terça-feira, 6 de abril de 2010

A volta do duelo entre vermelhos e azuis

Um duelo da política já conhecido dos brasilienses: de um lado, o grupo dos azuis que se empenham pela candidatura do ex-governador e ex-senador Joaquim Roriz (PSC); do outro, não uma figura única, mas quem quer que seja o representante do Partido dos Trabalhadores simbolizado pelo vermelho da sigla. Para o cientista político Paulo Kramer, a crise que culminou no afastamento definitivo do governador José Roberto Arruda (sem partido) embaralhou as perspectivas do jogo político no Distrito Federal. Ele considera que partidos e candidatos, ou pré-candidatos, que aparentavam não ter chances na disputa eleitoral, ganharam novo fôlego. No entanto, os fatos novos ressuscitaram também velhos costumes como o da polarização entre Roriz e o PT. “Então eu acho que a disputa vai se decidir entre o Roriz e o candidato do PT, ressuscitando uma polarização muito conhecida nossa que existe praticamente desde quando Brasília se emancipou politicamente”, comenta.

O cientista político Leonardo Barreto acredita que o compasso ainda é de espera para se saber como será a campanha para as eleições do próximo mês de outubro. “Os parlamentares ainda não conseguem visualizar a quem se aliar e eu não tenho certeza, por exemplo, da candidatura de Joaquim Roriz”, avalia.

Barreto considera que o novo grupo composto por partidos como PDT, PMDB e PSB, entre outros, viu uma janela de oportunidade porque pelas análises feitas, o PT não se configura numa alternativa que salta aos olhos da população. “Todo esse escândalo não fez com que a campanha do PT decolasse. O (ex-ministro) Agnelo Queiroz e o PT não capitalizaram com todo esse escândalo e por outro lado eles analisam que a eleição de Roriz também não pode ser considerada favas contadas porque tem um conjunto de coisas contra ele (Roriz). Tem pessoas muito próximas a ele citadas no escândalo”, observa.

Barreto reforça ainda que as intenções de voto no Agnelo não explodiram e as pessoas que estão chateadas até agora com toda a situação de crise não sinalizaram que vão optar pela chapa de oposição, além do que não há certeza sequer se Roriz vai competir. “Ele lidera a preferência do eleitor brasiliense, mas eu acho que não chega até a campanha porque tem muita coisa conspirando contra. Têm adversários muito ressentidos que não vão medir palavras para se vingar”, destaca.

O cientista lembra ainda que o processo que denuncia a troca do número de atendimento da Caesb pelo número da chapa de Roriz ao Senado em 2006 está pronto para ser julgado e em caso de condenação, o ex-governador se tornará inelegível. Para complicar ainda mais a situação de Roriz, avalia Barreto, ainda tem o fato de o ex-governador estar num partido pequeno. “A gente não pode ignorar isso. Vai ter um tempo de televisão muito pequeno e aquela estrutura gigante que ele tinha para fazer campanha desapareceu”, comenta. Na análise de Barreto, por mais que Roriz seja campeão de votos, quando ele entra na disputa a sociedade se polariza. “A última eleição que ele venceu foi contra o Magela, mas o adversário chegou encostadinho nele. Na eleição de senador foi a mesma coisa. Agnelo chegou perto e se tivesse mais uns dias poderia ter virado o jogo”, ressalta.

Campanha passa por Lula

Na análise do cientista político e sociólogo Antônio Flávio Testa, é difícil que Roriz saia da disputa, ou pelo menos ele deverá ir até onde conseguir, pois tem muitos compromissos. Testa considera que a participação de Roriz nas eleições dependerá muito do posicionamento do presidente Lula. “Se Roriz fizer uma aliança pela campanha do Serra, é bem provável que ele vai ser igual ao Arruda. Talvez eu esteja exagerando, mas acho que ele sai de circulação porque muitas coisas poderão vir à tona”, destaca.

O cientista diz que Lula tem interesse em eleger Agnelo, por isso houve tanta pressão sobre o deputado federal Geraldo Magela (PT). O objetivo do presidente é fazer com o Agnelo um bom palanque para Dilma em Brasília. Já o Roriz tem muitos problemas, aponta Testa. Ele lembra que a deputada distrital Eurides Brito (PMDB) se comprometeu a fazer revelações na Comissão de Ética da Câmara e se ela cumprir o prometido poderá complicar a vida de Roriz.


Paulo Kramer acha que ainda é cedo para dizer se Roriz será ou não candidato ao GDF, pois o cientista considera que o ex-governador faz parte de uma velha escola de políticos mais cautelosos, mais “raposas” que colocam a opinião pública, ou parcela dela em dúvida, mas que se valem da falta de provas contra os questionamentos e críticas que lhes são feitos. “Políticos da geração do Roriz dificilmente seriam pegos numa fita, por exemplo. O que eu acho que diferenciou o caso Arruda dos outros, é que no caso Arruda aquilo ali foi visto, foi presenciado, as imagens são fortes demais porque falam por si mesmo”, observa Kramer. Ele aponta que é uma reação comum dos políticos dizerem que o que se tem contra eles é intriga da oposição ou má vontade da mídia. Arruda acabou não podendo se defender nesses termos porque as imagens eram fortes demais, conclui o cientista.


Antônio Flávio Testa destaca que o favoritismo atual do PT não advém do fato de que a população goste do Agnelo ou do PT, mas sim da falta de opção. Nomes que teriam chances na disputa como o do senador e ex-governador Cristovam Buarque (PDT) não demonstram interesse real de concorrer.
O que Testa considera que poderia ainda mudar um pouco o quadro seria os partidos que estão fragmentados, como PSDB e DEM, lançarem um nome forte que possa acirrar a disputa pelo GDF e levar a decisão para o segundo turno.


