Nicolau Machiavelli nasceu em Florença em 1469. Foi secretário e historiador da república florentina. Destituído e exilado, voltou ainda à pátria, chamado pelos amigos. Faleceu em 1527, obscuro e abandonado. Entre seus escritos têm particular interesse filosófico Il Principe e os Discorsi sopra la prima deca di Tito Livio.
Machiavelli propõe-se o problema: como constituir um estado, partindo do terreno realista da experiência e prescindindo de qualquer valor espiritual e transcendente, ético e religioso. A experiência histórica lhe diz que a natureza do homem é profundamente egoísta e malvada. Ele tem do homem uma concepção pessimista, semelhante à cristã, mas sem a explicação (o pecado original) e sem o remédio (a redenção pela cruz), que o cristianismo oferece. Então é preciso organizar naturalisticamente e subordinar mecanicamente um complexo de paixões e de egoísmos a um egoísmo maior, o do príncipe e do estado. É preciso constituir uma ciência política sobre a base de um utilitarismo rigoroso.
Daí a máxima famosa: o fim justifica os meios. O fim último é o estado, a que tudo deve ser subordinado, tanto os indivíduos como todos os valores, até os morais e religiosos. Indivíduos e valores devem servir unicamente como instrumentos de governo, e podem ser aniquilados pelo estado. A este propósito é característica e intuitiva a comparação que Machiavelli faz entre o cristianismo católico e o paganismo antigo, concluindo em favor da superioridade (política) do segundo. Precisamente pelo fato de que o paganismo representa uma concepção e uma praxe humanistas, mundanas, em que tudo é subordinado ao estado, ao passo que o cristianismo é uma concepção e uma praxe transcendentes e ascéticas, e não reconhece poder algum humano superior a ele.
A política de Machiavelli foi acusada, muitas vezes, de imoralidade, o que é verdade, se se confrontar com uma concepção transcendente e ascética do mundo e da vida, como é a teísta e a cristã, e sim transcendentes (como todos os valores absolutos), não é o estado e sim Deus; e os meios para atingir o fim último não são substancialmente variáveis conforme as circunstâncias dos tempos e dos lugares, porquanto a moralidade, na sua essência, deriva da natureza racional do homem, essencialmente imutável. Entretanto, a política de Machiavelli não está em contraste com uma ética humanista e imanentista, que não tem fins transcendentes e leis morais estáveis.
A doutrina política de Machiavelli todavia, conserva um grande valor também para a concepção transcendente do mundo e da vida, pois o estado, para a concretização dessa concepção transcendente da vida, é indispensável a fim de que o homem realize a sua natureza racional: é ético o estado, embora receba de Deus a sua eticidade transcendente, como de Deus, aliás, dependem todos os valores e todo o ser. Entretanto, o estado, ainda que deva mirar a um ideal superior e imutável, tem que ter os pés sobre a terra, pisar na realidade concreta, variável, histórica. Deve organizar, disciplinar, valorizar os homens efetivamente egoístas e inclinados ao mal. Por isso, deverá ser leão ou raposa - no dizer de Machiavelli; terá de agir com força decidida e com refinada prudência, com base na profunda experiência humana. E, por vezes, será preciso subordinar um princípio moral a outro princípio superior da moral (como, aliás, acontece também na moral individual no caso do assim chamado conflito dos deveres).
Neste sentido conceberá a política o piemontês João Botero (1540-1617) na sua obra Della ragione di stato, de conformidade com o espírito católico e concreto da Contra-Reforma. Nesta obra, por exemplo aconselha ele ao Príncipe ocultar prudentemente suas fraquezas eventuais, para conservar a reputação real; aconselha-o a respeitar plenamente a religião (católica), instrumento precioso, indispensável para tornar politicamente dóceis os homens, inclinados profundamente para o mal; bem como o aconselha a encaminhar para a milícia e para a guerra, a instintiva ferocidade humana.
Machiavelli propõe-se o problema: como constituir um estado, partindo do terreno realista da experiência e prescindindo de qualquer valor espiritual e transcendente, ético e religioso. A experiência histórica lhe diz que a natureza do homem é profundamente egoísta e malvada. Ele tem do homem uma concepção pessimista, semelhante à cristã, mas sem a explicação (o pecado original) e sem o remédio (a redenção pela cruz), que o cristianismo oferece. Então é preciso organizar naturalisticamente e subordinar mecanicamente um complexo de paixões e de egoísmos a um egoísmo maior, o do príncipe e do estado. É preciso constituir uma ciência política sobre a base de um utilitarismo rigoroso.
Daí a máxima famosa: o fim justifica os meios. O fim último é o estado, a que tudo deve ser subordinado, tanto os indivíduos como todos os valores, até os morais e religiosos. Indivíduos e valores devem servir unicamente como instrumentos de governo, e podem ser aniquilados pelo estado. A este propósito é característica e intuitiva a comparação que Machiavelli faz entre o cristianismo católico e o paganismo antigo, concluindo em favor da superioridade (política) do segundo. Precisamente pelo fato de que o paganismo representa uma concepção e uma praxe humanistas, mundanas, em que tudo é subordinado ao estado, ao passo que o cristianismo é uma concepção e uma praxe transcendentes e ascéticas, e não reconhece poder algum humano superior a ele.
A política de Machiavelli foi acusada, muitas vezes, de imoralidade, o que é verdade, se se confrontar com uma concepção transcendente e ascética do mundo e da vida, como é a teísta e a cristã, e sim transcendentes (como todos os valores absolutos), não é o estado e sim Deus; e os meios para atingir o fim último não são substancialmente variáveis conforme as circunstâncias dos tempos e dos lugares, porquanto a moralidade, na sua essência, deriva da natureza racional do homem, essencialmente imutável. Entretanto, a política de Machiavelli não está em contraste com uma ética humanista e imanentista, que não tem fins transcendentes e leis morais estáveis.
A doutrina política de Machiavelli todavia, conserva um grande valor também para a concepção transcendente do mundo e da vida, pois o estado, para a concretização dessa concepção transcendente da vida, é indispensável a fim de que o homem realize a sua natureza racional: é ético o estado, embora receba de Deus a sua eticidade transcendente, como de Deus, aliás, dependem todos os valores e todo o ser. Entretanto, o estado, ainda que deva mirar a um ideal superior e imutável, tem que ter os pés sobre a terra, pisar na realidade concreta, variável, histórica. Deve organizar, disciplinar, valorizar os homens efetivamente egoístas e inclinados ao mal. Por isso, deverá ser leão ou raposa - no dizer de Machiavelli; terá de agir com força decidida e com refinada prudência, com base na profunda experiência humana. E, por vezes, será preciso subordinar um princípio moral a outro princípio superior da moral (como, aliás, acontece também na moral individual no caso do assim chamado conflito dos deveres).
Neste sentido conceberá a política o piemontês João Botero (1540-1617) na sua obra Della ragione di stato, de conformidade com o espírito católico e concreto da Contra-Reforma. Nesta obra, por exemplo aconselha ele ao Príncipe ocultar prudentemente suas fraquezas eventuais, para conservar a reputação real; aconselha-o a respeitar plenamente a religião (católica), instrumento precioso, indispensável para tornar politicamente dóceis os homens, inclinados profundamente para o mal; bem como o aconselha a encaminhar para a milícia e para a guerra, a instintiva ferocidade humana.
Fonte:filosofiamordena
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