terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Um convite para estudar Maquiavel

Em meio ao momento político que vivemos no Brasil, venho aqui propor um convite à sociedade brasileira. Como cidadão, realmente bate um sentimento de indignação e impotência ao observar os elevados números percentuais que os Deputados Federais (61,83%), os Deputados Estaduais do RS (73%), entre outros, aumentaram em seus salários. Em meio a este turbilhão, eu diria que cabe a nós estudar! Muitos vão contestar achando que estou de brincadeira, mas não! Não digo aquele estudo que vivenciamos na escola, fechadinho, com conteúdos lineares, presos a carga-horária e que, muitas vezes, não tem alguma relação vital. Falo do estudo pela necessidade que este apresenta em nossa vida; no caso, essa necessidade se manifesta na indignação com a atual situação governamental. E aqui, entro no seguinte tema: Política.

Esse assunto já vem sendo debatido há muito tempo. Desde o século V a. C. filósofos já discutiam esta questão. Ao longo da história, muitos teorizaram sobre este tema, a saber: Platão (“A República”), Aristóteles (“Política”), Hobbes (“Leviatã”), Rousseau (“Do Contrato Social”), Rawls (“Uma Teoria da Justiça”) entre outros. Mas o que eu quero convidar os leitores a estudar é o filósofo que tem sua teoria conhecida como “Realismo Político” e que acredito que pode muito nos ajudar a compreender o que está acontecendo com nossa sociedade. O autor é Nicolau Maquiavel. Sua obra chama-se “O Príncipe” (publicada, aproximadamente, em 1531).

Nesse livro, Maquiavel busca descrever como funciona a política, tomando por base os acontecimentos históricos. Segundo o autor, a organização do Estado é algo meramente técnico e desvinculado do campo da moral. O governante (no caso da obra, ele se refere ao “príncipe”) deve ser uma pessoa parcial, capaz de agir de “qualquer forma” para atingir seus objetivos; inclusive, se for o caso, ele deve apelar para Deus, a fim de convencer e conquistar o povo.

Maquiavel também trabalha com dois conceitos importantes: o de “fortuna” e o de “virtú”. “Fortuna” significa tudo aquilo que não depende do ser humano para acontecer (podemos, aqui, chamar de acaso, imprevisto). “Virtú” significa o conjunto de qualidades que permite ao sujeito aliar-se a “fortuna” e obter êxito naquilo que objetiva. É a capacidade em que o sujeito tem de fazer o necessário para chegar ao fim almejado, mesmo que de forma “imoral”.

Cabe salientar que Maquiavel vai muito além desse resumo que escrevi. Isso é uma breve provocação ao leitor, para que cada um possa se sentir instigado a lê-lo. Sei que ao ler Maquiavel, as pessoas de bom coração sentirão uma certa repulsa, talvez até questionando sobre o porque dele escrever dessa forma. Em sua época, Maquiavel teve interesses pessoais para publicar tal escrito; mas acredito que sua produção foi muito além desses interesses. Maquiavel conseguiu ler sabiamente a história dos seres humanos e, com isto, oferece-nos em excelente material teórico para compreender, em grande parte, o que ocorre na nossa sociedade atual em pleno século 21.

Desta forma, concluo este artigo convidando as pessoas a ler “O Príncipe”, a fim de que tirem suas próprias conclusões. Vocês perceberão que a Filosofia não é algo tão chato, como, muitas vezes, parece ser na escola, e poderão refletir; e quem sabe, um dia, serem os sujeitos que escreverão a história de uma maneira diferente da que Maquiavel traçou no século 16 e que ainda vige em nosso País.



*Licenciado em Pedagogia (Furg) e Filosofia (UFPel)

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