O ex-prefeito do ex-PFL no Rio de Janeiro, também 'ex-blogueiro' (embora seu Ex-blog continue muito vivo, apenas ainda não entendeu como funciona a internet) maravilha-se com os lugares comuns de Morris, Destaca em especial "como tratar um escândalo" – escrito assim mesmo, no formato de manual de autoajuda para políticos americanos em apuros. O próprio Dick Morris tem experiência no ramo. Foi defenestrado do governo Clinton em 1996 depois de estrelar um escândalo à americana, quando um tablóide sensacionalista o flagrou com uma prostituta.


"Não há como ganhar na cobertura de um escândalo. A única maneira de sair vivo é falar a verdade, aguentar o tranco e avançar", sentencia Morris, citado por seu fã tupiniquim na coluna que Maia ganhou este ano na Folha de S.Paulo.

No último parágrafo, recado ao jovem Maia

A coluna nem menciona o nome de José Roberto Arruda, o governador do DF que respira por aparelhos desde que estouraram, no dia 27 último, as revelações da Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal. Não cita sequer o nome de seu partido, condenado segundo os analistas a despencar na eleição daqui a menos de dez meses, por praticar o oposto do que pregava no seu discurso.

Mas todo o texto da coluna do velho Maia, Novo príncipe, deve ser decifrado à luz do escândalo do 'Mensalão do DEM'. O parágrafo final é um recado direto ao jovem Maia:

"Na medida em que o governante nada tenha a ver diretamente com o fato, que os responsáveis sejam de fato afastados por traição de confiança. Caso contrário, o próprio governo será contaminado e terá perdido precocemente a batalha de opinião pública e, assim, a batalha política."

O foco é a luta interna no DEM, e no bloco DEM-PSDB-PPS, atingido em cheio pelos vídeos da Caixa de Pandora. Rodrigo Maia colocou-se aqui em posição de risco. Já antes do escândalo, andou elogiando Aécio neves e criticando José Serra. Quando a Caixa foi aberta, bancou a decisão de dar um prazo para Arruda se explicar. Diante da posição tucana, de virar as costas para o aliado e falar em tirar-lhe a vice na chapa oposicionista, ameaça com um rompimento (veja aqui a reveladora entrevista Magoado, presidente do DEM cogita romper com tucanos em 2010).

A política como grande combate

É notável a que ponto o conservadorismo brasileiro vai abandonando toda ambição de um projeto político programático, e agachando-se mais e mais na busca dos interesses mais imediatos e rasteiros dos setores que representa. Para isso, só mesmo recorrendo a Dick Morris, que em sua fugaz passagem pela Casa Branca notabilizou-se por "republicanizar" a política do Partido Democrata.

Quem deve estar se revolvendo no seu túmulo em Florença é Nicolau Maquiavel [1469-1527], autor do verdadeiro Príncipe. Este tinha programa, a unificação da Itália, só alcançada quase quatro séculos mais tarde. Este tinha espessura, estudada no século passado por seu conterrâneo marxista Antonio Gramsci [1891-1937]. Caluniado pela reação italiana e europeia, reduzido a uma caricatura 'maquiavélica' que não guarda a menor semelhança consigo, ousou trazer a política do reino de Deus para o dos homens, enxergando-a como o grande combate entre humanos que ela é.

Os maias, para não falar dos morris, apequenam a política. Fazem dela uma coisa suja e abastardada como o esquema ao que tudo indica montado por Arruda no Distrito Federal. Quando pensam, pensam pequeno: como abafar o último escândalo, como arquitetar o próximo.

A política não pode e não precisa ser isso. É o que os brasilienses em especial e os brasileiros vão aprendendo, estimulados pelo pensamento do velho Príncipe, mas sobretudo por sua própria, penosa, indignada mas instrutiva experiência. O quanto aprenderam, 2010 dirá.

Para que o internauta tire suas próprias concluões, transcrevo abaixo a coluna de Cesar Maia na Folha deste sábado (5).

Novo príncipe


El Nuevo Príncipe (editora El Ateneo), de Dick Morris (coordenador de Clinton em 2006), é leitura básica para entender a complexidade da comunicação política dos governos, muito maior que a do marketing eleitoral, pois ocorre dia a dia. E se insere num universo diversificado, de imprensa, comunicação direta, boatos, opinião pública segmentada, contracomunicação da oposição e dos insatisfeitos e da internet.


