Em O Príncipe, o pensador italiano promove uma ruptura com a política anterior por escrever sobre o Estado e o governo como realmente são, e não como deveriam ser.
Mais de quatro séculos nos separam da época em que viveu Nicolau Maquiavel, autor de O Príncipe, uma das obras mais controvertidas de que se tem notícia e causa principal dos ataques endereçados ao pensador italiano. Visto como um defensor da imoralidade política, seu nome virou sinônimo de tudo o que envolve falsidade e má-fé, a ponto de o adjetivo “maquiavélico” ser empregado hoje tanto no debate político quanto nas falas do dia-a-dia. Os estudos recentes sobre Maquiavel e sua obra, porém, admitem que as idéias do autor foram historicamente mal interpretadas. Segundo Bernardo Kestring, professor de Filosofia do Curso e Colégio Unificado, é necessário entender as circunstâncias históricas em que o livro foi escrito para melhor compreender a obra.
Maquiavel escreveu O Príncipe em 1513, período do Renascimento na Europa Ocidental. “A Idade Média, que tinha durado mil anos, da queda do Império Romano até o século 15, estava ficando de lado, porque novas forças políticas, idéias filosóficas e pesquisas científicas surgiam”, explica Kestring, lembrando que nessa época Copérnico afirma que o Sol, e não a Terra, é o centro do universo, descoberta que mudou a forma de se encarar o mundo. “A Igreja sustentava que a Terra era o centro do universo e os homens seriam as pessoas que a governariam segundo desígnios divinos. Com o sistema heliocêntrico, vem junto uma nova interpretação do homem. Se Deus não determina, se nós não somos o centro, então nós temos um papel que vai além da obediência cega, sem questionamentos, aos dogmas da Igreja”, diz.
A essas condições vincula-se a situação especial da Itália, pátria do autor. Nessa época, a região estava dividida em ducados e principados, que sofriam, a todo instante, invasões de estados nacionais já constituídos. “Maquiavel percebia que, a exemplo da França e da Espanha, era possível a constituição de um governo central, de uma Itália e de uma Florença unificadas, e não mais divididas internamente e saqueadas por outros países que apresentavam condições estratégicas melhores”, afirma o professor.
Kestring lembra que foi oferecido por Maquiavel a Lorenzo de Medici, então governante de Florença, terra natal do autor e de onde o mesmo havia sido expulso. O professor explica que o livro contém ensinamentos políticos sobre como um príncipe deve governar e que estratégias deve usar para manter o seu Estado. “Uma das teorias, a mais simplória, diz que essa obra é apenas uma estratégia política usada por Maquiavel para reaver o seu cargo político no governo de Florença. Por outro lado, várias teorias confluem para a idéia de que Maquiavel está mesmo preocupado com o futuro governo de Florença e sua unificação”, avalia.
Para alcançar esse fim, o pensador determina a ruptura entre a política e a ética, e transforma a primeira em um conjunto de técnicas de dominação e manipulação completamente desvinculadas de valores morais. “Um dos elementos fundamentais de O Príncipe é o caráter de conquista e manutenção do poder, ou seja, Maquiavel pretende demonstrar que a força é o principal elemento constitutivo do poder, e que o governante deve lançar mão dela para dar forma à lei e garantir a unidade da sociedade. Outro aspecto importante no texto é a dimensão simbólica do poder. Aquele que governa deve fazê-lo, conforme Maquiavel, com apoio do povo, e por isso ele deve cultivar a boa imagem, ainda que seja mais aparência do que realidade”, explica.
Segundo o professor do Unificado, é preciso diferenciar os adjetivos “maquiavélico” e “maquiaveliano”. “Segundo Maquiavel, a moralidade cristã não deve ser a forma de agir da política, que tem outros meios, racionais. O autor defende, sim, o uso da violência, da mentira, da força e da morte, mas visando ao bem público. Por isso, diz-se que o sujeito é maquiavélico quando ele usa da violência ou da mentira. Já o maquiaveliano usa essas estratégias para uma finalidade que nunca é o bem particular”, compara. Kestring sugere que os vestibulandos leiam textos de estudiosos de Maquiavel, como os italianos Norberto Bobbio, Antonio Gramsci e Alessandro Pinzani, e o brasileiro Newton Bignotto, para evitar equívocos na interpretação da obra.
