quarta-feira, 23 de setembro de 2009

O PRÍNCIPE – MAQUIAVEL

O “Príncipe”, obra de Nicolau Maquiavel, trata da hereditariedade, da conquista e manutenção de um governo. O autor chama “Príncipe” os governantes (reis) da época e antes a publicação da obra. Além da hereditariedade, da conquista e manutenção de um governo a obra traz em si conselhos, feitos por Maquiavel, e comprovados com narrativas de reis passados e seus feitos de sucesso ou fracasso.

Dentro da obra o leitor encontrará uma estrutura moldada em 26 capítulos distribuídos sob tópicos que podem ser divididos da seguinte forma: Os iniciais tratam da forma pela qual o Príncipe (governante) adquire o seu principado (governo) e como deve porta-se para conservá-lo, Maquiavel cita como alguns reis perderam seus reinados: caso de Dario, da Pérsia. Do capítulo VI ao XIV, o escritor aborda a importância do Exército e das armas para conquistas ou guarda do principado (governo). Nos capítulos finais, Maquiavel, trabalha a psicologia comportamental do Príncipe (Governador, Presidente, Rei) diante de seus subordinados, aqui, o escritor intensifica seus conselhos, os dando na sua maioria em primeira pessoa e direto aos líderes.

Quando escreve o livro, Maquiavel o faz tentando agradar Os Médices, os governantes da sua época, embora não o consiga de mediato e sofre o desemprego, Maquiavel é contratado mais tarde.
É interessante relatar aqui alguns fatos e conselhos que tomam destaque na obra e que por si resumem os capítulos do livro, é o caso da frase do capítulo III, onde Maquiavel exemplifica o surgimento de um principado: “Os principados são ou hereditários, quando a estirpe do seu senhor desde longo tempo os rege, ou novos. Estes, ou são totalmente novos, como foi o de Milão para Francisco Sforza, ou são como membros acrescidos ao estado hereditário do príncipe que os adquire, como é o reino de Nápoles para o rei da Espanha.”. A partir daqui o autor busca explicar aos reis a hereditariedade de um Estado, seus pontos falhos, fracassos ou sucesso, claro que como dito anterior, Maquiavel, justifica usando narrativas passadas. Nesta parte, Maquiavel mostra que o principado novo sofre mais dificuldades para se manter, enfrentando rejeições, revoltas e guerras civis dentro da nova conquista: “É que os homens gostam de mudar de senhor, julgando melhorar, e esta crença os induz a pegar em armas contra quem os governa”.

Ainda nos capítulos iniciais do livro, alguns trechos podem chocar o leitor, sendo este do povo ou assessor, mas é uma prática aconselhável, segundo Maquiavel, para o sucesso de um Principado (governo): “Note-se que os homens devem ser bem tratados ou então aniquilados”. Segundo Maquiavel, um Rei há que tomar uma única posição em determinados momentos e as impor com todo o rigor.

Muitos principados surgem e são os mais variados meios para se consegui-los, como dito anterior, por hereditariedade, por conquista, eclesiásticos, por crimes e por agrado Civil. Neste último, o autor coloca que sempre haverá maior tranqüilidade para o Príncipe, pois aqui ele chegara com o apoio do povo: “Quem, portanto, se tornar príncipe, com o favor do povo deve conservá-lo seu amigo; e isto não lhe será difícil, já que o povo só deseja estar livre da opressão”. Além do citado, encontrado no capítulo IX, é comum a menção de Maquiavel no tocante aos príncipes e os tratamentos que devem ser destinados aos seus súditos civis.

Além do povo, dos principados novos e hereditários, o escritor destina boa parte do livro os Principados e suas Defesas, ou seja, aos soldados e as armas, para falar sobre esta parte, o escritor reserva os capítulos XII, XIII, XIV expondo as narrativas de reis que agiram com soldados próprios, milícias ou com soldados emprestados; chama a atenção que lutar ao lado de milícias é caminhar rumo ao fracasso: “Desejo demonstrar melhor os males que o emprego dessas tropas acarreta. Os capitães mercenários ou são homens de valor ou não. Se o são, ninguém pode confiar neles, pois sempre aspirarão à grandeza própria, seja oprimindo, para isto, o príncipe que lhes paga o soldo, seja oprimindo os outros, fora das intenções dele”. Como sempre Maquiavel, exemplifica seus argumentos usando casos acontecidos na história e cita Os cartagineses que viram submetidos a soldados mercenários. O caso de Filipe de Macedônia que acabou por tirar a liberdade dos tebanos, de quem havia recebido o cargo de capitão das suas tropas após a morte de Epaminondas.

Claro que o escritor ainda relata os prejuízos das tropas emprestadas, das mistas e por fim argumenta que o melhor é o Príncipe (governador) lutar sempre com suas próprias tropas.
Os últimos capítulos são referentes às atitudes que o “Príncipe” deve tomar para com os seus súditos: se este deve encher-se de bondade para com o seu povo ou deve ser temido; cruel ou clemente; cumprindo as promessas e de que forma. Resuma-se que o restante do livro a partir do capítulo XV é sobre o comportamento do príncipe para o êxito na empreitada. “Na verdade, quem num mundo cheio de perversos pretende seguir em tudo os princípios da bondade, caminha para a própria perdição”. É importante ressaltar que nestes capítulos Maquiavel aconselha até sobre os gastos que o príncipe deve ter com seu povo. Ao término do livro, o Conselho é direto aos Príncipes da Itália, de sua época, claro. Neste término, Maquiavel encerra o livro exaltando as lideranças a lutarem pela liberdade da Itália, o escritor exalta a liberdade com argumentos e narrativas que vão desde o religioso ao humano.

Portanto, “O Príncipe” é uma obra que merece atenção a quem queira governar mesmo nos séculos atuais. A linguagem é clara e se desenrola com narrativas históricas interessantes. Os conselhos de Maquiavel merecem destaque dentro da obra, pois são apresentados com argumentos convincentes e duradouros ao tempo. A psicologia e a filosofia aplicadas no livro o torna imortal, compara-se aqui esta imortalidade semelhante ao “AMOR” de Shakespeare que eternizou “Romeu e Julieta”, ao “CIÚME” de Machado de Assis que eternizou “Bentinho em Dom Casmurro”. Para eternizar “O Príncipe”, Maquiavel abandona estes sentimentos – Amor, Ciúmes e lança mão de um sentimento humano tão imortal quantos os outros: A vontade de liderar, de governar, de ter poder. Tudo isto torna “O Príncipe” uma obra seleta, onde só uns poucos têm a capacidade de lê-la e compreendê-la na prática.


POR ISAAC SABINO

Fonte:Recantodasletras

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