segunda-feira, 5 de outubro de 2009

MULTIDÃO E CONSELHEIROS

Maquiavel elogia ao povo quando diz: "não é sem razão que se compara a voz do povo à voz de Deus: porque vê-se a opinião universal produzir efeitos tão maravilhosos em suas predições, que parece haver nela uma virtù oculta para prever o seu mal e o seu bem."(Discorsi, I, 58: 141)
Mas o povo pode se enganar. "O povo só pode enfrentar o engano a que é induzido pelos homens ou pelos acontecimentos se tiver a sorte de encontrar alguém que seja sábio e confiável para esclarecê-lo sobre o que é bom e o que é mau (Discorsi, I, 53: 134) Sob o domínio das paixões, a massa pode produzir grandes tumultos e desordens; porém, torna-se fácil contê-la, pois, como age sob impulso, basta proteger-se de sua primeira arremetida que os ânimos logo se arrefecem e ela perde a confiança na sua própria força. Para Maquiavel a multidão precisa de conselheiros para distinguir a verdade da aparência enganosa, e de um chefe para dirigi-la ou comandá-la na ação, dada sua incapacidade de autodisciplina e auto-organização. Maquiavel intuiu a necessidade de uma participação ativa do povo na vida político-social, mas está longe de Ter tirado dessa premissas todas as implicações que deveriam logicamente decorrer delas. Mas, com certeza, a explicação mais plausível para as flutuações na avaliação das qualidades populares deve ser buscada nas razões apresentadas pelo próprio autor: na diferença que ele estabelece entre uma multidão solta, sem freio, e a multidão regulada pelas leis, como a romana. (Discorsi, I, 58: 141)

Fonte:Maquiavel, Lídia Maria Rodrigo, Ed. Vozes, 2002, p. 105 e 106

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