Morris fala disso em Governar, na parte 2 de seu livro. Nele, trata de temas como popularidade cotidiana, exercício da liderança, agressividade ou conciliação, inércia burocrática, cuidar das costas (controlar seu partido), cortejar a oposição, grupos de pressão, buscar recursos e continuar sendo virtuoso, o mito da manipulação da mídia e como sobreviver a um escândalo.


A este último ponto Morris dedica atenção. "Não há como ganhar na cobertura de um escândalo. A única maneira de sair vivo é falar a verdade, aguentar o tranco e avançar". Com vasta experiência junto à imprensa dos EUA, lembra que, quando ela abre um escândalo, tem munição guardada para os próximos dias. Os editores fatiam a matéria, pedaço a pedaço, para a cada dia ter uma nova revelação.


De nada adianta querer suturar o escândalo com uma negação reativa, pois virão outras logo depois, desmoralizando a defesa. E outros veículos entram com fatos novos, para desmentir. Para Morris, a chave é não mentir. O dano de mentir é mortal. "Uma mentira leva a outra, e o que era uma incomodidade passa a ser obstrução criminal à Justiça".


A força de um escândalo é a sua importância política. As pessoas perdoam muito mais aqueles fatos sem relação com o ato de governar.


E ir acompanhando a reação do público. "Se os eleitores se mostram verdadeiramente escandalizados com o que se diz que ele fez, é melhor que não tenha feito. Roubar dinheiro quase sempre não se perdoa".


Em outros tipos de escândalo, como os de comportamento, os eleitores se mostram mais suaves e compreensíveis. Os mais velhos são sempre menos tolerantes. Os de idade intermediária tendem a ser mais flexíveis, especialmente com escândalos de comportamento. Os eleitores jovens se fixam mais no caráter do governante. Assim, além da complexidade de enfrentar um escândalo, a comunicação de governo deve ser, pelo menos, etariamente segmentada.


Na medida em que o governante nada tenha a ver diretamente com o fato, que os responsáveis sejam de fato afastados por traição de confiança. Caso contrário, o próprio governo será contaminado e terá perdido precocemente a batalha de opinião pública e, assim, a batalha política.

Fonte:Portal Vermelho

Um comentário:

Ricardo disse...

Caro amigo Roberson Marcquiavel (afinal, tu te identificaste com o apelido. Rsss):
Sempre gostei muito do César Maia. Aliás, já o encontrei dando palestras e, fora do ambiente acadêmico, ele transborda simpatia.
Entretanto, o assunto aqui não é este. O assunto é política. E nesse, ele tem ido um pouco mal.
O final de seu último governo municipal foi trágico. Quem dera, ele pudesse ter lido Maquiavel um pouco antes... e não essa tosca adaptação de um americano, mas o genuinamente italiano.
Não li o livro do tal Dick Morris, mas nossa história tupiniquim desmente a tese dele. Afinal, o outro "mensalão"... aquele do Partido da Estrelinha, prova o contrário. Negou-se o mais óbvio, apesar das acusações de gente de dentro do esquema. Ao final, um pequeno punhado de gente foi posta fora de seus postos (oficiais), com desculpas de "Eu não sei! Eu não vi! Não é possível saber de tudo!" e... pronto. Foi que nem Mertiolate em machucado de criança: "Já passou!Já passou!".
Os mesmos berzoines, dirceuzines e puguistines se abraçam, comemorando mais um ano do Partido da Estrelinha e, quiçá, mais quatro no Planalto.
Acho melhor o César Maia ler o "Maquiavel revisitado por Luiz Inácio". Haverá muitas lições importantes. Diga-se de passagem: nenhuma delas fundamentada originalmente no florentino... a não ser pelo lema, atribuído a este, de "Os fins justificam os meios".
Se bem que, à luz fria da razão, nem isso, visto que "os fins" são meramente pessoais.
Melhor o DEM esquecer o Arruda - talvez até seja melhor apelar à arruda, aquela plantinha que acaba com o mau olhado - e se preparar para o isolamento em relação ao PSDB.
Boa sorte, Maia! E você vai precisar...