Mais de quatro séculos nos separam da época em que viveu Nicolau Maquiavel, autor de O Príncipe, uma das obras mais controvertidas de que se tem notícia e causa principal dos ataques endereçados ao pensador italiano. Visto como um defensor da imoralidade política, seu nome virou sinônimo de tudo o que envolve falsidade e má-fé, a ponto de o adjetivo “maquiavélico” ser empregado hoje tanto no debate político quanto nas falas do dia-a-dia. Os estudos recentes sobre Maquiavel e sua obra, porém, admitem que as idéias do autor foram historicamente mal interpretadas. Segundo Bernardo Kestring, professor de Filosofia do Curso e Colégio Unificado, é necessário entender as circunstâncias históricas em que o livro foi escrito para melhor compreender a obra.
Maquiavel escreveu O Príncipe em 1513, período do Renascimento na Europa Ocidental. “A Idade Média, que tinha durado mil anos, da queda do Império Romano até o século 15, estava ficando de lado, porque novas forças políticas, idéias filosóficas e pesquisas científicas surgiam”, explica Kestring, lembrando que nessa época Copérnico afirma que o Sol, e não a Terra, é o centro do universo, descoberta que mudou a forma de se encarar o mundo. “A Igreja sustentava que a Terra era o centro do universo e os homens seriam as pessoas que a governariam segundo desígnios divinos. Com o sistema heliocêntrico, vem junto uma nova interpretação do homem. Se Deus não determina, se nós não somos o centro, então nós temos um papel que vai além da obediência cega, sem questionamentos, aos dogmas da Igreja”, diz.
A essas condições vincula-se a situação especial da Itália, pátria do autor. Nessa época, a região estava dividida em ducados e principados, que sofriam, a todo instante, invasões de estados nacionais já constituídos. “Maquiavel percebia que, a exemplo da França e da Espanha, era possível a constituição de um governo central, de uma Itália e de uma Florença unificadas, e não mais divididas internamente e saqueadas por outros países que apresentavam condições estratégicas melhores”, afirma o professor.
Kestring lembra que foi oferecido por Maquiavel a Lorenzo de Medici, então governante de Florença, terra natal do autor e de onde o mesmo havia sido expulso. O professor explica que o livro contém ensinamentos políticos sobre como um príncipe deve governar e que estratégias deve usar para manter o seu Estado. “Uma das teorias, a mais simplória, diz que essa obra é apenas uma estratégia política usada por Maquiavel para reaver o seu cargo político no governo de Florença. Por outro lado, várias teorias confluem para a idéia de que Maquiavel está mesmo preocupado com o futuro governo de Florença e sua unificação”, avalia.
Para alcançar esse fim, o pensador determina a ruptura entre a política e a ética, e transforma a primeira em um conjunto de técnicas de dominação e manipulação completamente desvinculadas de valores morais. “Um dos elementos fundamentais de O Príncipe é o caráter de conquista e manutenção do poder, ou seja, Maquiavel pretende demonstrar que a força é o principal elemento constitutivo do poder, e que o governante deve lançar mão dela para dar forma à lei e garantir a unidade da sociedade. Outro aspecto importante no texto é a dimensão simbólica do poder. Aquele que governa deve fazê-lo, conforme Maquiavel, com apoio do povo, e por isso ele deve cultivar a boa imagem, ainda que seja mais aparência do que realidade”, explica.
Segundo o professor do Unificado, é preciso diferenciar os adjetivos “maquiavélico” e “maquiaveliano”. “Segundo Maquiavel, a moralidade cristã não deve ser a forma de agir da política, que tem outros meios, racionais. O autor defende, sim, o uso da violência, da mentira, da força e da morte, mas visando ao bem público. Por isso, diz-se que o sujeito é maquiavélico quando ele usa da violência ou da mentira. Já o maquiaveliano usa essas estratégias para uma finalidade que nunca é o bem particular”, compara. Kestring sugere que os vestibulandos leiam textos de estudiosos de Maquiavel, como os italianos Norberto Bobbio, Antonio Gramsci e Alessandro Pinzani, e o brasileiro Newton Bignotto, para evitar equívocos na interpretação da obra.
Fonte:Gazeta do Povo
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