Testa considera que um nome como o do ex-secretário de Transportes e deputado federal Alberto Fraga (DEM), por exemplo, poderia aglutinar o apoio da turma do Arruda, do PSDB e outros. “Ele conseguiria chegar, quem sabe, a um segundo turno. Acirraria um pouco a disputa, dividiria, porque se o Roriz não puder se candidatar ele vai trazer muito apoio, será um eleitor forte, assim como Arruda vai ser também um eleitor muito forte”, comenta o cientista político. Testa reforça que se forem feitas pesquisas nas cidades-satélites poderá se perceber que Arruda e Roriz são os que mais têm votos. “O Arruda fez um bom governo, muito melhor que o Roriz, o problema é que foi desconstruído. O Arruda seria o vice-presidente da República na chapa do Serra tranquilamente, mas perdeu tudo. Então o impacto disso na política local é muito sério”, avalia.


Quanto ao PT, Testa considera que o partido está um pouco preservado e, embora Agnelo também tenha “telhado de vidro”, o que será percebido na época da campanha, as implicações de “seus deslizes” são menores e não irão atrapalhar sua candidatura, ainda mais porque esta conta com o apoio do presidente da República. “Eu acho muito difícil sair da mão do PT hoje, só se acontecer uma grande tragédia”, conclui Testa.

A falta de opções beneficia PT
A fragmentação dos adversários beneficiou o Partido dos Trabalhadores, acredita o cientista político e sociólogo Antônio Flávio Testa. Ele acredita que o PMDB deverá indicar o vice do Agnelo, que provavelmente será o presidente da sigla local Tadeu Filippelli. “Vão aparecer candidatos para marcar presença, mas eu não creio que vá mudar o jogo não. Parece que caiu de bandeja. Pode ser que mude daqui para as eleições, mas hoje está muito fácil para o PT eleger o Agnelo”, avalia Testa.
O cientista político Paulo Kramer lembra um pensamento do historiador e filósofo político italiano, Nicolau Maquiavel, no qual ele diz que a política se faz com virtude, ou seja, a competência do político, mas também com um pouco de sorte. Talvez seja essa segunda parte do pensamento que hoje favorece o PT.


Kramer não acredita, no entanto, que o PMDB de Brasília possa, neste momento, se aliar ao PT no âmbito local. Ele destaca que não faz parte da história do PMDB fechar questão na base, nos estados, e acabou a verticalização. “As alianças poderão ser feitas mais ao sabor da conjuntura política de cada estado ou unidade da Federação. Brasília não será o único lugar, nem e seu primeiro, onde haverá pelo menos duas candidaturas pró-Dilma. Então isso não vai ser problema não. O PMDB os líderes estão acostumados a esse pluralismo das bases”, avalia Kramer.


Para o estudioso, a probabilidade maior será do PMDB reatar com Roriz. “Se a candidatura do ex-governador se mantiver viável até o meio do ano, eu acho que não vai ser o Roriz que vai voltar para o PMDB, vai ser o PMDB que vai voltar para o Roriz”, diz Kramer. Ele comenta que Roriz ficou órfão da cobertura partidária, mas antes sempre teve apoio do PMDB, o que só foi rompido quando o governador Arruda atraiu o partido e seu principal líder, Tadeu Filippelli. Kramer avalia que isso deixou Roriz “na chuva” porque como consequência, o ex-governador teria que contar apenas com um reduzido tempo no programa eleitoral gratuito no segundo semestre, visto que seu partido atual, o PSC, é muito pequeno. “Ele (Roriz) não é bom de televisão, ele é bom em palanque, onde se solta mais, mas de qualquer maneira o tempo de televisão na propaganda eleitoral é muito importante e como o PMDB está órfão porque foi atraído para o Arrudismo e o Arrudismo implodiu, acabou, é possível que a sigla retorne a apoiar Roriz”, analisa.


Antônio Flávio Testa destaca que o PMDB e o PT têm uma aliança nacional que de alguma forma vai influenciar as alianças regionais e poderá exigir a composição nos estados. Ele cita como exemplo da determinação do partido, o PT cogitar abrir mão da cabeça de chapa em Minas Gerais para colocar o ministro das Comunicações, Hélio Costa, como candidato. “O que interessa para o PT é a eleição da presidente da República. Aqui em Brasília vai ser muito difícil o PMDB lançar uma chapa sozinho. Ele (PMDB) pode tentar trazer o Roriz, mas não vai porque o Roriz brigou com o Filippelli”, comenta Testa. No entanto, o estudioso destaca que o Arruda não tem mais condições de fazer uma boa aliança, em que o Filippelli seria o grande aliado, por isso agora seria muito mais viável para o PMDB de Brasília se juntar ao PT.


Testa reafirma que o grande projeto e mais importante para o PT hoje é eleger presidente a ex-ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. “Já tem uma ordem, uma diretriz que foi aprovada na convenção nacional do PT dizendo que o diretório nacional do PT pode intervir em qualquer diretório regional que desobedecer a estratégia de eleger a Dilma, ou seja, os estados têm que entrar em acordo e trabalhar para a Dilma. É a decisão”, conta o pesquisador. Portanto, o PMDB de Brasília terá que fazer uma composição que tenha como base o apoio ao palanque nacional.

Fonte:Jornaldacomunidade

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