quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Mestrinho saiu das páginas de Maquiavel




Feichas Martins
[*]


Não se trata de mero panegírico, mas a morte do ex-governador e ex-senador Gilberto Mestrinho representa grande perda para o Amazonas e para o País, porque ele atuou como cacique maior daquele estado, desde os anos 50 até a atualidade, e como articulador do orçamento federal por três vezes.

Morreu o "boto tucuxi", apelido que Mestrinho recebeu dos eleitores do interior do Amazonas, devido à sua fama de femeeiro, em grande parte estimulada pela sua elegância no vestir e seu jeito característico de falar.

Fumante inveterado, esse pisciano e autêntico amazônida sabia tudo sobre a região onde nasceu e à qual serviu como prefeito de Manaus, governador por três vezes e senador.

Gilberto Mestrinho encarnava o poder de forma duplamente maquiavélica: Sabia ser amado pelo povo, como verdadeiro populista, para governar com o seu consentimento, mas também sabia se fazer temido, agindo implacavelmente contra os seus inimigos, em busca da eficácia que realimentasse sua legitimidade.

Poder-se-ía afirmar a seu respeito que possuía a astúcia e a fortuna políticas e que encarnava "O Príncipe" saindo das páginas do escritor florentino Maquiavel, o fundador do Estado Moderno.

Como verdadeiro "cacique" político, conhecia profundamente os segredos da floresta amazônica, aprendendo com seus cabos eleitorais e ao mesmo tempo repassando aos seus principais aliados regionais e nacionais a idéia de que a Amazônia não poderia permanecer como um santuário intocável, enquanto seu povo ficasse à mercê da miséria e da penúria.

O desenvolvimento auto-sustentável da Amazônia sempre foi visto positivamente por Mestrinho, mas sem adesão aos pensamentos radicais dos ambientalistas. Ideologicamente, Mestrinho confundia seus críticos, mas ele apresentava um perfil de socialista democrático caboclo, pela sua identidade com a floresta e os rios, mais do que um perfil para a esquerda liberal democrática do PMDB, seu partido.

A história política do Amazonas se confunde com a de Gilberto Mestrinho desde a década dos 50, mas ele exerceu forte influência política fora do seu estado, principalmente nas capitais onde há migrantes oriundos da região norte do País, (como Rio de Janeiro e São Paulo), exatamente por ter atuado à frente da Comissão de Orçamento do Congresso Nacional.

Até hoje prevalece certo mistério em torno das razões que levaram Mestrinho a querer e conseguir presidir, por três vezes, a Comissão de Orçamento - um dos cargos políticos mais disputados e para o qual nunca faltam candidatos de igual ou maior peso nacional do que o velho político.


[*] Feichas Martins, articulita colaborador da ABN NEWS, é Jornalista, Mestre em Ciência Política pela UnB, Professor Universitário, Especialista em Planejamento Político-Estratégico e Consultor Político-Eleitoral, membro do Comitê de Ética e Liberdade de Expressão da Associação Brasiliense de Imprensa [ ABI-DF ] e da Federação Nacional da Imprensa [ Fenai ]

Colaborador:Rodney Eloy

Fonte: ABN

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